Edição nº 575

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 16 de setembro de 2013 a 22 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 575

Telescópio


Evolução inventou a engrenagem antes do homem

A ninfa, ou filhote, de um tipo de percevejo, o Issus coleoptratus, usa um par de engrenagens nas coxas para sincrozinar o movimento das pernas durante o salto. Essa é a primeira vez em que um sistema de engrenagens capaz de entrelaçar os dentes com precisão e girar de modo funcional é descrito na natureza, diz artigo publicado na edição de 13 de setembro da revista Science.

A delicadeza e a precisão do mecanismo são espantosas: os dentes das rodas têm cerca de 20 micrômetros – milésimos de milímetro – de altura, e graças às engrenagens as pernas se movem com um intervalo de tempo entre si da ordem de 30 microssegundos. Um grau de sincronia “difícil de conseguir com pulsos neurais de 1 milissegundo”, escrevem os autores. O pulso é cerca de 30 vezes mais lento que a coordenação das pernas pela engrenagem minúscula.

Esta não é a primeira vez que se descobre que uma invenção mecânica humana já havia sido antecipada na evolução dos insetos. Em 2011, a mesma Science publicava um artigo descrevendo a descoberta de um sistema de porca e parafuso no corpo de um besouro, o Trigonopterus oblongus, numa das juntas das pernas.

 

Bom preparo físico melhora a memória das crianças

Um estudo realizado nos Estados Unidos, envolvendo 48 crianças de 9 e 10 anos, indica que crianças com melhor forma física têm maior facilidade de memória e aprendizado. O trabalho é apresentado em artigo publicado no periódico online PLOS ONE.

“Há uma crescente tendência de inatividade entre as crianças, o que aumenta a probabilidade de excesso de peso e mau preparo físico”, escrevem os autores. “Essa inatividade não apenas resulta em má saúde física, mas também pode causar má saúde cognitiva”.

As crianças participantes do estudo tiveram o preparo físico avaliado num teste de esteira ergométrica, e foram divididas em um grupo de bom preparo e um de preparo ruim. Elas tiveram, então, de estudar geografia num iPad – o objetivo era memorizar o nome e a localização de uma série de regiões. No dia seguinte, o conhecimento adquirido foi testado.

Os participantes com boa forma física se saíram melhor no teste do que os de baixa forma física, escrevem os autores, quando a estratégia de estudo usada foi de simples memorização. Mas quando uma estratégia pedagógica mais sofisticada – envolvendo memorização e exercícios – foi adotada, não houve diferença.

 

Análise de meteorito revela mais ingredientes para a origem da vida

Cientistas sabem, há décadas, que meteoritos podem trazer matéria orgânica – os ingredientes fundamentais da vida – para a Terra. Agora, uma nova análise do meteorito Sutter’s Mill indica que muito mais material do espaço pode ter se tornado disponível para desencadear o início da vida na Terra do que se imaginava. O Sutter’s Mill se desfez na atmosfera terrestre, sobre os Estados Unidos, em 2012, mas sua queda foi filmada e vários de seus fragmentos já foram recuperados.

Em artigo publicado no periódico PNAS, pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona afirmam que uma análise da composição do meteorito, por meio de técnicas hidrotérmicas que, segundo os autores, “imitam de modo realista cenários da Terra primordial, como a vizinhança de atividade vulcânica e crateras de impacto” revelou “uma disponibilidade de material orgânico meteorítico para o ambiente planetário muito maior que a presumida anteriormente”, e que a evolução molecular nos primórdios da Terra pode ter se beneficiado, “por um período demorado”, da “alteração, modificação e liberação dos materiais orgânicos insolúveis” presentes nessas rochas do espaço.

 

Gás radioativo de Fukushima é detectado sobre a Alemanha

O desastre na usina nuclear de Fukushima, no Japão, trouxe, além de uma série de consequências graves para a economia e o meio ambiente, algumas oportunidades científicas indiretas – entre elas, a introdução na atmosfera de grandes quantidades do gás radioativo xenônio 133. 

Esse mesmo isótopo já foi usado na medicina, como contraste em exames de pulmão. Uma equipe de pesquisadores alemães decidiu aproveitar a emissão de Fukushima para um fim semelhante – mas, em vez de acompanhar os movimentos do gás dentro do corpo humano, rastreou seu deslocamento na atmosfera terrestre.

“Como o xenônio é um gás nobre, ele é inerte e só raramente reage com outros elementos. Portanto, é superior a outros rastreadores comumente usados”, escrevem os pesquisadores, em artigo disponível no repositório público Arxiv. 

As medições envolveram a coleta de amostras por avião, e revelam que parte do xenônio radioativo de Fukushima foi elevada à tropopausa, que separa a troposfera – a camada mais baixa da atmosfera terrestre – da estratosfera, a mais de 10 km de altitude. Também mostram que o gás foi transportado mais rapidamente pelos ventos do alto da atmosfera: “A chegada mais rápida à Alemanha em alta altitude foi demonstrada de modo claro”, diz o trabalho.

 

Editor rastreia destino de artigos científicos fraudados

Quando se descobre que um artigo científico foi produzido com dados falsos ou com base em algum outro tipo de fraude, a prática recomendada é que o periódico que o publicou faça uma retratação, removendo-o oficialmente da literatura especializada. Num congresso internacional realizado em Chicago, o editor-chefe da revista European Journal of Anaesthesiology, Martin Tramèr, descreveu o levantamento que fez a respeito do destino de 88 trabalhos assinados pelo anestesiologista alemão Joachim Boldt, flagrado há dois anos num caso de falsificação de resultados. Dezoito diferentes periódicos haviam prometido retratar-se dos trabalhos de Boldt.

No entanto, de acordo com nota publicada pelo serviço Science Insider, da revista Science, apenas cinco artigos receberam retratações dentro dos padrões recomendados internacionalmente. Dos demais, nove sequer chegaram a ser alvo de retratação, por conta de ameaças de processo judicial feitas por coautores, enquanto que outros sofreram retratações inadequadas, incluindo a simples remoção dos registros on-line, como se o trabalho nunca tivesse sido publicado pelo periódico.

 

Japoneses propõem uso de ondas cerebrais em biometria

Pesquisadores da Universidade Tottori, no Japão, propuseram um método matemático para usar as ondas cerebrais de uma pessoa para alimentar um sistema de biometria contínua. Como escrevem os autores, em artigo publicado no periódico International Journal of Biometrics, a maioria dos sistemas de verificação de identidade dos tempos atuais é de uso único: uma vez obtido o acesso, qualquer pessoa pode utilizar o sistema. “Se o usuário for substituído por um impostor depois de a autenticação ter ocorrido, não há como detectar tal substituição”, dizem.

Para contornar o problema no caso de veículos – por exemplo, para garantir que o motorista de um carro-forte não foi trocado por um ladrão –, eles propõem o uso das ondas cerebrais do condutor como meio de obter uma identificação biométrica contínua.

O sistema proposto pelos engenheiros da universidade japonesa processa sinais de eletroencefalograma da pessoa que está dirigindo – obtidos por meio de sensores montados num capacete – e os compara a uma amostra pré-programada do motorista legítimo.

 

Morte violenta entre os maias

Arqueólogos da Universidade de Bonn, na Alemanha, descobriram um sepulcro coletivo numa gruta da cidade histórica maia de Uxul, no México. Os corpos encontrados ali tinham sido decapitados e desmembrados há cerca de 1,4 mil anos.  Os ossos correspondem aos esqueletos de 24 diferentes indivíduos, sendo 13 homens com idade entre 18 e 42 anos.

Os pesquisadores ainda não conseguiram determinar se os mortos eram prisioneiros de guerra, vindos de outra cidade maia, ou cidadãos de Uxul punidos por algum crime.

 

Maior vulcão da Terra está submerso

O Maciço Tamu, uma grane massa rochosa localizada sob as águas do Oceano Pacífico, é na verdade um vulcão – o maior da Terra e mais amplo que o maior vulcão conhecido no Sistema Solar até agora, o Monte Olimpo de Marte. O Maciço tem uma largura de 650 quilômetros, enquanto que o Olimpo marciano tem 625 quilômetros. 

O Tamu, parte de um complexo de elevações submarinas a 1,5 mil quilômetros da costa japonesa, já era conhecido dos geólogos, mas até agora acreditava-se que fosse formado pela junção de vários vulcões diferentes. A descoberta de que toda a estrutura corresponde, na verdade, a um só corpo foi apresentada no periódico Nature Geoscience no início de setembro, por uma equipe composta de pesquisadores dos Estados Unidos, Japão e Reino Unido.

Os autores navegaram sobre o maciço – que, totalmente submerso, se ergue 4 quilômetros acima do leito oceânico – entre 2010 e 2012, usando instrumentos para enviar vibrações pela montanha e registrando os ecos, e determinaram que todo o fluxo de lava responsável pela formação tinha tido origem num mesmo ponto. O Tamu está inativo há 140 milhões de anos.

Quanto ao Monte Olimpo de Marte, ele pode não ser mais o vulcão mais largo do Sistema Solar, mas, com mais de 20 quilômetros de altura, ainda é o mais alto.

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Malcolm Meadow