A arquiteta Flávia Elaine Aliotti Nogueira avaliou as janelas de edifícios escolares da rede municipal de Campinas e constatou características positivas no que diz respeito ao conforto luminoso dos estabelecimentos. Na Escola Municipal Raul Pilla, na Vila Brandina, por exemplo, o fato de as salas serem avarandadas impede a entrada direta de raios solares e torna as salas confortáveis do ponto de vista luminoso e térmico. “As crianças não ficam confinadas em ambientes fechados e as varandas cumprem satisfatoriamente as normas específicas. As salas nem precisam de cortinas e se faz pouco uso da luz artificial”, afirma Flávia.
Por outro lado, outros estabelecimentos visitados possuem problemas de ordem estrutural na utilização da luz natural. Em uma das escolas, nas proximidades da Vila 31 de Março, o uso de cortinas com cores fortes deixou o ambiente escuro, aumentando a sensação de claustro. Neste caso, os alunos acendem as luzes artificiais para neutralizar os tons escuros produzidos nas paredes e locais de escrita. “O problema maior não é a colocação das cortinas e, sim, as cores utilizadas. Segundo a diretora da escola, o tom escuro foi um erro no momento de substituição do material. Optou-se por outro que atendesse o edital de compra”, explica a arquiteta, que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), sob orientação da professora Lucila Chebel Labaki.
As medições em janelas para avaliar o conforto térmico e luminoso das salas de aula contemplaram 15 escolas de ensino fundamental. Mas foi em dois dos estabelecimentos nos quais Flávia fechou sua amostragem. Primeiro, porque a tipologia das salas e as configurações das janelas são semelhantes às encontradas na maioria das escolas municipais do ensino fundamental. “São salas com aberturas dos dois lados, onde as janelas ocupam boa parte das paredes exteriores”, explica. Outros dois fatores que pesaram na balança foi o consumo elevado de energia nas duas escolas e o grande número de estudantes atendidos pelos programas bolsa-escola e bolsa-família do governo federal.
Flávia observou também, durante as medições, que falta um trabalho de conscientização quanto ao uso da iluminação artificial. “Acender a luz ao entrar em um ambiente fechado sempre é mais fácil do que abrir as janelas. É cultural o hábito de utilizar a luz artificial ao invés da natural”, opina. A arquiteta dedicou um capítulo para destacar os aspectos benéficos da luz natural. Segundo ela, existem muitos estudos, principalmente dos ingleses, revelando a importância da luz natural para estabilizar o chamado ritmo circadiano ou relógio biológico do ser humano. “A luz natural envia mensagens ao cérebro que, por sua vez, dita os períodos de descanso e de atividade. Pessoas que trabalham em ambientes fechados ou confinados não conseguem ter essa distinção entre dia e noite”, explica.
Cartilha O estudo realizado pela arquiteta faz parte de um projeto, financiado pela Finep CT-Energ, denominado Indicadores de Eficiência Energética e Conforto Ambiental em Escolas da Rede Pública Municipal, coordenado pela professora Lucila Chebel Labaki. O próximo passo, segundo Flávia, será a distribuição de uma cartilha para conscientização sobre a importância do conforto ambiental. A publicação traz várias informações, em linguagem acessível às crianças, sobre conforto luminoso, térmico e acústico, relacionando-o ao consumo de energia. A cartilha foi elaborada pelo grupo de pesquisadores do Departamento de Arquitetura e Construção da FEC, envolvidos no projeto. As ilustrações são do professor Francisco Borges Filho. Outra vertente do projeto é conscientizar também alunos de Arquitetura em uma disciplina específica sobre projetos arquitetônicos em escolas.