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Paulo Renato Souza dá nome à sala do Consu

Sofrendo de crise de diverticulite na festa dos seus 80 anos, no dia 18 de junho, Fernando Henrique Cardoso não pôde comer o doce de figo que Paulo Renato Souza achava delicioso e lhe trouxe de Madrid, como havia prometido; a iguaria foi então guardada para que ambos a saboreassem quando a crise passasse. “E não é que ele morreu?”, lamentou o ex-presidente da República, ao final de um depoimento em tom bastante pessoal, durante homenagem à memória do seu ministro da Educação e ex-reitor da Unicamp, que faleceu inesperadamente na semana seguinte àquele encontro.

A cerimônia do último dia 25 foi para nomear a sala de reuniões do Conselho Universitário “Prof. Dr. Paulo Renato Costa Souza”. Economista de formação, o homenageado ocupou posições de destaque nas áreas pública e acadêmica, bem como em organismos multilaterais. Foi deputado federal (2006-2011), ministro da Educação (1995-2002), secretário de Educação do Estado de São Paulo em duas ocasiões (1984-1986 e 2009-2010), gerente de Operações do BID em Washington (1991-1994) e reitor da Unicamp (1986-1990), onde lecionou durante os anos 80.

Fernando Henrique Cardoso conheceu Paulo Renato Souza no Chile, quando o amigo servia à Organização Internacional do Trabalho (OIT) como diretor-associado do Programa Regional do Emprego para a América Latina e o Caribe. “Ele tinha enorme conhecimento em estatísticas do trabalho, mas sua característica principal foi a inovação. Inovação requer imaginação, e também requer coragem e competência, porque precisa ser implementada. Paulo escreveu um livro, A Reforma Gerenciada, título que resume a sua marca”, lembrou o presidente.

Cardoso recordou ainda que Paulo Renato, por seu bom desempenho no governo Montoro e na Reitoria da Unicamp, foi um dos articuladores da sua primeira candidatura à Presidência, em 1994, demonstrando grande energia e habilidade em reunir as pessoas, comandando sem rispidez. “Ele estava destinado a ser ministro do Planejamento, que se tornou basicamente ministério do Orçamento e depende de capacidade de negociação com o Congresso. Mas já tínhamos conseguido o Plano Real e as outras duas áreas importantes do governo eram a Educação e a Saúde. Paulo foi para a Educação.”

Para Fernando Henrique Cardoso, o papel de um presidente da República, no fundo, é dirimir conflitos, pois a ele só chega o que não foi resolvido antes. “Como dizia Hélio Beltrão, ministro do governo militar, chega um momento em que ‘tudo o que se quer é um copo de uísque e um puxa-saco’. Eu tinha uma relação pessoal com Paulo, que ia com frequência ao Palácio da Alvorada e não era puxa-saco, mas uma excelente companhia”, revelou. “O único meio de conviver com a falta, é a memória. Senti que ele está aqui. O lado cruel é que não posso ouvi-lo, mas posso ter o consolo de que continua na nossa memória.”

Legado à educação

Maria Helena de Castro, professora da Unicamp, trabalhou com Paulo Renato Souza por oito anos no Ministério da Educação e falou sobre seu legado para a educação brasileira. “Desde seu falecimento precoce, observamos uma série de reflexões em artigos que têm procurado resgatar esse legado. Sua gestão no Ministério representou uma guinada extraordinária na política educacional do país e deu início a um processo de mudanças estruturais muitos significativas nos últimos quinze anos. A atuação da gestão de Fernando Henrique Cardoso produziu uma ruptura concreta com práticas anteriores.”

Renato Costa Souza, filho do homenageado, recordou que o pai era um consultor em empregos e salários que acabou se tornando um bom gestor em educação. “Como presidente da Adunicamp, ele foi chamado por Montoro para ser secretário da Educação aos 39 anos, experiência precoce que o qualificou para tornar-se reitor de 86 a 90. Minha tese é que foi na Unicamp que se deu a transformação de técnico administrativo em bom gestor educacional. Meu pai costumava dizer que a Unicamp foi seu trabalho mais difícil e complexo, que o MEC era fichinha.”

Na opinião do reitor Fernando Costa, ao longo das últimas décadas, as três universidades públicas paulistas conseguiram ampliar significativamente os seus indicadores de produtividade acadêmica, e muito disso se deve à atuação de Paulo Renato Souza. No âmbito da Unicamp, o reitor destacou a participação destacada do ex-colega na institucionalização da Universidade. “Ele iniciou ampla reforma institucional, que incluiu a criação do Conselho Universitário e das Pró-Reitorias de Graduação, Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Desenvolvimento Universitário. E inaugurou, durante sua gestão, o Hospital das Clínicas

Em seu pronunciamento, Fernando Costa também destacou a atuação marcante do ex-ministro no processo que levou à autonomia financeira e de gestão da Unicamp, USP e Unesp. “Destaco ainda a integridade, dedicação e espírito democrático que caracterizavam o professor Paulo Renato como membro da comunidade acadêmica e homem público de expressão nacional. É com respeito e admiração, portanto, que a Unicamp vem referendar a sua memória, entendendo essa homenagem como um ato de justiça ao trabalho desse destacado brasileiro e, acima de tudo, um agradecimento à sua devoção à Unicamp e ao seu incansável trabalho pela educação no país.” (Luiz Sugimoto)



 
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