Com duas missões em mente, especialistas da Unicamp participam da COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que acontece até o dia 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. As missões: aprender a dinâmica do encontro para preparar uma participação robusta em 2025 – quando acontece a COP30, em Belém do Pará – e contribuir para a construção de uma aliança entre as instituições de pesquisa paulistas que estudam as mudanças climáticas.
Esta é a primeira vez que a Unicamp conta com uma representação oficial na conferência, que reúne representantes de cerca de 200 países, além de instituições de pesquisa, universidades e organizações da sociedade civil, para discutir os efeitos do aquecimento global e formas de combatê-los. A delegação é composta por cinco integrantes, todos envolvidos com a temática.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de março deste ano, fez um alerta ao mundo sobre a possibilidade de tragédias relacionadas ao clima se medidas urgentes de redução de emissões de gases do efeito estufa não forem adotadas já.
A Unicamp participa do evento ao lado de representantes da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Para o reitor Antonio José de Almeida Meirelles, o envio, pela primeira vez, de uma delegação da Unicamp à COP reforça o compromisso da gestão em inserir a agenda da sustentabilidade em todas as frentes de atuação da Universidade. “Pretendemos, a partir dessa primeira experiência, que a Unicamp esteja presente nos principais fóruns internacionais de discussão sobre a emergência climática”, disse ele.
“Para além das iniciativas institucionais e dos grandes projetos de pesquisa já conduzidos sob a liderança da Unicamp, estamos trabalhando com nossas coirmãs, a USP e a Unesp, no planejamento de ações conjuntas que visem à mitigação dos múltiplos efeitos deletérios do aquecimento global, colocando essa questão no centro do debate nas três universidades estaduais paulistas”, acrescentou o reitor.
O professor Roberto Donato, assessor docente do Gabinete do Reitor, diz que a atual administração vem atuando no sentido de integrar internamente as ações de sustentabilidade – no âmbito administrativo e nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, a gestão tem trabalhado para fortalecer a presença da Universidade em arenas e debates internacionais relacionados à questão da emergência climática.
E é nesse contexto, segundo ele, que surge essa primeira delegação oficial da Unicamp na COP – composta por membros do Gabinete do Reitor, da Comissão Assessora de Mudança Ecológica e Justiça Ambiental (Cameja), do HUB Internacional de Desenvolvimento Sustentável (HIDS) e da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (Depi) – órgãos da Universidade diretamente envolvidos nas questões de sustentabilidade.
“Esse grupo tem o compromisso e a responsabilidade de buscar entender o papel da ciência, da tecnologia e das universidades no contexto da COP e preparar uma ação forte da Unicamp na COP30, que vai ser aqui no Brasil”, explica Donato. “Essa, de agora, é uma delegação preparatória”, resume.
Donato diz que a missão tem, também, a finalidade de construir uma frente de instituições de pesquisa sobre mudanças climáticas. “O que a gente quer é ajudar o Estado de São Paulo a promover uma coalizão, digamos, tecnológica e científica, de união das instituições de pesquisa paulistas”, antecipa.
O coordenador da equipe de implantação do HIDS, Mariano Laplane, lembrou que os estudos relacionados à criação do hub internacional têm possibilitado reflexões sobre os modelos de uso e ocupação do solo passíveis de serem adotados a fim de reduzir o impacto de nossas atividades e, ao mesmo tempo, incentivar e viabilizar a realização de pesquisas e atividades interdisciplinares e interinstitucionais capazes de gerar respostas aos imensos desafios impostos pela emergência climática e pelo desenvolvimento sustentável.
“A participação da Unicamp na COP28 e as oportunidades de compartilhamento e troca de experiências com diferentes atores abrem caminho para ampliar ações colaborativas que devem ajudar a cumprir a missão imaginada para o HIDS: construir uma estrutura que combina e articula ações, por meio de parcerias entre instituições que possuem competências e interesses voltados a prover contribuições concretas para o desenvolvimento sustentável de forma ampla”, avalia Laplane.
Interação com outras universidades
A professora Sônia Seixas, da presidência da Cameja, disse que a comissão está bastante interessada na interação com outras universidades, em especial as latino-americanas que desenvolvem pesquisas relacionadas à questão climática.
“A nossa ideia – e nós estamos bastante entusiasmados com isso – é a possibilidade de ampliar a interação com esses grupos, com pesquisadores, para que a gente possa estabelecer parcerias substantivas, inclusive com ações colaborativas no futuro”, diz a professora.
Segundo ela, o Brasil é um país central nas discussões sobre o clima no mundo e, por isso, as universidades podem desempenhar um papel importante na construção de uma política nacional de enfrentamento à mudança climática. “Nós temos grandes cientistas. Temos uma tradição. A Unicamp tem uma tradição nessa temática”, garante ela.
Seixas avalia que o país se encontra hoje em um momento propício para desempenhar esse papel. “Estamos em um momento privilegiado, porque a gente superou o negacionismo e a ideia de que a mudança climática é uma bobagem, que não existe, que é invenção. Não é uma invenção, não. É algo que está posto. Quem acompanha os relatórios do IPCC desde os anos 1990, sabe da importância da ciência ao mostrar que nós não dispomos de outra alternativa que não fazer a nossa parte enquanto sociedade civil, enquanto indivíduo, enquanto universidade. Para mim, esse é o grande desafio a ser enfrentado”, finaliza.
AmazonFace
Especialista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, o professor David Lapola vai à COP na condição de coordenador científico de um dos mais importantes trabalhos sobre o comportamento da floresta amazônica – considerada a maior floresta tropical do mundo. Chamado de AmazonFace, o projeto quer compreender como o bioma vai reagir – em 30 ou 50 anos – em relação ao aumento de CO2 na atmosfera.
O teste vai avaliar se o chamado “efeito de fertilização por CO2” existe e o quanto é duradouro. Os pesquisadores vão monitorar a resposta das folhas, das raízes, do solo e do ciclo da água e dos nutrientes da floresta. Dependendo da resposta, vão poder concluir se a floresta estará de pé em 2050 ou se caminha para se transformar em um similar das áreas de savana.
O AmazonFace é um programa de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Coordenado pelos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Unicamp, o programa conta com a cooperação do governo britânico por meio do Ministério das Relações Exteriores, da Commonwealth e do Desenvolvimento do Reino Unido (FCDO, na sigla em inglês) e por meio do Met Office – o serviço de meteorologia daquele país.
“Como uma universidade de ponta no ensino, na pesquisa e na inovação – e esse problema das mudanças climáticas é um problema que demanda muita ciência, muita educação, muita inovação –, é muito bom que a Unicamp esteja fazendo agora uma participação institucional. E tomara que continue assim”, disse Lapola.
“Um dos nossos objetivos nessa missão, aliás, é aprofundar a participação da Unicamp junto a outras universidades paulistas, visando a uma participação fortalecida na COP30, em Belém”, contou o professor.
Pavilhão COP/Universidades
A arquiteta e urbanista Thalita Dalbelo, coordenadora de Sustentabilidade da Depi, avalia que a participação da Unicamp na COP28 indica como a Universidade está encarando o desafio das mudanças climáticas.
“Para mim, significa que se trata de uma preocupação institucional trazer para a Universidade a questão da sustentabilidade como um aspecto prioritário de gestão”, disse Dalbelo.
A coordenadora conta que este será o primeiro ano em que a Unicamp vai participar do Pavilhão COP/Universidades. “Vamos focados nas soluções que podemos aprender para aplicar em pesquisas e testar aqui. É como se a Unicamp pudesse ser um laboratório vivo”, diz a coordenadora. “Nosso objetivo é levar o que estamos fazendo aqui e trazer o que eles estão fazendo lá, sempre pensando na COP30”, finaliza.
O tema da COP deste ano é a transição energética voltada para a emergência climática: como fazer a transição para uma energia mais sustentável.