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..Campinas, 23 a 29 de abril de 2001

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NESTA EDIÇÃO
.....História - pág.1   .....Oportunidades - pág. 7
.....Doação - pág. 2 .....Eventos futuros - pág. 7
.....Palestra - pág. 2 .....Teses - pág. 8
.....Aula inaugural - pág. 3 .....Projetos/Curtas - pág. 9
.....Evento - pág. 3 .....Meio ambiente - pág. 9
.....Saúde - pág. 4 .....Póstumas - pág. 10
.....Encontro - pág. 4 .....Teatro/Cinema - pág. 11
.....Painel da semana - pág. 5 .....Conferência - pág. 11
.....Em dia/Inscrições - pág. 6 .....Pessoas - pág. 12
 
..PESSOAS
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Uma questão de estilo
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Joyce Jane Sena da Silva tem consciência de que desfila sob o olhar crítico da comunidade universitária, muitas vezes positivo, noutras, negativo. O estilo exótico adotado pela funcionária da Gráfica Central desde sua admissão na Universidade Estadual de Campinas, em 1986, aguça ou pelo menos já aguçou a curiosidade de muitas pessoas. Também a altura, declara Joyce, chama a atenção. Depois que trocou o figurino hippie pelo afro, um número considerável de pessoas insiste nas perguntas: Você não é brasileira? Você é da África? Qual é sua tribo? Com uma simpatia de quebrar qualquer curioso, Joyce responde: “Sou brasileira, apesar da descendência muito próxima da avó bugre (encontro étnico de negro e índio), meu avô é italiano.”

Nada a ver com resistência cultural ou culto a uma religião. Joyce Jane explica que a mudança de estilo ocorreu de forma gradual, sem propósito algum de causar impacto nas pessoas. “Entrei em uma loja para comprar uma roupa afro para participar de uma festa à qual não pude ir e, para não perdê-la, decidi vestir a roupa para trabalhar, preocupada com a reação das pessoas.” A partir daí, Joyce mudou definitivamente o seu hábito. Sem jamais se preocupar com a “opinião pública”. “Eu me visto para mim, gosto da Joyce assim.” A mudança de estilo aconteceu em um momento de busca espiritual, na qual Joyce fez uma pesquisa consigo mesma para descobrir qual era o seu sol, uma experiência vivenciada no budismo, religião da qual é adepta. Joyce conta que, nesse momento de sua vida, foi advertida por uma pessoa que observava seu comportamento passivo. A partir daí, começou a observar-se e a entender o quanto fazia o gosto das pessoas. “Mesmo que eu saísse ferida, sempre acabava fazendo as coisas para agradar aos outros.”

Hoje, a Joyce Jane verdadeira é essa que faz o que tem vontade, respeitando limites, sorri sempre que tem vontade e veste o que tem vontade e, pasmem, o que cria. As cangas, nas suas mais variadas estampas são modificadas, na maioria das vezes, depois que deixam as araras do setor de roupa de banho da loja. No ateliê (casa) de Joyce, elas tornam-se vestidos. Desde o tingimento até a adaptação de uma alça (feita com “chuquinha” de prender cabelos), os tecidos obtêm um caimento ao gosto da “estilista”. Os cabelos, segundo Joyce, nunca devem acompanhar a moda. “Quando percebo que estão virando moda, corto, faço um penteado diferente.”

A funcionária se define como uma mulher prática, pois as cangas custam menos que um vestido pronto. Depois de receberem um tratamento especial, ficam com a cara da dona. Sem contar que os cabelos fogem da cobrança absurda dos salões de beleza. Não há nada que tenha inspirado Joyce a adotar este estilo. Que é afro, ela não abre mão, mas a única coisa que sabe da história de seus ancestrais, quanto à vestimenta, é que as roupas estampadas eram utilizadas somente para o trabalho e as de cor lisa eram reservadas para passeios. “Como estou sempre envolvida em uma missão, quase não saio para lazer, não sei se tem a ver com os costumes deles (os ancestrais), mas acho que sim. Se eu pudesse, andaria sem sapatos.”

Depois do encontro consigo mesma, a pessoa começa a se gostar mais e passa a transmitir isso, explica Joyce. Para ela, é o que emana mais do que o vestuário que faz com que as pessoas a enxergem e teçam comentários sobre seu comportamento. Os prejulgamentos causados pela primeira troca de olhares são destruídos logo após a primeira troca de palavras. “Uma coisa que minha mãe sempre disse foi: se gostamos ou não da pessoa, a educação é uma coisa que cabe em qualquer lugar.”
Joyce qualifica Campinas como uma cidade diversa, onde existem pessoas de estilos muito diferentes. Ao flagrar os ares de deboche de algumas pessoas, responde com um “bom-dia”, um “boa-tarde”.“Não estou com seios e pernas de fora. Está tudo coberto aqui. O que há de estranho?”, questiona.

Tamanha exuberância, o estilo Joyce Jane já conquistou até os amigos dos filhos Alison, 21, e Vanderson, 18, que, segundo ela, apesar de convencionais, orgulham-se ao ouvir as pessoas dizendo: “sua mãe é linda”. As roupas convencionais são usadas nas aulas e nas apresentações do grupo de dança Brilho do Sol, formado por jovens senhoras da igreja que freqüenta.

Às vezes, entra em uma loja, pede uma roupa comum, experimenta , tenta, tenta, tenta e volta a ser a Joyce Jane, a mesma que em 1986 entrou pela porta da frente da Gráfica Central com sua autenticidade, sua competência, sua luta silenciosa, sua poesia, sua boa educação, e vai sair pela mesma porta para compor o quadro de funcionários da Coordenadoria da Diretoria Geral de Administração, após 15 anos de Unicamp. “Sempre me dediquei ao trabalho, muitas vezes contrariada, mas sempre cumpri meu papel e cobri a ausência de outros amigos. É mais uma forma de ser reconhecida.”

 

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