|

Aferição da pressão arterial é
problema entre enfermeiros
Testes revelam que funcionários
de três hospitais de
Campinas desconhecem métodos do procedimento
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
A
aferição da pressão arterial é um procedimento simples, mas
fundamental para os pacientes críticos internados em Unidade
de Terapia Intensiva (UTI). “De tão simples, a questão pode
não estar sendo tratada com o cuidado necessário”, comenta
a enfermeira Taciana da Costa Farias Almeida. Ela tem razões
para fazer esta afirmação, pois em testes feitos com 54 enfermeiros
que atuam em UTI adulto em três hospitais do município de
Campinas, a nota média de acertos foi 4,6. Ou seja, de 40
questões de múltipla escolha sobre os três métodos de aferição
da Pressão Arterial – auscultatório, oscilométrico e canulação
arterial – disponíveis e realizados em UTI adulto, os profissionais
de saúde acertaram, em média, entre 18 e 19 questões.
“Em minha opinião, os resultados
foram alarmantes e revelaram lacunas no conhecimento dos enfermeiros,
as quais precisam ser revistas. Se considerarmos que a média
de aprovação em cursos superiores em instituições de ensino
é 5, muitos seriam reprovados no quesito medida da pressão
arterial (PA). Trata-se de um problema grave em UTI, visto
que os valores detectados com a medida da PA são essenciais
para o monitoramento e tomada de condutas diante do paciente
grave”, alerta. Para a enfermeira, é preciso discutir a questão
de formação continuada destes profissionais que estão à frente
de equipes de saúde, orientando-os nesta prática de forma
rápida e segura.
Taciana Almeida há cinco
anos desenvolve suas atividades em uma UTI. Ela apresentou
dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM),
sob orientação do professor José Luiz Tatagiba Lamas.
A maior taxa de erros, segundo
apontou o estudo, concentrou-se no domínio métodos de aferição
indiretos, o esfigmomanometria (manguito) e o oscilométrico
ou automático. Estes métodos são os realizados com mais frequência
no dia a dia das instituições de saúde e os mais estudados
durante o curso de graduação em Enfermagem. Apenas 7,8% dos
voluntários obtiveram percentual de acertos igual a 60%. Já
com relação ao conhecimento sobre medida direta da PA, 75%
atingiram o percentual de acertos acima de 50%.
“De certa forma, este último
resultado era esperado, visto que constitui um método mais
complexo e específico de UTI, mas não é o ideal. A medida
é realizada através da canulação arterial continuamente, sendo
que consiste no método mais indicado para pacientes que se
encontram instáveis hemodinamicamente”, esclarece. No entanto,
a experiência profissional não interferiu no desempenho do
teste de conhecimento, visto que tanto os profissionais mais
antigos como os recém-admitidos apresentaram resultados semelhantes.
Como
introdução aos testes, a enfermeira elaborou um questionário
com 19 perguntas para que os profissionais pudessem fazer
uma avaliação sobre seu conhecimento acerca da medida da PA.
Segundo apurou, a maioria inicialmente se avaliou com conceitos
entre bom e ótimo, sendo que 40 enfermeiros – ou 74% – definiram
o seu conhecimento teórico como bom. Depois de aplicados os
testes de conhecimento com as questões de múltipla escolha,
Taciana retornou com a auto-avaliação aos enfermeiros e a
situação se inverteu. Apenas 7,4% (ou quatro sujeitos) mantiveram
o grau de satisfação com o seu desempenho com conceito bom,
sendo que nenhum se sentiu totalmente satisfeito em relação
ao que sabe sobre a medida da PA.
“Isto quer dizer que a prática
era realizada sem a consciência do desconhecimento. O estudo
mostrou que 93% dos que fizeram o teste aprenderam a verificar
a PA durante a graduação e depois nunca mais fizeram cursos
de atualização sobre o assunto, o que pode afetar diretamente
no desempenho qualificado. A medida da pressão é vista no
primeiro e segundo ano de curso e depois não há uma revisão
da prática ao longo da graduação”, alerta a enfermeira, lembrando
que a aferição de pressão arterial é um procedimento rotineiro
na UTI. Em média, a cada duas horas é preciso realizar a aferição
no paciente durante a sua estada no ambiente. Há que se considerar
ainda que o desconhecimento pode interferir no valor e prejudicar
a avaliação do estado geral dos internos.
A partir deste quadro, Taciana
Almeida reafirma a necessidade de capacitar os profissionais
neste tópico em especial. Uma vez que o estudo contemplou,
de maneira inédita, o conhecimento dos enfermeiros intensivistas
nos três métodos, foi possível identificar em quais aspectos
ocorreu o maior número de erros e, assim, realizar uma intervenção
pontual.
O estudo traz, ainda, uma
série de estratégias de atualização para se revisar a técnica
com os diferentes métodos disponíveis, assim como aspectos
gerais sobre a pressão arterial. “Já estamos com projetos
de propor o início de educação continuada dos profissionais
nos hospitais estudados e minimizar o problema, que se mostrou
pontual. Os enfermeiros necessitam da segurança na realização
desta técnica para orientar sua equipe, assim como guiar condutas
diante de valores de pressão arterial no cuidado ao paciente
grave”, conclui.
.............................................................
■ Publicação
Dissertação:
“Enfermeiros de Unidade de Terapia Intensiva adulto: conhecimento
sobre medida da pressão arterial”
Autora: Taciana da Costa Farias Almeida
Orientador: José Luiz Tatagiba Lamas
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
.............................................................
|
|