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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 11 de novembro de 2013 a 24 de novembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 583Entre a arte e o infravermelho
A trajetória de Márcia Cristina Quaiatti Antonelli, técnica do Instituto de QuímicaPode ser que a escolha profissional tenha o toque dos “palpiteiros”, mas a profissão que faz bater o coração e marejar os olhos, a ponto de querer se alimentar dela todos os dias, pode se acuar com as apostas de terceiros. Trabalho tem de ter sinonímia com vida e não com dinheiro, ainda que este garanta sustento. Muitas vezes, para ter alegria em plenitude (ou quase isso), é preciso unir duas ou três áreas numa só vida. Daí a importância de o currículo escolar passear por todas as áreas do conhecimento desde a infância, inclusive a arte, esta que, de um cantinho no projeto pedagógico, pode se tornar profissão. Não só a profissão que dá sustento, mas também a que torna o ser humano mais sensível, criativo e crítico.
“Quando se fala em currículo escolar, as pessoas, até mesmo as famílias, não pensam no benefício que a vivência artística tem na vida do indivíduo. Por meio dessa manifestação, a pessoa pode ter criatividade até mesmo para gerenciar as surpresas da vida e sensibilidade para conviver, saber se relacionar com as pessoas no mundo do trabalho ou na academia”, defende Márcia Cristina Quaiatti Antonelli, artista plástica e técnica em química do Instituto de Química (IQ) da Unicamp.
Nem sempre as habilidades para a arte se manifestam na infância. Na vida de Márcia, o desejo de viver de arte teve início no meio da formação técnica em Química, quando a Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado (Etecap) ainda se chamava Coticap. “Comecei a fazer um curso de óleo sobre tela e me apaixonei. Decidi estudar artes plásticas. Fui orientada por meus pais a buscar formação técnica para sair profissional do ensino médio, mas, no meio do caminho, encontrei a pintura e me inscrevi no vestibular da PUC-Campinas.”
Mesmo trabalhando na sala de aparelhos – infravermelho –, no Instituto de Química, Márcia encontrou outro meio de se dedicar à arte: a transmissão de conhecimento. Com o projeto pessoal de resgatar a dedicação à pintura, interrompida pela decisão de priorizar a educação dos filhos, surgiu o convite da psicóloga da unidade, Maria Helena Santos Almeida, em 2009, para ministrar as oficinas de pintura em tela do Programa de Integração do Instituto de Química (PIQ). A atividade avivou mais ainda em sua cabeça as cores das tintas, a textura das telas e ela passou a escrever seus próprios projetos, submetidos a diferentes órgãos da Universidade.
Já que na infância esta vivência nem sempre é proporcionada, Márcia procura oferecê-la a outras pessoas na fase adulta, por acreditar que a pintura leva o indivíduo a exercitar a arte como um todo, ajudando-o a expor suas ideias e sentimentos, além de expandir sua visão de mundo e torná-lo mais feliz. A jornada como responsável pela sala de infravermelho do Laboratório de Aparelhos do IQ é dividida com oficinas de pintura dedicadas a quase 90 funcionários da Universidade. “Essas oficinas são semanais e trabalham com a pintura acadêmica, sendo abertas a funcionários e professores de toda a comunidade da Unicamp.”
A experiência com os alunos do PIQ motivou Márcia a criar mais grupos de servidores com interesse em pintura. Em 2011, colocou as tintas na mesa, e ofereceu seus méritos ao Grupo Gestor de Benefícios (GGBS), apresentando o projeto ao coordenador, Edison Lins, o qual rapidamente abraçou a proposta. Desde então, não tem um segundo de seu tempo vago na Unicamp. As oficinas geralmente acontecem no horário de almoço, final de tarde ou aos sábados em unidades como Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti (Caism), Hospital de Clínicas e Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGA).
Em cinco anos de ensino de arte, a artista plástica já pode relacionar resultados positivos alcançados pelos alunos, não somente do ponto de vista estético, mas também pessoal. “Eles relatam melhoria na qualidade de vida, realização pessoal, diminuição do índice de estresse, melhoria no relacionamento interpessoal, na concentração, na atenção ao trabalho e da autoestima, autovalorização e alívio nas angústias psíquicas.”
Pintura abstrata, para trabalhar a criatividade; casarios, para exercitar sombra, luz e perspectiva; paisagens e lápis de cor. É assim, por meio de programas temáticos, que Márcia consegue melhorar a qualidade técnica e estética das pessoas, mas também estabelecer-se como professora. “Descobri que gosto de ensinar. Esse foi meu grande presente. Até porque as atividades acabam se configurando em qualidade de vida para mim, a partir do momento em que contribuo para esse desenvolvimento pessoal e ao mesmo tempo em que passo a interagir com outras pessoas. Estudamos, pintamos, conversamos, enquanto nos divertimos muito também.”
Críticas? Sempre no sentido de melhorar a performance sem perder a mão do projeto de qualidade de vida. “Há pessoas que necessitam de mais ajuda que outras. É preciso respeitar essas diferenças. Tenho de saber lidar com a autoestima. Avalio, aconselho a melhorar a sombra, oriento sobre o uso das cores e nuances que não tornem a imagem ‘sem vida’, e alguns até retornam com observações críticas sobre obras que observaram em espaços públicos. Sinal que os encontros aguçam o senso crítico deles. Isso é muito gratificante para quem ensina.”
Entre os aprendizes, alguns já estão em fase de lapidação. “Neste grupo que estou há mais tempo, alguns alunos pintam em casa e me trazem somente para avaliar. Um deles, Flávio Cezar Geraldo, do Recursos Humanos do IQ, diz que acorda de madrugada, perde o sono e começa a pintar. Quando chega à aula, somente oriento-o sobre o que pode estar faltando em seu trabalho.” Flávio está tão envolvido com a pintura que, a cada viagem, fotografa inúmeras imagens e as reproduz em suas telas, segundo Márcia.
Por mais que aprecie muitas cores e movimentos expansivos, Márcia não interfere na escolha de alunos de nível avançado. “Alguns usam pouca tinta e abusam da transparência; outros preferem usar pincéis bem finos, e eu respeito, pois cada um tem seu próprio estilo dentro da pintura.”
Izabel Filippi, Nilza Silva Marin, Iris Duarte, Angela Custodio, Marlene e Adriana Rossi também são destaque na pintura por terem habilidades desenvolvidas a ponto de escolherem suas fotos e pintarem em casa. Em outras unidades, Márcia também tem alunos nesta fase de desenvolvimento em relação à pintura. Entre eles estão Ana Cristina Ramos, Maria José Frungillo, Elza Biffon , Vânia Santos, Sueli Lopes, Rosana Sartori e Eliane Scarim, participantes dos grupos da DGA e HC.
Apesar de todo apoio que tem recebido, Márcia acredita que as unidades têm de apostar mais em atividades que ofereçam mais qualidade de vida a seus funcionários. “Gostaria de poder me dedicar a esta atividade em tempo integral, para poder melhorar a vida de mais pessoas, além dessas com as quais tenho essa troca. Há unidades que são carentes em relação a programas voltados à melhoria da qualidade de vida de seus funcionários. Estas precisam pensar mais nos servidores, porque, motivados, passam a trabalhar melhor.”
O empenho levará as telas para o Espaço Cultural Casa do Lago, onde alunos do curso de pintura acadêmica e de abstrato apresentarão suas produções em exposição a ser realizada em 2 de dezembro. O grupo do Instituto de Química fará a Exposição no Espaço da DGA em 11 de dezembro.
Em 2014, o projeto será ampliado com oficinas de lápis de cor para outras unidades da Unicamp. “É importante para nós a abertura de espaços como este, com foco na arte abstrata. São oficinas rápidas, com duração de dois dias, realizadas nas unidades. Esta atividade educa, especialmente, para o aguçamento dos sentidos e elaboração do pensamento numa maneira singular de visualizar a própria arte, mais ampla, já que os reconhecimentos da realidade são inexistentes e não essenciais”. Segundo Márcia, o resultado das oficinas de abstrato apresenta telas ímpares, com traços, linhas e movimentos distintos, com respeito ao estilo próprio de criação e expressão artística de cada autor.
Química
A química, área que assumiu em 1987 na Unicamp, é outro lado seu, conforme diz a artista. A história na sala de infravermelho é marcada pela boa relação com os amigos de trabalho e pelo entrosamento com os alunos, que passam por treinamento na sala de infravermelho. “Sou responsável pela sala de infravermelho há muitos anos. Sempre trabalhei com treinamento de alunos. Foi com eles que descobri o quanto gostava de ensinar. Acabei sendo selecionada no concurso em 1987 por ter trabalhado durante três anos em uma indústria química. Lá dificilmente seria liberada para fazer arte.”
A volta aos pincéis revelou não somente uma educadora artística, mas também uma aluna aplicada, com direito a ver suas obras percorrendo países distantes por meio do Circuito Internacional de Arte Brasileira. No final deste ano, seu trabalho irá para a Turquia. Até porque um professor de arte não deve parar de estudar nunca. Hoje, Márcia é aluna-artista em uma escola de Amparo e Jaguariúna, por meio da qual submete suas obras à avaliação de um comitê julgador que tem selecionado seus trabalhos pelo menos nas últimas quatro edições do catálogo. “Enviamos duas obras, de acordo com o tema proposta a cada edição, e eles escolhem uma obra de cada artista selecionado. É um intercâmbio muito importante.”
O Circuito tem como objetivo promover o reconhecimento e a independência profissional e enriquecer o currículo do artista brasileiro. No foco da organização da publicação estão também a abertura de mercado externo de forma direta; intercâmbios de movimentos culturais entre os estados participantes; a participação do artista, como voluntário, em ações sociais de cultura em se município, valorizar a diversidade de divulgação do artista e do evento para a imprensa local, democratizar acesso a bens de cultura e favorecer o diálogo com outras culturas e a criação artística emergente.
Comentários
Entre a arte e o infravermelho
Muito boa a reportagem acima, que retrata exatamente o que a Márcia é.
Ressalto aqui a importância da Márcia em nossas vidas, no que tange principalmente no resgate de nossa autoestima e da melhoria na qualidade de vida.
Como sua aluna, posso dizer que além de uma excelente artista, ela é uma professora fantástica.
Uma pessoa paciente, amável, simpática e competente no que faz.
Deixo aqui o meu muito obrigada.
Entre a arte e o infravermelho
Muito boa a reportagem acima, que retrata exatamente o que a Márcia é.
Ressalto aqui a importância da Márcia em nossas vidas, no que tange principalmente no resgate de nossa autoestima e da melhoria na qualidade de vida.
Como sua aluna, posso dizer que além de uma excelente artista, ela é uma professora fantástica.
Uma pessoa paciente, amável, simpática e competente no que faz.
Deixo aqui o meu muito obrigada.
Grande profissional
Fiquei imensamente feliz em ver esta matéria. Márcia é uma profissional, em todos os sentidos: no trabalho, no trato com as pessoas e na arte. Uma artista que vêm somando e enriquecendo a Comunidade Universitária. Parabéns! Muito orgulho de poder ter compartilhado alguns momentos ao seu lado.
Parabéns pelo belo trabalho,
Parabéns pelo belo trabalho, paciência e dedicação. Fui seu aluno no curso realizado em 2012.
A Márcia é d+
Sou suspeita para falar da Márcia. Com a Márcia desenvolvi uma capacidade que acreditava que não tinha, mas tenho, a capacidade de Pintar. Pintei algumas telas e todas ficaram lindas. Com a Márcia comecei a pintar em um mini curso oferecido pelo SIMTEC, depois passei a frequentar as aulas aos sábados (estava aqui às 08h30) e agora estou na turma da hora do almoço. É maravilhoso participar deste grupo, a Márcia é atenciosa, paciente e dedicada aos seus alunos e, entende muito bem de arte. Nestas aulas do almoço pintamos, gargalhamos e recordamos muita coisa/situação passada. Ah! Falamos também de maridos e filhos. Parabéns por esta iniciativa.
Entre a arte e o infravermelho
Parabéns e muito obrigada Márcia, pelo carinho e prazer em ensinar a pintura em tela. Minhas telas foram bastante elogiadas, então digo que é o olhar da minha professora.
A Márcia nos ensina muito
A Márcia nos ensina muito mais que apenas técnicas de pintura, ela motiva cada um de nós a continuar, ajuda nas dificuldades. Ninguém pode dizer que é impossível pintar, a Márcia sempre dá um jeito. Antes só sabia fazer casinhas e pessoas de palitinhos. Parabéns Márcia, você é realmente uma grande PROFESSORA!
Entre a arte e o infravermelho
Quero agradecer a Márcia por aceitar meu convite para ser a professora de pintura em tela dentro do projeto que eu coordenei (Programa de Integração do Instituto de Química), me lembro como foi desafiador e ousado ensinar funcionários, alunos e professores do IQ misturarem as tintas para criarem as primeiras flores propostas.
O sucesso desse trabalho foi possível, porque acreditou-se que era possível ensinar pessoas a sonharem.
Márcia obrigada por ter me ajudado a transformar nosso ambiente de trabalho em um local prazeroso, apesar dos altos e baixos que o dia a dia nos apresenta.
Parabéns e continue investindo nos seus sonhos.