De Atibaia (São
Paulo) a Conceição da Barra (Espírito Santo), congadeiros,
foliões de reis e do divino, batuqueiros, Irmandade do Divino, artesãos
e caiapós trazem à Unicamp suas formas de festejar a vida e celebrar
o sagrado. Convidados pela Coordenadoria de Relações Institucionais
e Internacionais (Cori) a participar do 7º Encontro com o Folclore, que se
realiza nos dias 11 e 12 de agosto, os grupos se unem em uma das mais genuínas
manifestações culturais brasileiras, a festa do folclore. As
manifestações vêm de regiões que não abrem mão
de suas lendas, crenças, canções e costumes. Segundo Avelino
Bezerra, idealizador do encontro, as apresentações não têm
local fixo. Dia 11, elas acontecem no auditório do Instituto de Artes (IA)
e nas dependências do antigo Restaurante Lake House. Dia 12 o roteiro inclui
o lago do Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão.
Figureiras de Taubaté, paneleiras e artesãos de Iguape e bonequeiros
de Piracicaba expõem suas esculturas em barro durante a Feira Cultural,
que terá também exposições fotográficas. O
evento faz parte do Projeto Folclore, criado para promover o conhecimento
da pluralidade cultural brasileira e a produção acadêmica
acerca do tema. Dia
11, o seminário Novas Políticas de Patrimônio
Referências Culturais e Patrimônio Imaterial dá início
ao 7º Encontro, às 14 horas, no Auditório do Instituto de Artes
da Unicamp. Aberto ao público, o seminário terá como mediador
o professor Antonio Augusto Arantes, do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, e terá a participação de Maria Cecília Londres,
assessora do Ministério da Cultura; Célia Corsini, diretora do Departamento
de Identificação e Documentação do Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Letícia Costa Rodrigues
Vianna, do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (Funarte); e de Eliomar
Mazocco, presidente da Comissão Espírito Santense de Folclore. Um
dos temas a serem abordados é o novo Decreto sobre Bens Culturais de Natureza
Imaterial, no qual se inclui o folclore. Após
o seminário, as guardas de Congo, Moçambique e o Reino Coroado dos
Arturos, de Contagem (MG), erguem mastros em homenagem a São Benedito,
Nossa Senhora do Rosário e Divino Espírito Santo. O Ticumbi, de
Conceição da Barra (ES), apresenta auto popular em louvor a São
Benedito. Na manifestação, eles realizam a luta entre reis de banda
e reis de congo. A programação se encerra com a apresentação
dos Batuqueiros de Tietê e do grupo Fandango de Tamanco, de um quilombo
da região de Iguape/SP Dia
12, assim como acontece em Contagem, quem quiser acompanhar os Arturos terá
de despertar tão cedo quanto seus integrantes. De acordo com as explanações
de Avelino Bezerra, integrante nos rituais da comunidade dos Arturos, a Matina,
manifestação tradicional, começa às 5 horas, com cortejo
ao toque dos tambores, com cantos e danças durante a caminhada à
capela, onde rezam e pedem bênção para todos. Às 10
horas, todos os grupos convidados se concentram no Lake House para acompanhar
a procissão de São Benedito e o Cortejo de Cavaleiros até
o Lago do Parque Ecológico, onde assistirão ao encontro das canoas
e recepcionarão a Irmandade do Divino, que trará a imagem de Nossa
Senhora do Rosário. A procissão segue do lago para onde será
celebrada a Missa Conga, que segue a liturgia da Igreja Católica, criando
um diálogo entre a liturgia da Igreja e a religiosidade popular. Em seguida,
o anfitrião da festa deste ano, professor Mohamed Habib , coordenador da
Cori, convidará os foliões para cantar os feitos e os poderes do
Divino Espírito Santo. Em seguida, os integrantes cantam e pedem almoço
aos donos da casa. A alimentação, que teve todos os ingredientes
doados pela rede Carrefour, será providenciada pelas cozinheiras dos grupos
e por voluntários da comunidade universitária e de Barão
Geraldo. Ainda
no dia 12, os grupos Ticumbi, de Conceição da Barra (ES), Folia
de Reis de Campinas, Leme e São Luiz do Paraitinga(SP) apresentam o ciclo
natalino, rememorando a viagem dos três reis do Oriente a Belém.
A festa segue com a apresentação de quatro ternos de congo de Atibaia,
dividindo espaço com os Caiapós de São José do Rio
Pardo, o Fandango de Tamanco, de Ribeirão Grande, em uma festa que se estenderá
até as 17 horas. Grande
parte das manifestações culturais acontecem uma, duas, ou até
várias vezes ao ano. Algumas acontecem em família, como é
o caso dos Arturos, um agrupamento familiar de negros que habitam uma propriedade
de terra particular em Contagem (MG). Unido aos Arturos há sete anos, Avelino
Bezerra, idealizador e coordenador-geral do evento, garante que o grupo é
reconhecido internacionalmente, recebendo visitas de pesquisadores e religiosos
de diversas partes do mundo. O
encontro com o folclore já teve a participação de personalidades
de Campinas e região. Segundo Bezerra, em edições anteriores,
a Unicamp convidou pessoas que são portadoras do saber
popular da região de Campinas, como Lídia Camargo, conhecida
por zelar há anos pelo túmulo do Antoninho escravo do Barão
Geraldo de Resende, que participou da procissão em 1997 carregando o mastro
de Nossa Senhora da Aparecida. Paulo Betti, que receberia a coroa de Rei Festeiro
no 7º Encontro, mas não poderá estar presente por estar em
cartaz no Rio de Janeiro, marcou presença no ano de l995, quando conduziu
a bandeira de São Benedito, seu santo de devoção. Ele será
coroado em Contagem e já convidou os Arturos a participar de seu filme.
A expectativa, segundo Avelino Bezerra, é de que a comunidade participe
da festa e que o encontro consiga ampliar a discussão sobre folclore, que,
segundo palavras de Luís Câmara Cascudo, se explica por ser uma fonte
inesgotável de conhecimento. Bezerra
espera que o evento obtenha o mesmo êxito que os cursos direcionados aos
educadores da região. É um privilégio para a nossa
Cidade receber esses grupos populares que são patrimônio Cultural
da Humanidade, reforça. O 7º Encontro com o Folclore é
realizado em parceria com o Instituto de Artes e a Secretaria de Educação
de Campinas e, segundo Bezerra, com a dedicação da equipe
da Cori. |