Teve início nesta quarta-feira (6), na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), a edição 2023 da conferência Energy Informatics.Academy (EI.A 2023). O evento é uma realização da Energy Informatics.Academy, associação que reúne pesquisadores de todo o mundo dedicados a estudos relacionados à aplicação de tecnologias digitais e de informação à gestão energética. Esta é a primeira vez que a conferência é realizada no Brasil e o evento recebeu o apoio da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU, na sigla em inglês) e da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU, na sigla em inglês), do Instituto Superior de Engenharia do Porto (Isep), de Portugal, e da Editora Springer.
A abertura da conferência contou com a presença do reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, do pró-reitor de Pesquisa, João Marcos Romano, do diretor da Feec, Hugo Figueiroa, e de Luiz Carlos Silva, diretor do Projeto Campus Sustentável e do Centro Paulista de Estudos da Transição Energética (CPTEn), unidades que encabeçam os programas e pesquisas voltados à gestão e eficiência energética na Universidade. Participaram ainda Bo Nørregaard Jørgensen e Zheng Grace Ma, membros da organização da Universidade do Sul da Dinamarca.
Nesta edição, a EI.A 2023 contará com oito conferências temáticas e apresentações de 42 trabalhos, envolvendo 193 participantes de 22 países. “É uma grande conquista para nós termos despertado o interesse em pessoas de tantas regiões”, destacou Jørgensen, que agradeceu a Unicamp por ter aceitado receber conferência.
Entre os temas discutidos ao longo dos três dias, estão pesquisas que promovem o diálogo de áreas como big data e análise de dados, inteligência artificial, internet das coisas, modelagem, desenvolvimento de softwares, cibersegurança, cidades e indústrias inteligentes, economia e mercado, redes inteligentes, entre outros. No caso da Unicamp, os organizadores destacam as discussões em torno dos desafios da transição energética. “A EI.A tem sido catalisadora de novas discussões, promovendo colaborações e trocas de ideias que transcendem as fronteiras disciplinares”, pontuou o diretor da Feec. Para o pró-reitor de Pesquisa, a Universidade tem um papel central no cenário contemporâneo desse e de outros temas. “A transição energética dialoga com várias outras áreas estratégias às quais a Unicamp se dedica, como a sustentabilidade e a inteligência artificial”, apontou Romano.
“Direcionar a aplicação das tecnologias digitais e do gerenciamento de informações para a transição energética nos coloca um passo à frente na direção certa para o futuro”, ressaltou Meirelles. De acordo com ele, a Unicamp é uma instituição comprometida com a formação de cidadãos capazes de enfrentar os desafios da transição energética. “Tenho a certeza de que o Brasil é um país com as melhores oportunidades para desenvolver uma economia sustentável e a Unicamp é um dos melhores lugares para enfrentarmos esses desafios.”
Matriz sustentável
As palestras de abertura da EI.A 2023 ofereceram um panorama sobre o cenário energético no Brasil e os desafios para o futuro. Uma delas, apresentada por Silva, abordou o trabalho desenvolvido pela Unicamp na busca por eficiência energética. A outra palestra coube a Paulo Luciano de Carvalho, secretário de Inovação e Transição Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Atualmente, uma parte expressiva da matriz energética brasileira vem de fontes renováveis e livres de carbono, como a hidrelétrica, que corresponde a 49,9% do total, a fotovoltaica, que aparece com 15,8% da matriz, a eólica, com 12,2%, e a de biomassa e gás natural, com 7,7%. “Somadas, essas fontes totalizam cerca de 80% da matriz. Assim, no que diz respeito à transição energética, já temos uma matriz descarbonizada, o que é uma vantagem”, destacou o diretor do CPTEn.
O docente explicou que, apesar de o país ter tradição no desenvolvimento das fontes renováveis, existe a necessidade de superar o paradigma de basear a geração de energia em grandes projetos, como é o caso da hidrelétrica de Itaipu. Apesar de uma fonte livre de carbono, Itaipu, por ter dimensões colossais , gera outros impactos ambientais e sociais. “Nos últimos 20 anos, houve um movimento de incentivo à geração de energia em menor escala, baseada em plantas menores de energia solar, eólica e de biomassa. Trata-se de um novo paradigma”, detalhou.
Com base nesse cenário, a Unicamp desenvolve projetos voltados à aplicação de políticas e tecnologias que ampliem a eficiência energética de seus campi. A gestão dos projetos, como a instalação de painéis solares em edifícios e a substituição de lâmpadas e equipamentos, além de outras ações, centra-se no projeto Campus Sustentável, criado em 2017. “Tudo o que vemos ser necessário lá fora tentamos implementar aqui no campus”, sintetiza, destacando também a formação de profissionais para desenvolver as tecnologias e os projetos para o futuro, entre os quais o uso de áreas do futuro HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) para a aplicação agrovoltaica, que combina o cultivo de alimentos com a geração de energia.
Na avaliação de Carvalho, as ações desenvolvidas pela Unicamp vão ao encontro das políticas incentivadas pela Aneel. O órgão é responsável pela regulação do setor no país e, atualmente, incentiva projetos que visem à modernização do sistema elétrico, a digitalização do setor e a incorporação de novas tecnologias digitais, como o uso de inteligência artificial e a formação de redes inteligentes. “Nessa questão, a proximidade com as universidades e com os temas discutidos aqui na conferência é muito importante para nós”, avaliou.
Carvalho também destacou os investimentos realizados pelo órgão. “Hoje, a Aneel desenvolve 66 projetos, com investimentos de cerca de US$ 80 milhões em todas as etapas da geração de energia”, detalhou. Segundo o secretário, um dos objetivos dos projetos é promover a participação efetiva da academia na busca por novas tecnologias.
As atividades da EI.A 2023 vão até esta sexta-feira (8).
Acesse a programação completa e o link para os trabalhos apresentados.