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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 08 de setembro de 2014 a 12 de setembro de 2014 – ANO 2014 – Nº 605Metodologia ensina a ‘engenheirar’
Para pesquisador, ambiente adequado é um forte motivador para o aprendizadoUma metodologia para o ensino de engenharia elétrica acaba de ser desenvolvida pelo pesquisador Ivan Cardoso Monsão em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec). Essa ferramenta, que deve gerar um livro, já em fase de redação, busca complementar a formação dos estudantes para aprenderem a “engenheirar” antes de concluírem a sua formação na Universidade.
Essa metodologia inclui a transmissão do conhecimento tácito (aquele adquirido ao longo da vida, pela experiência) de um profissional atuante na engenharia para os estudantes, a criação de um ambiente adequado (um laboratório paradidático) e a participação dos envolvidos em projetos reais.
O conhecimento técnico é embasado em estudo dirigido e por meio da atuação de professores tutores voluntários em um papel consultivo (mentores/coaches), sob demanda, nas suas áreas de especialidade.
Um modelo paradidático foi escolhido por conta da complexidade dos procedimentos convencionais como a reforma curricular, a criação de novas disciplinas ou modificações nas já existentes e requalificação dos professores, frisa o engenheiro eletricista. A ideia é simplificar tudo.
Ivan relata que atuou profissionalmente em muitos projetos em engenharia que envolveram parcerias universidade-empresa, além do trabalho conjunto com professores, pesquisadores e estudantes. “Apesar de a Universidade ter em vista o ensino, a pesquisa e a extensão, observei que ela dá maior ênfase à pesquisa e menos às diferenças na formação, aos ambientes e metodologias de trabalho dos dois tipos de perfis necessários para desenvolver a tecnologia e a inovação: o pesquisador e o engenheiro”, comenta.
Em sua opinião, esta ênfase na pesquisa faz surgir uma assimetria que se reflete diretamente na formação da maioria dos estudantes de engenharia que conclui a graduação com o perfil mais voltado à pesquisa e mais habituado a conviver no ambiente e com as metodologias de pesquisa.
O doutorando diz que o estudante típico de engenharia realiza pelo menos um trabalho de iniciação científica, publica pelo menos um trabalho acadêmico e escreve um trabalho de graduação ou de conclusão de curso, cujo formato de redação, apresentação e avaliação é feito nos moldes de uma tese acadêmica.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Instituto Evaldo Lodi (IEL) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) publicaram dois manifestos – um em 2006 chamado Inova Engenharia e outro em 2010 denominado Engenharia para o Desenvolvimento – apontando a necessidade de modernizar o ensino de engenharia e dar relevo às atividades práticas.
Essa necessidade foi verificada também por outros países como os EUA, ao criar o Olin College em 1997 e o projeto CDIO (Conceive, Design, Implement, Operate) em 2000, este último liderado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), a mais respeitada escola de engenharia do mundo. Em 2011 foi criado o laboratório de inovação de Harvard (iLab).
Autonomia
A pesquisa de Ivan foi realizada entre 2006 e 2013 com resultados obtidos de trabalhos desenvolvidos no BiLab Business and Innovation Lab, idealizado e implantado por ele em uma universidade privada. Os resultados da pesquisa mostraram como alguns estudantes do segundo e do quarto semestres do curso de engenharia elétrica participaram de projetos reais (que tinham de ser entregues a clientes). “Eles foram capazes de resolver os problemas dos projetos contratados, que tinham um alto grau de complexidade, e mais: conseguiram criar ferramentas para resolvê-los de modo autônomo e começaram a fazer engenharia enquanto aprendiam”, garante.
Ivan notou que a criação de um ambiente adequado (paralelo ao curso) é um forte motivador para o aprendizado, para que os estudantes possam atuar com engenheiros em projetos reais. Assim, eles não apenas absorvem o conhecimento tácito deste profissional, mas também entendem o que é a engenharia na prática (ainda dentro da universidade), aprendem a buscar o conhecimento por si mesmos e começam a assumir a responsabilidade pela sua formação.
Outro aspecto é que a adaptação da metodologia utilizada no laboratório paradidático – sob a forma de seminários para turmas de uma disciplina curricular chamada Laboratório Integrado – mostrou uma evolução na qualidade dos trabalhos apresentados no fim do semestre, indicando que a adaptação da metodologia para a sala de aula também traz resultados positivos.
“Este trabalho então contribui para chamar a atenção para o fato de que a maior parte do conhecimento prático está no próprio profissional”, considera Ivan. “E toda a informação teórica, necessária para a solução de problemas, está disponível em livros e na internet.”
A metodologia de ensino atual, lamenta o pesquisador, ainda é expositiva e acompanhada de modo passivo pelos estudantes. O ambiente de ensino ainda é o mesmo da clássica sala de aula com quadro negro ou branco.
Em sua opinião, a pesquisa básica é estratégica à manutenção de vantagens competitivas na indústria e, para isso, a formação de recursos humanos nesta área é imprescindível. “É preciso, porém, que a Universidade dê mais atenção à formação efetiva dos engenheiros, para que estejam aptos a transformar conhecimento obtido nas pesquisas em bens e serviços, e colaborar para minorar problemas locais”, salienta.
Ivan obteve o seu título de mestre na área de Microeletrônica na Unicamp, onde trabalhou como pesquisador por oito anos no LED (Laboratório de Eletrônica e Dispositivos), ligado ao Departamento de Eletrônica e Microeletrônica (Demic) da Feec. Trabalhou em projetos de engenharia e biotecnologia na Alemanha, na Suíça e na China.
Publicação
Tese: “Uma nova metodologia de ensino de engenharia elétrica usando um laboratório paradidático”
Autor: Ivan Cardoso Monsão
Orientador: José Antonio Siqueira Dias
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec)