Edição nº 555

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 25 de março de 2013 a 25 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 555

O curso é a distância. E a avaliação, próxima

Método fundamenta-se em dados relevantes extraídos dos suportes online


Frente ao crescente aumento do ensino superior a distância no país, pesquisa da Unicamp revela importante fonte de informação para avaliar a qualidade dos cursos nesta área. Trata-se dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), suportes online para o gerenciamento de conteúdo dos cursos desta modalidade.

O estudo demonstrou que os elementos contidos nos AVAs podem fornecer informações relevantes, seguras e precisas para auxiliar a avaliação. Estes dados são obtidos automaticamente, via ferramentas computacionais, graças a uma metodologia desenvolvida pelo pesquisador Ricardo Luís Lachi.

O método é executado por meio de suporte computacional denominado pelo estudioso como Sistema de apoio à Avaliação de cursos do Ensino Superior a Distância (SAESD). Além dos dados coletados nos AVAs, também são utilizadas para a avaliação outras informações, obtidas a partir de questionários aplicados junto aos usuários dos cursos.

Conforme o Censo da Educação Superior, divulgado em 2010 pelo Ministério da Educação (MEC), houve cerca de 1 milhão de matrículas em cursos de ensino superior a distância no Brasil. Embora relativamente defasado, o número representa quase 15% do total de matrículas de graduação no ensino superior do país, calcula Ricardo Lachi.

A metodologia desenvolvida por ele integrou tese de doutorado defendida junto ao Instituto de Computação (IC) da Unicamp. A docente Heloisa Vieira da Rocha, do Departamento de Sistemas de Informação do IC, orientou o trabalho. A pesquisa contou com financiamento parcial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq).

“No Brasil, a avaliação dos cursos a distância ainda é muito incipiente. Com este modelo são levantados aspectos positivos e pontos que podem ser melhorados no curso, nunca com o viés negativista”, avisa o pesquisador e cientista da computação, que é docente da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul desde 2005.

Ainda de acordo com Ricardo Lachi, os modelos avaliatórios existentes não especificam, de forma clara e tipificada, quais são os dados e como eles devem ser obtidos. “Definimos para o contexto brasileiro um conjunto de indicadores que são utilizados e recomendados para uma avaliação eficiente em termos mundiais. Com base nisso, o SAESD já classifica, automaticamente, a situação do curso”, esclarece.

O cientista da computação explica que os dados coletados estão registrados nestes ambientes virtuais de aprendizagem. São informações, entre outras, sobre os horários e a frequência de acesso ao ambiente e aos conteúdos; acerca das atividades realizadas; e a respeito das interações entre os participantes do curso.

Uma informação relevante para a avaliação é saber, por exemplo, se aquele sistema virtual esteve disponível para o usuário em todos os momentos do curso. Isto atestaria a confiabilidade do curso quanto ao acesso a conteúdos e também sua disponibilidade para a interação dos participantes. Numa avaliação tradicional, estes tipos de elementos são coletados junto aos alunos e docentes, mas há o risco, conforme o pesquisador, de respostas imprecisas.

“Se o usuário disser que o sistema estava indisponível, será que não foi só naquele momento em que ele tentou acessar? E se o ambiente estiver sobrecarregado ou houver uma interrupção de energia? Computacionalmente, o ambiente está lá. E é possível conseguir estes dados de registro e verificar, realmente, o que aconteceu durante todo o período em que o sistema estava funcionado. Verificar se ele caiu e qual foi a causa”, exemplifica o estudioso.

ESTUDO INTERNACIONAL
Ricardo Lachi informa que elaborou ampla revisão bibliográfica, tanto nacional como internacional. De acordo com ele, o trabalho se baseou em diretrizes de uma pesquisa internacional sobre o tema, desenvolvida pelos estudiosos Ronald Phipps e Jamie Merisotis, do Institute for Higher Education Policy (IHEP), localizado nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada em 2000, é denominada “Quality on the line – benchmarks for success in Internet-based distance education”.

“Pela sua aplicabilidade em termos mundiais, este estudo foi adotado na Universidade Aberta do Reino Unido, da Austrália e de Hong Kong. É uma referência mundial, considerado um benchmarking internacional na área. Só que ele é contextualizado em termos norte-americanos e tem necessidade de especificação”, observa o pesquisador.

INDICADORES
O estudo internacional usado como base na investigação é representado por 24 indicadores de qualidade organizados em sete categorias: suporte institucional; desenvolvimento de uma disciplina; processo de ensino-aprendizagem; estrutura de uma disciplina; apoio ao discente; apoio ao docente e avaliação dos discentes e do curso.

“A validade dessas informações especificadas foi comprovada estatisticamente. De fato, elas são relevantes no contexto de avaliação, que é uma atividade, muito vezes, subjetiva. Avaliamos estas informações por meio do uso de um coeficiente estatístico específico para essa finalidade, que é o Alfa de Cronbach. Ele permite validar um instrumento de pesquisa. Além disso, respaldamos a avaliação em instrumentos do Sinaes [Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior]”, embasa o cientista da computação.

CONTEXTO NACIONAL
O Sinaes é empregado pelo Ministério da Educação (MEC) para avaliar as instituições, cursos e o desempenho dos estudantes de ensino superior do país. O próprio MEC, conta o pesquisador, emprega diretrizes do IHEP, embora a avaliação das disciplinas a distância seja baseada nos cursos presenciais das mesmas instituições.

“Acredito que o meu trabalho dá contribuição importante em muitos aspectos até porque tem questões que o MEC não contempla em sua avaliação, que pode ser aprimorada”, aponta Ricardo Lachi. “A educação é condição essencial para que a sociedade se desenvolva, evolua e cresça. E, hoje, numa sociedade agitada na qual as pessoas têm pouco tempo para suas atividades, os cursos a distância vêm ocupando espaço. Garantir, portanto, qualidade nesta área é fundamental”, finaliza.

Publicações
Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. Um Modelo para Avaliar Cursos Superiores Brasileiros via Internet. Revista Informática na Educação: teoria & prática. Porto Alegre, v.14, n. 1, janeiro/junho 2011b. ISSN digital: 1982-1654. ISSN impresso: 1516-084X.
Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. SAESD – Sistema de Apoio para a Avaliação de cursos Superiores a Distância. VI Congresso Ibero-americano de Telemática (CITA 2011). Gramado, Rio Grande do Sul. 2011a.
Lachi, Ricardo Luís; Rocha, Heloísa Vieira da. Avaliação da qualidade no ensino superior à distância via Internet no Brasil. VII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância (ESUD 2010). Cuiabá, Mato Grosso. 2010.
Lachi, Ricardo Luís; Oeiras, Janne Yukiko Yoshikawa; Rocha, Heloísa Vieira da. Avaliação de cursos a distância: uso de indicadores para assegurar qualidade. Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE 2006). Brasília, Distrito Federal. 2006.
Tese: Avaliação da Qualidade de Cursos Superiores a Distância
Autor: Ricardo Luís Lachi
Orientadora: Heloisa Vieira da Rocha
Unidade: Instituto de Computação (IC)
Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq)