Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 01 de julho de 2013 a 28 de julho de 2013 – ANO 2013 – Nº 567#ogiganteacordou?
Em menos de 20 dias, eles se multiplicaram nas ruas. Passaram de cerca de 2 mil pessoas, em um protesto isolado em São Paulo (06/06), pela redução do preço da passagem do transporte público, para mais de um milhão de brasileiros espalhados, ao mesmo tempo, em quase 400 cidades do país e com uma pauta variada de pedidos (20/06), na maior “onda” de manifestações já vista no Brasil. Em três semanas, conseguiram modificar a agenda de trabalho e influenciar decisões dos governos federal, estaduais e municipais. Caíram reajustes aplicados ao transporte coletivo, em uma reação em cadeia que atingiu diversas cidades, incluindo grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro. Outros aumentos, como o do preço dos pedágios paulistas (6,5 %) e da conta de energia elétrica no Paraná (14,6%), foram suspensos na sequência. Partidos políticos e setores da imprensa nacional, nesse período, saíram das críticas para o reconhecimento da importância dos atos. No ápice da ocupação das ruas, em meio a uma série de protestos pacíficos e outros violentos, a presidente Dilma Rousseff foi à TV, em rede nacional (21/06), tentar acalmar os brasileiros e, logo depois, anunciou um novo pacto político “em favor do Brasil” (24/06), baseado em cinco propostas: realizar um plebiscito para uma constituinte exclusiva sobre a reforma política e criar novas leis contra a corrupção; estabelecer um pacto pela responsabilidade fiscal; acelerar investimentos em saúde e contratar médicos estrangeiros para hospitais públicos; ampliar a desoneração de impostos no setor de transportes; e destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação.
No momento em que este texto é escrito, o país está em ebulição, um importante capítulo da história está sendo produzido, como resultado do alinhamento de diversas situações, desejos e inquietações populares. O mundo, e o próprio Brasil, tentam compreender melhor o que despertou o “gigante” – uma expressão incorporada pelos manifestantes, por meio das redes sociais, a partir de um comercial de bebida que mostra um ser de pedra enorme erguendo-se do morro do Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, até então, uma alusão ao momento de recuperação da imagem e da economia do país no cenário mundial. Diante de tantas perguntas, o Jornal da Unicamp lançou um desafio a onze renomados intelectuais brasileiros, de diferentes áreas e perspectivas do conhecimento, para responder a três questões fundamentais: o que eles, estudiosos, estão “vendo” de fato nas ruas, como chegamos a esta situação e qual futuro nos aguarda? As respostas possíveis, diante da sucessão dinâmica dos fatos que todos os dias tomam o noticiário, estão nas páginas seguintes (de 6 a 9), divididas exatamente por essas questões mencionadas.
O brasileiro que foi às ruas, no dia com maior concentração de manifestantes (20/06) no país, entre 14 e 29 anos (63%), estudou até o segundo grau ou a faculdade (92%), trabalha (76%) e estuda (52%) e tem renda familiar de dois a dez salários mínimos (56%), segundo pesquisa realizada pelo Ibope em oito capitais do país. A maioria protesta contra o transporte público, mas também contra o ambiente político e a saúde, em um rol que reúne dez variados temas principais, citados por eles simultaneamente. Nesta manifestação, realizada 14 dias depois da primeira, 46% dos participantes estavam nas ruas pela primeira vez, o que demonstra o potencial de crescimento do movimento. A maioria (91%) soube dos protestos pela internet, particularmente pelo Facebook (77%) e convocou (75%) outros amigos a engrossarem as manifestações nas oito capitais pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador e Brasília). As depredações são condenadas (66%) e as manifestações devem promover as mudanças esperadas, segundo 94% dos entrevistados. Dos que estão nas ruas, 89% dizem ter interesse por política (muito ou médio interesse), mas eles não se sentem representados por nenhum político (83%) ou partido (89%). Também não são filiados a partidos (96%) ou a sindicatos/entidades de classe (86%).