Comitê científico do AmazonFACE se reúne para delinear os próximos passos

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Durante a atual seca histórica na região amazônica e em paralelo à Semana de Ciência e Tecnologia, reuniu-se em Manaus, na última semana (de 16 a 20 de outubro), o Comitê Diretivo Científico Anual do programa de pesquisa AmazonFACE. Nesse encontro, realizado antes do início da pesquisa em si, o órgão discutiu seu novo plano científico e as áreas de estudo a serem privilegiadas.

Cientistas de diferentes países elaboraram as perguntas científicas a serem respondidas e as metodologias a serem usadas. “Apesar de termos hipóteses, simplesmente não sabemos o que vai acontecer, como e se elas [as plantas] vão se adaptar”, disse Izabela Aleixo, pós-doutoranda do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ao explicar que o rápido aumento na concentração de CO2 é uma condição a que a vegetação dos dias de hoje nunca teve de se adaptar. Para descobrir isso, segundo Aleixo, a única via é a experimental. “O AmazonFACE é um programa dedicado a olhar por uma janela para o futuro e tentar entender o nosso futuro, o que vai acontecer com a Amazônia”, disse Carlos Alberto Quesada, coordenador do programa pelo Inpa.

Além de discutir temas propriamente científicos, também foram abordadas questões administrativas, como o estatuto do projeto, seu código de conduta e seu organograma. Os cinco dias do encontro definiram o novo plano científico do programa, que já mudou, em relação ao plano orginal, de 2014, quanto à divisão das áreas de pesquisa e às perguntas científicas a serem levadas em consideração. Ian Hartley, diretor do comitê científico, conta que “os trabalhos-chave e mais duros são feitos aqui em Manaus, e também em outras universidades pelo Brasil, mas o comitê diretor científico busca apoiar esse trabalho aconselhando e orientando com o que puder”.

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Participaram das reuniões por volta de 70 pessoas envolvidas no projeto 

Houve um jantar de boas-vindas e uma visita ao sítio experimental. Nas palavras de David Lapola, diretor do AmazonFACE pela Unicamp e pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), o objetivo foi atualizar o plano científico. "Primeiro quisemos inspirar as pessoas, trazendo-as aqui para ver o experimento”. As discussões iniciaram-se no dia 18 com uma cerimônia de transferência de posse das torres do Met Office (Serviço Nacional de Meteorologia do Reino Unido), representado por Joe Davies, gerente de diplomacia climática do órgão, para o Inpa, representado por Marina Anciães, diretora de pesquisa do instituto. O Inpa sedia o programa e financiou a construção das primeiras torres. “Esse é um gesto oficial que consolida um pouco mais a soberania nacional na pesquisa sobre a Amazônia”, comentou Marko Monteiro, professor do Instituto de Geociências da Unicamp e líder da área de pesquisa socioambiental.

Osvaldo Moraes, diretor do Departamento para o Clima e a Sustentabilidade da Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também esteve presente no evento. Nessa oportunidade, o comitê pôde conhecer os dois primeiros anéis de torres construídos e vê-los de cima de um guindaste de 45 metros de altura, que serve também como ferramenta de pesquisa e não apenas para a construção dos anéis. “Ciência não é feita por cabeça certinha”, disse Moraes ao falar sobre como nasceu a ideia do AmazonFACE. “Tem que ter pensamento revolucionário para pensar ciência revolucionária”, completou Moraes.

O gás carbônico a ser liberado nos anéis ainda não conta com financiamento. Há material apenas para a fase de testes. E outro lado, toda a estrutura a ser usada no experimento está garantida. “O custo de gás carbônico é difícil de ser estimado agora, mas serão dezenas de milhões de reais, podendo chegar a centenas”, disse Bruno Takeshi, gerente operacional e gerente de projetos.

“O processo de armazenamento de carbono é um processo lento e por isso precisamos de dez anos de experimento para ver alguma mudança significativa,” disse Lapola. “Nós buscamos, agora, parceiros que nos ajudem a garantir o suprimento de CO2 por dez anos”, afirmou Andy Wiltshire, líder de ciência terrestre e de mitigação do Met Office. “Temos de garantir o benefício dessa ciência para todos aqui no Brasil, benefício esse que, na verdade, será vantajoso para o mundo todo”, completou.

Participaram das reuniões por volta de 70 pessoas, entre membros do comitê científico, doutorandos, pós-doutorandos, pesquisadores colaboradores, conselheiros e representantes dos financiadores do projeto (Financiadora de Estudos e Projetos, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e Met Office), da fundação que gerencia os recursos recebidos pelo governo britânico, Fundação Aurthur Bernardes (Funarbe), do Inpa e da Unicamp.

Davi Lapola e Quesada
Davi Lapola David Lapola, diretor do AmazonFACE pela Unicamp e pesquisador do Cepagri (à esquerda) e Carlos Alberto Quesada, coordenador do programa pelo Inpa: olhar para o futuro 

Experimento 

O AmazonFACE, um experimento envolvendo o aumento da concentração de CO2 em uma área de floresta, é único no mundo. Esse esforço, idealizado há 12 anos, promete criar um grande laboratório a céu aberto, como dizem os cientistas envolvidos. Com um financiamento britânico de 7 milhões de libras (aproximadamente R$ 42 milhões), no fim de 2022, foi possível iniciar a construção dos primeiros anéis necessários para a realização do estudo. No total serão seis anéis. A montagem dos demais e de um alojamento para os cientistas conseguiu viabilizar-se graças a um financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação no valor de R$ 32 milhões e obtido por meio da Finep.

A combinação do experimento na floresta com o uso de modelos matemáticos (modelos ecossistêmicos) promete trazer respostas-chave para entender o futuro da Floresta Amazônica em meio às mudanças climáticas. Pela primeira vez, a tecnologia FACE (free-air CO2 enrichment, aumento da concetração de gás carbônico em um espaço aberto) é aplicada em uma floresta tropical hiperdiversa como a Amazônia, algo citado por especialistas da área como necessário desde os anos 90.

Para entender como a floresta responderá ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera foram projetadas torres de 35 metros de altura, que ultrapassam a copa das árvores. No total, haverá 16 torres dispostas dentro de círculos de 30 metros de diâmetro e uma torre central, na qual estarão os sensores. Em cada plot (“lote” em inglês), haverá um guindaste de 45 metros de altura.

O experimento completo consiste em seis plots. Em três deles, ocorrerá a liberação de ar enriquecido com CO2. Os outros três servirão como controle. Além dos dados a serem coletados durante o experimento, serão usados os dados coletados em 2015, nas mesmas áreas. Os cientistas também desenvolveram um tipo de algoritmo, um modelo ecossistêmico chamado Caetê, para prever melhor o futuro da floresta Amazônica.

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Assista ao vídeo sobre montagem das torres: 

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Imagem de um plot com torres e guindaste

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