Edição nº 551

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Jornal da Unicamp

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Campinas, 25 de fevereiro de 2013 a 03 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 551

RELAÇÕES SOCIAIS



A Unicamp deve ter uma política cultural ou a produção cultural na Universidade deve ser o resultado da livre manifestação de suas diversas instâncias? Que linhas de ação o seu programa de trabalho contempla nessa área?

Edgar Salvadori De Decca – Este é o tema que nos diferencia totalmente das demais candidaturas, pois consideramos fundamental articular conhecimento, cultura, arte, política e vida em projetos que valorizem as relações coletivas e com a sociedade brasileira. Propomos três ordens de atuação: a primeira, orientada para a comunidade da Universidade, através da criação de uma agenda cultural permanente nos campi, de uma agenda estratégica do conhecimento e o fortalecimento da inscrição da formação multidisciplinar nos currículos.

A segunda se refere a uma inserção ativa da Unicamp na cidade de Campinas, processo que deverá ter também congêneres para Limeira e Piracicaba. Propomos a transformação da Estação Guanabara em um centro de cultura e formação para inserção social, que atenda jovens e a terceira idade e que seja um espaço cultural aberta para a sociedade de Campinas.

Finalmente, encaminhamos a sugestão de um projeto de cultura, arte e política para produção de material científico didático e paradidático nas diversas modalidades de mídia, com atenção especial com as necessidades do ensino público básico.  Não acreditamos que em uma universidade que segmente ciência, cultura e política, pois entendemos são dimensões indissociáveis e que justificam socialmente a existência da própria Unicamp.

Precisamos lembrar que a formação do estudante não se dá apenas na sala de aula, mas também nos ambientes acadêmicos extraclasse. Nas condições atuais, nossos alunos padecem de escassas possibilidades culturais e vitais. Nós não temos uma Moradia Estudantil, temos um “Dormitório” Estudantil.

Já no primeiro dia de nossa gestão iniciaremos um entendimento com as representações estudantis para a criação da Casa do Estudante da Unicamp, um centro cultural anexo à Moradia com gestão estatutária, onde, de forma livre, eles possam praticar uma vida cultural essencial, trazendo pensadores sociais, artistas e quem mais tenha coisas importantes para dizer e dialogar. Vamos criar de uma sala de cinema coligada à Cinemateca Brasileira – o que terá um impacto extremamente positivo sobre a vida universitária.

José Cláudio Geromel – As duas coisas.  Nas diferentes unidades, é necessário estimular propostas específicas de ações culturais, garantindo agilidade administrativa e meios financeiros. Por sua vez, cabe à Reitoria ativar instrumentos essenciais, negligenciados até agora: TV – instrumento atualmente subaproveitado em qualidade e capacidade de divulgação; criação da rádio Unicamp, com programas de alto nível, nos quais todas as unidades devem participar; desenvolvimento do Portal Internet, para torná-lo vivo, expressivo, abrigando filmagem de aulas e conferências de alta qualidade, além de registros de atividades artísticas (Orquestra Sinfônica, teatro, cinema, exposições artísticas, científicas e tecnológicas). Propomos também a criação de um Centro de Cultura, que deverá produzir atividades diversas e integradoras dos diferentes setores do conhecimento. A Estação Guanabara, hoje tão descuidada, deverá ser reativada de maneira enérgica, como uma antena cultural da Unicamp, digna e expressiva, na cidade de Campinas. Nossa intenção é investir fortemente na cultura, como fundamental para a formação de nossos alunos, e como afirmação de nossa identidade acadêmica.

José Tadeu Jorge – A Unicamp deve traçar sua própria política cultural e, ao mesmo tempo, estimular a livre manifestação cultural nas suas diversas instâncias, pois se trata de iniciativas complementares e mutuamente benéficas. É função da administração superior atuar de forma a integrar essas várias ações de forma harmoniosa.

A Universidade precisa expandir seus instrumentos de ação cultural. De um lado, é preciso aumentar os órgãos e aparatos específicos dessa área capazes de dar condições para a produção de espetáculos de arte significativos, assim como de exposições e outros tipos de ações culturais, a exemplo do Museu Exploratório de Ciências.

Nesse particular, é fundamental que a Universidade implante definitivamente seu Museu de Arte e crie outras instituições que se ocupem de bens culturais relevantes existentes em diversas unidades de ensino e pesquisa, centros e núcleos, assim como no seu Sistema de Bibliotecas e Sistema de Arquivos.

Por outro lado, é necessário sustentar e ampliar programas de ação cultural de impacto na vida da Universidade, a exemplo do programa do Artista Residente, dando mais consistência e apoio à agenda cultural básica da Universidade – nesse caso, criando, através dessa agenda, procedimentos para o aporte qualificado de recursos para tais ações.

Propomos ainda a criação de um Escritório de Produção de Gestão Cultural destinado a captar recursos junto a programas do Ministério da Cultura, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e de outras agências de fomento de atividades artísticas e culturais de extensão comunitária. Caberá também a esse órgão dar apoio logístico à aplicação dos recursos, à produção dos eventos e à prestação de contas.

Mario José Abdalla Saad – Desenvolver uma política cultural não impede a livre manifestação. Pelo contrário, visa a promover condições para que possa haver muitas manifestações e realizações culturais na Universidade. Os investimentos necessários na área da cultura são muito vultosos. Sem prédios adequados, sem acervos, sem pessoal qualificado para apoio a atividades, sem equipamentos de conservação de obras de arte, de iluminação, de som, de gravação etc. não se pode fazer muito e nada de duradouro.

Em nosso programa propomos a criação de uma comissão de alto nível, que possa coordenar ações e medidas que visem à criação e ampliação dos equipamentos culturais da Unicamp, bem como uma agenda efetiva de atividades de difusão científica e cultural. Há muito que fazer: é preciso investir em espaço de cinema, sala de espetáculos bem equipada e para grandes audiências, e ampliar escopo e atividades de espaços como o CIS-Guanabara e Casa do Lago.

Precisamos investir na RTV, para que ela possa ser um poderoso veículo de criação e difusão cultural; retomar esforços para criação de rádio aberta, com programação de relevância cultural e científica. Definidas uma política e uma instância de coordenação das atividades, outros órgãos da Unicamp poderiam, de imediato, dar relevante contribuição à vida cultural de alunos, professores e funcionários. Em nosso programa temos propostas de ações concretas voltadas para o Espaço da Escrita, Programa do Artista Residente, Editora, Museu Exploratório de Ciências, para o recém-criado Museu de Artes Visuais, Bibliotecas e Acervos, e para os Programas Aluno Artista e Artista Residente, entre outras. É tão grande a importância da cultura para nós, que propomos no programa estudar a criação de uma pró-reitoria específica para implantar ações como as que acabamos de referir.

 

Ao longo da sua história, a Unicamp sempre se destacou por estabelecer importantes parcerias em diferentes áreas. Qual será sua política no campo das parcerias estratégicas com os setores público e privado? 

Edgar Salvadori De Decca – Acreditamos que a Unicamp aproveita limitadamente as possíveis parcerias com instituições públicas e empresas. A razão desta situação se deve ao fato de as parcerias serem principalmente iniciativas individuais dos professores ou das próprias instituições ou empresas. As últimas gestões acreditam que o nome Unicamp é tão valorizado, que não justifica ações concretas visando a criação de parceria e o acesso a recursos externos. Pensamos que a política atual é um equívoco completo, pois vemos outras universidades atuarem com decisão e terem parcerias e acesso a recursos relativamente mais expressivos que os conseguidos pela Unicamp.

Neste sentido, entendemos que o reitor, coordenador-geral e os pró-reitores devem continuamente manter contatos com instituições públicas e empresas, sendo porta-vozes junto a elas através do encaminhamento de projetos institucionais da Unicamp e que podem resultar em parceira ou acesso a recursos. Ao fazer isso, a Reitoria estará mostrando que a Universidade possui uma agenda de projetos que podem interessar às instituições públicas e às empresas, e que tem reconhecimento e importância social. 

As ações junto ao poder público municipal e estadual são essenciais para enfrentar problemas das mais variadas ordens dentro da Unicamp. Um deles é a questão do transporte e da circulação de veículos dentro do campus. Consideramos essencial o estabelecimento de novos meios de transporte, inclusive o projeto de um trem urbano (VLT) entre a região ampliada do distrito de Barão Geraldo e o campus. Este problema, já grave e que tende a crescer, só poderá ser resolvido em comum acordo com o poder público. Ao invés de aumentar indefinidamente estacionamentos restritivos para veículos automotores, devemos estimular a diminuição de sua circulação pelos campi.

José Cláudio Geromel – A Unicamp sempre soube estabelecer parcerias estratégicas, mas, sobretudo, com o setor público. Necessita adquirir maior desenvoltura para atuar junto ao setor privado. A transferência de conhecimento científico e cultural à sociedade é fundamental para o desenvolvimento do país. E, portanto, ao gerar riqueza graças à Universidade, é muito justo que parte dessa riqueza deva a ela retornar. Vamos transferir para as unidades de ensino e pesquisa a decisão e a responsabilidade de estabelecer vários convênios, contratos e acordos de cooperação. Os entraves burocráticos serão eliminados. É só assim que poderemos pôr, no centro das decisões, os reais interesses da nossa Universidade.

E, justamente, ao mencionar os reais interesses da Unicamp, queremos assinalar que recusamos a impressão de nosso programa de gestão, tal como nos faculta a Comissão Organizadora da Consulta. Com efeito, trata-se de 10.000 exemplares, de até 80 páginas (para cada candidato!), com custo alto e com incidência sobre o meio ambiente. Preferimos a divulgação via meios eletrônicos exclusivamente. Acreditamos que este é um detalhe expressivo de nossa preocupação com os reais interesses da Unicamp.

José Tadeu Jorge – Graças à sua posição de grande destaque no cenário acadêmico, a Unicamp tem plenas condições de expandir de modo significativo suas parcerias estratégicas com os setores público e privado, ampliando assim a sua interação com a sociedade. Por meio delas, a Unicamp pode colocar o seu enorme acervo de conhecimentos voltado para pensar, refletir e procurar respostas e soluções para os problemas cruciais da sociedade tais como: desenvolvimento com redistribuição de renda, geração de energia, sustentabilidade e meio-ambiente, qualidade de vida da população – saúde, educação, segurança, lazer – transferência de conhecimentos e tecnologias à sociedade, entre muitos outros. Todas elas são questões fundamentais e profundamente importantes em uma sociedade em desenvolvimento e com alto grau de desigualdade social, como a brasileira.

Cabe à Unicamp, fundamentada no seu vasto acervo de conhecimentos e de saberes, e por meio dessas parcerias estratégicas, empenhar-se no debate dessas questões, buscando caminhos que possam levar o Brasil a superar problemas que se devem fortemente à falta, em larga escala, de formação qualificada. Essas ações envolvem, necessariamente, o diálogo com todas as instâncias do Estado brasileiro e com outras instituições acadêmicas do país.

Propomos ainda o estabelecimento do Fórum “Pensamento Estratégico”, como forma de contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do país, propiciando maior produção de riqueza e, principalmente, a sua distribuição em benefício da qualidade de vida de toda a população. O Fórum será o lugar de reunião de professores, pesquisadores, dirigentes públicos e privados, do terceiro setor, das pessoas interessadas em ações transformadoras para a sociedade. Na pauta, os grandes temas nacionais e internacionais, tendo a Universidade no centro das reflexões inovadoras.

A  Unicamp irá ainda manter um relacionamento pró-ativo com os municípios onde atua, oferendo contribuições efetivas em áreas como educação, meio ambiente, lazer, cultura e artes, entre outros, como já vem fazendo com competência na área de saúde.

Mario José Abdalla Saad – Continuaremos apoiando o que está dando certo e criaremos estratégias para atração de novas parcerias, públicas e privadas. Para isso, vamos estimular a participação crescente da Unicamp no ecossistema de inovação, em nível local, estadual e nacional, por meio de projetos colaborativos de P&D com organizações e empresas dos setores público e privado. Um bom impulso para isto virá do Parque Científico e Tecnológico de Campinas e, como pretendemos, da criação do Parque Científico e Tecnológico de Limeira.

Trataremos de fortalecer a Unidade de Apoio ao Pesquisador para que possamos atrair maiores recursos, utilizando agências de fomento e os incentivos dados pelas leis do petróleo, eficiência energética, informática e Rouanet. Daremos especial atenção ao estabelecimento de convênios com a Secretaria de Estado da Educação, com as Prefeituras Municipais e com o Governo Federal objetivando a formação de professores da educação básica. Será também importante o estabelecimento de convênios com os órgãos públicos visando o desenvolvimento da área da cultura. Na área da saúde, pretendemos estabelecer um convênio a Prefeitura Municipal de Campinas, assumindo um novo pronto-socorro na cidade, bem como Unidades Básicas de Saúde em algumas regiões, com financiamento compartilhado da Prefeitura e do Ministério da Saúde. É importante e estratégico ampliar a inserção da Unicamp na gestão de novos hospitais e Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) na região, em conjunto com o Secretaria de Estado da Saúde.

Simultaneamente a todas essas ações, trataremos de rever a política institucional de propriedade intelectual, para proteger os interesses da Universidade e favorecer o estabelecimento de parcerias estratégicas em P&D.