Arte para ser tocada.
Aquele impulso que se tem ao contemplar uma obra de arte e acarinhá-la
pensando: Como você é linda. Se algum leitor já
passou por isso e resistiu heroicamente, pode experimentá-lo na exposição
de obras em batik e encáustica de Caru Duprat, artista-plástica
formada pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São
Paulo e pós-graduanda em Educação, conhecimento, linguagem
e arte na Faculdade de Educação da Unicamp. A
exposição Entre cantos e janelas , homônimo da
dissertação, está na galeria de arte até dia 23 de
outubro, totalmente aberta ao público. A mostra é composta de 12
quadros em encáustica (cera em madeira) e batik (cera diluída em
água) e inclui uma instalação de batik em cortes de seda.
O que me chamou a atenção nesta técnica foi justamente
o fato de poder tocar. E a cera. O cheiro da cera sempre me atraiu., revela.
A imagem
da divisa de Minas e São Paulo está representada nos obras de Duprat.
Nas paredes da Galeria de Artes da Unicamp, as musas da artista se revelam tão
logo o apreciador olha para os seus quadros. São máquinas antigas,
as quais, olhando para elas, é possível imaginar o som do ziguezague
de uma antiga máquina de costura; e são as cores de um dia inteiro,
representadas nas encáusticas de uma veneziana de Mogi Guaçu (interior
de São Paulo) que se abre para enxergar o verde da serra que divide a janela
do céu mineiro, bem ao longe, como se fazendo viajar . Em algumas peças,
a encáustica e o batik se misturam, quando a máquina antiga pintada
por Caru parece estar costurando um corte de seda pintando coma técnica
do batik. As
cores do céu e da Terra também estão evidenciadas nos cortes
de seda coloridos com batik. Seqüencialmente, as sedas de Caru Duprat refletem
as cores do alvorecer, do amanhecer, e assim até o tom azul-escuro da noite. Desenho
janelas desde que me conheço por gente. A janela ó o próprio
significado do quadro. Ter uma janela é Ter um quadro exposto. Entra a
luz, e o quadro tem a possibilidade de receber luz. Ambos são portares
de luz, reflete. A
exposição Entre cantos e janelas é uma parte
do projeto da dissertação de mestrado de Caru Duprat a ser apresentada
dia 17 de outubro, às 14 horas, na Faculdade de Educação
da Unicamp. O coração da tese é justamente a relação
entre a arte e o artesanato; o limite que existe entre os dois. Eu mesma
tive resistência em trabalhar com o batik. É ma técnica indonesiana
artesanal, explica. As mulheres da Indonésia usam o batik como meio
de sobrevivência. Duprat explica que o que distancia o artesanato da arte
não é simplesmente o fato de compor para vender, pois os dois têm
um fim comercial, mas a diferença está em que a obra de arte é
feita para apreciação e o artesanato para utilização.
O resultado
da dissertação, explica Duprat, é o próprio trabalho
apresentado na exposição, no qual a união da técnica
artesanal com a expressão artística, e não com a intenção
de reprodução, como acontece no artesanato. Uma
forte aliada de Duprat em seu trabalho, r e por que não uma das principais
incentivadoras, é a paixão pela fotografia. A fotografia
ajudou na percepção do olhar, no enquadramento, no contraste. A
proposta apresentada por Duprat em sua dissertação é introduzir
o artesanato como expressão artística, pela multiplicidade e pelas
possibilidade múltiplas que a arte apresenta. |
Coutinho
vê amor à arte e pouca renda no cinema Faço
um tipo de cinema que jamais vai dar dinheiro. Tem gente fazendo cinema achando
que pode sobreviver, fazer disso uma indústria. Já estou muito velho
para acreditar nisso. A afirmação é do cineasta, diretor,
documentarista e roteirista de cinema Eduardo Coutinho, durante debate com quase
140 alunos da Universidade, como parte da Mostra de Cinema que levou o seu nome
realizada de 1 a 5 deste mês, nas dependências do Instituto de Estudos
da Linguagem (IEL). Tido
com um dos mais importantes diretores de cinema dirigiu O homem que comprou
o mundo (1968) e Faustão (1971), entre outros durante quase duas
horas Coutinho conversou com estudantes, respondendo a quase todas
as perguntas. É que, como disse, perguntas genéricas não
é bom fazer, pois não se achava com devida competência
para determinadas questões enfocadas pelos alunos. Por exemplo: O
que o senhor acha da lei de incentivos a cultura; o que o senhor acha
do documentário brasileiro.... Mesmo
porque faço cinema numa raia totalmente oposta, que nunca que nunca vai
ter mercado, que vai ser sempre visto por pouca gente. Mas estou satisfeito com
isso. Pelo menos não tenho expectativas frustradas... Se eu tiver dez mil
espectadores, é maravilhoso, argumentou Coutinho, sempre levando
a conversa com uma boa dose de humor. Idealizador
do premiado Cabra marcado para morrer (1964), Coutinho contou que teve muitas
frustrações com alguns de seus filmes. Como por exemplo com O Fio
da navalha (1991) que, como diz, deu tudo errado com esse filme, com
inúmeras interrupções e constantes retomadas de filmagem,
e tantos outros problemas. Revelou ainda que gosta de fazer filmes que ninguém
tá querendo ver, ninguém tá pedindo pra ver, que não
tem demanda nenhuma de mercado, ninguém tá interessado. Daí,
sinto-me inteiramente livre para, a partir de ninguém, não esperar
nada... Eu posso dizer para o financiador ou produtor que estou pensando em fazer
um filme que não sei se vai dar dinheiro. Se o cara topar, muito bem, fica
maravilhoso. O
debate de Coutinho foi pontuado de boas tiradas. Como quando disse que o
meu objetivo maior é um dia fazer um filme que certamente não vai
dar certo, provocando risos na platéia. Um filme sobre o fracasso,
a imagem do filme seria a cobra que morde o seu próprio rabo. Questionado
sobre a teoria geral ficção e o que é documentário,
o que é verdade e o que não é, citou o cineasta Godard, um
dos principais representantes do movimento do cinema francês nos anos 50:
Dizia que todo grande filme de ficção tende ao documentário,
e que todo documentário tende a ficção.
|