Edição nº 551

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Jornal da Unicamp

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Campinas, 25 de fevereiro de 2013 a 03 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 551

Relações Sociais


 

O exemplo mais visível da interação da Unicamp com a sociedade é sem dúvida a área hospitalar, referência para o sistema público de saúde da região. A qualidade de seus serviços, porém, não impede que haja problemas de financiamento e de saturação em sua capacidade de atendimento. Como espera solucionar essas questões?

Edgar Salvadori De Decca – Precisamos urgentemente de uma reordenação da relação da Unicamp com a sociedade. Na área da saúde está sendo encaminhado um novo modo de gestão, que merece atenção, em especial no que diz respeito ao futuro dos recursos humanos do segmento incorporados pela Unicamp. A autarquização do HC foi recentemente aprovada pelo Consu, mas em nossa opinião deveriam existir outras alternativas de gestão da área da saúde.

Considerando que o HC é hospital escola poderíamos negociar com a Secretaria de Saúde do Estado, a gestão compartilhada do HC, ficando para a Unicamp a aplicação de recursos para manutenção das atividades de ensino e para a Secretaria da Saúde as despesas de infraestrutura e de custeio para o atendimento dos pacientes. A preocupação com essa parceria deve ser ampla, pois a universidade deve estimular suas relações com a sociedade em todos os campos. 

Não devemos, portanto, pensar numa única solução, como se a autarquia do HC fosse a solução ideal para resolvermos a relação da Universidade com o atendimento à saúde da população da região metropolitana de Campinas. Acima de tudo, temos que deixar claro para os agentes do executivo estadual a dupla função preenchida pela Universidade na aplicação de seu orçamento anual. Devemos repactuar com o Executivo Estadual um acordo em que as partes envolvidas possam definir as suas atividades fins: no caso da Unicamp, ter o hospital como complemento da formação profissional e, por parte do Estado, o encargo da parcela de custos relativos ao atendimento da saúde da população, além de atender aos investimentos de infraestrutura, de renovação de equipamentos e parte da contratação de funcionários.

José Cláudio Geromel – A área hospitalar da Unicamp é notável por sua atuação em favor de todos os cidadãos, em particular dos mais pobres, através do SUS. Além disso, a área hospitalar está associada a uma unidade de excelência acadêmica e científica que é a Faculdade de Ciências Médicas e, agora, contará com a participação de uma nova unidade que é a Faculdade de Enfermagem, recentemente criada. Tem feito inúmeras contribuições no gerenciamento profissional de hospitais da região metropolitana de Campinas e através dos serviços de saúde disponibilizados pelo Cecom e pelo Caism.

Não obstante, devido ao seu tamanho, a área hospitalar deixou de ser um hospital-escola com objetivos circunscritos ao ensino e à pesquisa. Deste modo, é preciso que outros atores sejam chamados para sanar os problemas de financiamento e de saturação de sua capacidade de atendimento. É preciso adotar todo o empenho para que a Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo seja um participante central e efetivo desse esforço.

José Tadeu Jorge – Área de grande visibilidade junto à população, a área de Saúde da Unicamp vem cumprindo com destaque suas atribuições acadêmicas e sociais há várias décadas. Além de suas funções de ensino, de pesquisa e assistenciais, tem atuado de forma exemplar apoiando a implementação e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ao mesmo tempo, a área de Saúde tem convivido com problemas decorrentes da saturação crônica de sua capacidade de atendimento, da incorporação de custos devido à aquisição de novas tecnologias, e das dificuldades de financiamento. Uma questão relevante é a urgente necessidade de implementação de um novo modelo de gestão administrativa, orçamentária e financeira para suas unidades, que proporcione maior flexibilidade de procedimentos administrativos e assegure a qualidade do ensino e dos serviços oferecidos. É preciso incluir na pauta de discussões com os governos federal e estadual, em ação conjunta com os demais hospitais universitários, a reivindicação de um modelo diferenciado de financiamento para os procedimentos médicos realizados por essas instituições.

Nossas propostas para a área de Saúde incluem uma atuação mais incisiva na captação de recursos junto aos governos federal e estadual, assegurando, ao mesmo tempo, os níveis atuais de participação financeira no orçamento da Unicamp; investimentos na manutenção predial e na atualização tecnológica do parque de equipamentos; defesa do seu papel como complexo hospitalar terciário e quaternário, voltado aos procedimentos de alta complexidade; qualificação, capacitação e formação continuada dos profissionais que atuam na área da saúde; apoio aos programas de melhoria da qualidade de vida dos profissionais da assistência; estímulo aos trabalhadores do período noturno; implantação da jornada de 30 horas para os profissionais envolvidos nas atividades de assistência, sem redução salarial e com adequação do quadro existente para que não ocorram deficiências no atendimento.

Mario José Abdalla Saad – A Unicamp responde por 2/3 do financiamento do HC e do Caism, e a Secretaria Estadual de Saúde (SES), através do SUS, financia o 1/3 restante. A parcela da Unicamp significa aproximadamente 20% de seu orçamento. Não é possível e nem seria justo que a Unicamp aumentasse o financiamento para essa área, drenando recursos de outras áreas. O crescimento precisa ser financiado pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Para isso, o Consu aprovou recentemente a autarquização da área da saúde. Uma autarquia é uma entidade autônoma, auxiliar e descentralizada da administração pública, sujeita à fiscalização e à tutela do Estado, e cujo fim é executar serviços de caráter estatal ou interessantes à coletividade. A Unicamp, por exemplo, é uma autarquia. Promover a autarquização da área da saúde significa conseguir maior facilidade para obter financiamento para seu crescimento e reposição de quadro de pessoal, mantendo o atendimento 100% subsidiado pelo SUS. Em longo prazo, a autarquização permitirá que a Universidade se desincumba de novas contratações e substituições  devido a aposentadorias, que serão custeadas pela SES.

Essa economia terá enorme reflexo no orçamento da Unicamp, pois liberará recursos para melhorar salários e investir em infraestrutura. No futuro, a autarquização permitirá que se transforme todo o complexo hospitalar (incluindo Hospital Estadual Sumaré e Ambulatório Médico de Especialidades) num bloco integrado, hierarquizando de maneira adequada o atendimento médico da região, inteiramente financiado pela SES. Recomendamos fortemente que os interessados nesta questão, como também sobre a criação de uma fundação para a área da saúde, leiam nossa proposta completa no programa de gestão.