Estudos demonstram que o investimento público na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) retorna multiplicado para a sociedade. Um dos exemplos mais tangíveis a comprovar a premissa está nas startups criadas a partir de projetos desenvolvidos na instituição.
Em 2019, o impacto total no Produto Interno Bruto (PIB) das empresas-filhas da Unicamp foi 3,07 vezes o total de recursos do Tesouro do Estado de São Paulo utilizado pela universidade só naquele ano. E o faturamento das empresas foi de R$ 7,9 bilhões, trazendo um impacto de R$ 7,4 bilhões para o PIB do país, dos quais 91,7% (R$ 6,8 bilhões) ficaram no Estado paulista. Em termos agregados, o estudo mostrou que cada R$ 1 de receita dessas empresas gera R$ 0,94 de riqueza para o país e cada dez empregos diretos das empresas-filhas da Unicamp resultam em 19 empregos no Brasil.
Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o mapeamento de egressos de cursos da área da saúde constatou presença relevante de profissionais de nível superior distribuídos em todo o Estado de São Paulo, contribuindo para uma melhor qualidade de vida para a população paulista.
Na Universidade de São Paulo (USP), uma série de ações importantes sobre diversidade e inclusão está sendo tomada também como uma resposta às demandas da sociedade. No entanto, no que se refere a acesso, permanência e progressão da carreira das mulheres, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, por exemplo, dos 130 professores, apenas 23 são mulheres.
Os três casos relatados, que exemplificam modelos de avaliação interna adotados nas universidades paulistas, estão descritos no livro Repensar a Universidade III: Saberes e Práticas, lançado na última quinta-feira (26/10) durante o 5º Fórum “Desempenho acadêmico e comparações internacionais”, realizado na FAPESP. Trata-se da terceira obra produzida no âmbito do Projeto Métricas, iniciativa coordenada pelo ex-reitor da USP Jacques Marcovitch e que tem como um de seus principais objetivos buscar formas abrangentes de medir o impacto gerado pelas universidades.
Trata-se do terceiro livro de uma série “dedicada à governança universitária”, resumiu Marcovitch. A publicação tem como público-alvo os responsáveis pelas instituições acadêmicas – reitores, pró-reitores, diretores de departamentos e de unidades, entre outros – e o objetivo de “oferecer uma leitura dos desafios apresentados às universidades em ambiente de transformação e analisar as soluções para enfrentá-los”, afirmou.
Esses “desafios” estão divididos em áreas temáticas, do impacto socioeconômico das universidades até o seu planejamento e avaliação responsáveis, passando por ações inclusivas, governança, ciência aberta e diálogos com o entorno. São, ao todo, 16 capítulos assinados por mais de 40 especialistas.
“Repensar uma universidade não é algo trivial. Implica revisitar os fundamentos da gestão acadêmica e identificar quais de seus aspectos requerem aperfeiçoamentos. Repensa-se uma instituição, antes de tudo, com respeito. É necessário ter em mente que muitas de suas práticas nasceram da experiência de bons gestores em sintonia com os meios disponíveis na época em que foram iniciadas. Por isso, todo nosso trabalho se apoia no princípio da curadoria do conhecimento construído e da sua atualização”, disse Marcovitch na introdução do livro.
"O projeto representa uma inovação substancial na avaliação de resultados de pesquisa e desempenho das universidades, incluindo suas múltiplas responsabilidades. As universidades e pesquisadores merecem o reconhecimento da FAPESP porque deram forma e densidade a um projeto de conteúdo acadêmico pioneiro", afirmou durante o evento Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, que também é ex-reitor da USP e assina a apresentação da obra.
Também presente no lançamento do livro, o secretário estadual da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, destacou em sua fala que a obra discute “tópicos fundamentais” para o meio acadêmico. “Neste terceiro volume, já estamos vislumbrando o impacto socioeconômico nas universidades, a inclusão e a governança. Essa ampliação transformou esse projeto numa iniciativa importante para a academia”, pontuou Agopyan, que também é ex-reitor da USP.
Ciência da ciência, pesquisa da pesquisa
O Projeto Métricas propõe que a avaliação das universidades ultrapasse os índices quantitativos de publicações e citações – os rankings universitários internacionais – e mire em algo mais abrangente, representado por um conjunto de indicadores que considere não só a pesquisa, o ensino, a extensão e a cultura, mas, sobretudo, o impacto benéfico das universidades na sociedade.
Dessa forma, a comunidade de pesquisadores criada no âmbito do Métricas está desenvolvendo metodologias, indicadores e reflexões que, a partir da gestão de dados, olhem para dentro das universidades, identificando pontos fortes ou que precisam ser melhorados e traçando prioridades.
"O Projeto Métricas surgiu num momento em que os rankings se multiplicavam, selecionando alguns indicadores para ranquear as universidades. Mas eles transformaram a avaliação e a comparação das universidades em uma coisa mecânica. É uma espécie de olimpíada das universidades. Este projeto, que se iniciou ligado ao conselho de reitores, já nasceu coletivo, compartilhado, tendo como proposta ser um instrumento de gestão e não de competição. Dentro dele, a disputa e superação dos concorrentes foram substituídas pela compreensão dos significados dos diferentes indicadores e de que forma cada um deles contribui para a execução. Passou a ser um instrumento de planejamento e gestão", conta Zago.
O Projeto Métricas não prega que os rankings sejam desconsiderados, muito pelo contrário, pois, de acordo com Marcovitch, são boas ferramentas de autocomparação. As três universidades estaduais paulistas, inclusive, estão conquistando destaque nesses rankings. Recentemente, USP, Unicamp e Unesp apareceram entre as dez melhores no ranking QS das melhores universidades da América Latina e do Caribe [QS University Ranking Latin America & The Caribbean].
Marcovitch contou, durante o evento de lançamento do livro, que a coordenação do projeto recebeu um questionamento do Tribunal de Contas da União sobre o motivo de as três universidades estaduais paulistas figurarem entre as melhores do país e da América Latina entre os rankings internacionais de avaliação e desempenho universitário.
"Nossa resposta foi igualmente compacta, reproduzimos os sete parâmetros que orientam o nosso trabalho: 1) autonomia de gestão e previsibilidade financeira das universidades; 2) áreas específicas de excelência internacional com colaborações entre universidades; 3) vínculos fortes e duradouros com universidades internacionais, empresas e organizações da sociedade; 4) FAPESP como fonte de financiamento competitivo e com previsibilidade de receita; 5) ambiência que valoriza o ensino superior e a pesquisa ampliando conexões; 6) propósito de avançar em colaborações nas fronteiras do conhecimento; e 7) gestão de dados e pesquisa institucional para melhorar o desempenho acadêmico", finalizou Marcovitch.
Também participaram do evento os seguintes coautores do livro: Raiane Assumpção (Unifesp), Dulce Helena S. Silva (Unesp), Mariano F. Laplane (Unicamp), Giovanna de Moura Rocha Lima (Erasmus University Rotterdam, Países Baixos), Luciana Francisco Fleuri (Unesp), Jéxio Hernani B. Gutierre (Unesp), Peter A. Schulz (Unicamp), Marisa Masumi Beppu (Unicamp), Nina Ranieri (USP), Luiz Nunes de Oliveira (USP), Sávio M. Cavalcante (Unicamp), Ana Paula Palazi (Unicamp), Ney Lemke (Unesp), Fátima Nunes (USP), Milena P. Serafim (Unicamp) e Sérgio Salles-Filho (Unicamp).
Leia matéria na íntegra publicada no site da Agência Fapesp.