A Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp entregou 50 exemplares do livro contendo as melhores redações selecionadas do Vestibular Unicamp e do Vestibular Indígena 2023 para representantes da educação básica de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O município integra a lista de cidades que recebem a prova do Vestibular Indígena, realizado de forma unificada pela Universidade e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Esta é a primeira vez que o livro, publicado pela Editora da Unicamp em parceria com a Comvest, traz textos de estudantes indígenas e, de acordo com a Comvest, a cidade foi escolhida para a entrega por um motivo simbólico, já que registrou o maior número de inscritos para ingresso neste ano, 1.434 candidatos do total de 3.350 inscritos no Vestibular Indígena 2024.
O evento ocorreu na sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e, além da participação de professores e gestores de escolas, contou também com a presença de estudantes da região que farão o Vestibular Indígena, além de alunos da Unicamp originários da região e que compareceram para falar sobre a importância da publicação como uma forma de incentivo aos jovens interessados em ingressar na Unicamp e na UFSCar.
Flavio Pereira Ferraz, professor de educação básica em São Gabriel da Cachoeira, foi um dos educadores a receber em mãos os exemplares do livro com as redações selecionadas. Na opinião de Ferraz, o livro aponta para a importância de incentivar os estudantes indígenas a escreverem na medida em que a escrita textual indígena deve ser sistematizada, tanto quanto a oralidade ou outras formas de escrita indígena. “A escrita para nós, povos indígenas, sempre existiu, do nosso modo, com grafismos por exemplo, mas essa escrita acadêmica vem fortalecer a presença indígena na universidade. Por isso, essa iniciativa é valorosa, serve como uma forma de o pensar acadêmico indígena ganhar força nas universidades, o que nos coloca em uma posição desde a qual temos condições de escrever bem e de produzir bons textos acadêmicos”, afirmou o educador.
Segundo a coordenadora acadêmica da Comvest, Márcia Mendonça, a publicação permite ao público em geral dar-se conta da qualidade dos textos produzidos pelos candidatos e candidatas de 2023. “Mais do que uma vitrine de bons textos, temos uma coleção preciosa: de diferentes modos de atender a uma proposta de escrita, por meio de vozes vindas de todos os cantos do Brasil, algumas das quais estarão presentes na universidade nos próximos anos. Esperamos que o livro auxilie professores e estudantes na preparação para os desafios da prova, ao apresentar possibilidades de escrita. Também desejamos que seja conhecido pelas comunidades que apoiam, ao longo dos anos, esses estudantes, alicerce fundamental para a vida acadêmica”, disse.
O estudante Sebastian Cruz Torres, candidato ao curso de Engenharia da Computação na Unicamp pelo Vestibular Indígena 2024, prestigiou o evento de lançamento do livro e falou sobre suas expectativas. “Eu gosto muito da minha cidade, porém não tenho muitas oportunidades para me desenvolver academicamente por aqui. Então, estou buscando oportunidades fora daqui, mas sempre pensando que, futuramente, eu poderei retornar e ajudar minha própria região”, afirmou.
A iniciativa de incluir, pela primeira vez na publicação, textos oriundos do Vestibular Indígena significa, de acordo com a Comvest, valorizar a produção textual em suas várias categorias de avaliação. “Esses saberes são exigidos de todos os estudantes que ingressam na Unicamp, ainda que a partir de diferentes modelos. O Vestibular sempre esteve atento às demandas e pautas contemporâneas que envolvem a maneira de se posicionar dos povos indígenas sobre suas realidades, e o livro, nesse novo modelo, significa um grande avanço”, afirmou José Alves de Freitas Neto, diretor da Comvest.
Melvino Fontes, chefe do departamento de Educação e Patrimônio Cultural da Foirn, afirmou durante sua fala no evento que o livro dá visibilidade ao trabalho desenvolvido pelos estudantes na Unicamp.
“Vejo isso como mais uma oportunidade de incentivar nossos jovens a ingressar na universidade. Ficamos agradecidos pela parceria e pela Unicamp estar em nosso território, mostrando o trabalho que vem desenvolvendo junto a nossos estudantes indígenas. Esperamos que a parceria se fortaleça pelo bem viver dos povos indígenas e comunidades tradicionais, principalmente aqueles que vivem no interior”, disse Fontes.
A prova do Vestibular Indígena 2024 será realizada no dia 14 de janeiro, em seis cidades do país: Campinas (SP), Campo Grande (MS), Recife (PE), Santarém (PA), São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tabatinga (AM).
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