Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 16 de março de 2015 a 22 de março de 2015 – ANO 2015 – Nº 619Unicamp traz modelo inovador de pesquisa ao Brasil
A Unicamp agora integra o Structural Genomics Consortium (SGC), grupo internacional de pesquisa biológica e biomédica formado pelas universidades de Oxford, Toronto e mais dez empresas do setor farmacêutico. A universidade passará a ser o terceiro polo acadêmico do grupo. Esse polo brasileiro ficará dedicado à pesquisa de quinases – enzimas que afetam o funcionamento das proteínas no interior das células, e cujo controle é uma área de grande interesse na pesquisa médica.
“Há, atualmente, uma limitação do conhecimento na área da síntese de novos medicamentos. O entendimento dessas proteínas quinases, moléculas muito específicas do funcionamento celular, será fundamental para avançar nesta área”, disse a pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, Gláucia Maria Pastore. O lançamento oficial do SGC no Brasil foi formalizado na manhã do último 10, em cerimônia na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que fará um aporte de US$ 4,3 milhões na instalação de um novo laboratório na Universidade, o Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases. A Unicamp está investindo US$ 1,9 milhão no laboratório, e os demais parceiros de SGC, US$ 1,3 milhão.
“Também é preciso computar quanto a Universidade investe em termos de uso de instalações, salários de professores e outros custos”, disse, durante a cerimônia de assinatura, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa, Carlos Henrique de Brito Cruz. “Se levarmos isso em conta, a contribuição da Unicamp é do mesmo tamanho que a da Fapesp”. O presidente da Fapesp, Celso Lafer, também participou da cerimônia de lançamento e elogiou o caráter “inovador e original” da parceria.
Estresse hídrico
O pesquisador que encabeça o novo laboratório, Paulo Arruda, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, destacou que o polo brasileiro do consórcio será o primeiro a tratar, também, de biologia de plantas. “A ideia de juntar plantas e pesquisa biomédica não é usar extratos das plantas para produzir drogas ou algo assim”, explicou ele. “O que vamos buscar é o uso do conhecimento e da tecnologia desenvolvidos para pesquisar quinases humanas para pesquisar problemas na biologia vegetal. E vamos focalizar um problema especial: como as plantas respondem ao estresse hídrico. Porque vamos enfrentar mudança climática nas próximas décadas, precisamos aprender a produzir mais com menos água, e para isso precisamos aprender como as plantas respondem ao déficit de água”. Quinases também são importantes na biologia das plantas, lembrou ele.
“Vamos usar o jeito de pensar desenvolvido pela ciência biomédica” para realizar pesquisas em grande escala e estudar moléculas específicas, disse Arruda. “E, ao juntar as equipes de ciência vegetal e da pesquisa médica, vamos eliminar etapas, porque eles já sabem muito bem como fazer isso”.
Inovação aberta
O SGC adota uma política de abertura total: não só os resultados científicos e as moléculas criadas no contexto do consórcio são liberados para acesso público, como os métodos e técnicas também são “open source”, nas palavras do CEO do consórcio, o pesquisador canadense Aled Edwards, que também tomou parte na cerimônia realizada na Fapesp. “O compromisso é que ninguém patenteia nada”, disse ele.
Não há nada que impeça, no entanto, que empresas estabelecidas ou “start-ups” usem os resultados do SGC como base para o desenvolvimento de produtos que podem vir a ser patenteados. “Ficarei desapontado se o laboratório na Unicamp não produzir pelo menos duas ‘start-ups’ nos próximos anos”, disse o CEO.
Bill Zuecher, representante da farmacêutica GSK, explicou que o estudo detalhado das mais de 500 quinases humanas está além da capacidade de qualquer empresa farmacêutica individual, daí a lógica de trabalho conjunto e abertura. “Se continuássemos no modelo da pesquisa proprietária, nós, como sociedade, estaríamos desperdiçando recursos, por conta da duplicação de esforços, com cada grande empresa investindo nas mesmas moléculas”, disse ele, lembrando que a taxa de sucesso na pesquisa farmacêutica é extremamente baixa – menos de 5% dos medicamentos que entram em fase de teste clínico acabam aprovados para uso humano. “E isso simplesmente não faz sentido”.
Com o modelo de inovação aberta, o consórcio realiza o trabalho bruto de encontrar as moléculas que parecem mais promissoras, que em seguida são liberadas no domínio público, e podem ser aproveitadas na criação de produtos patenteáveis.
Integração
“O SGC traz o conceito de unir as melhores práticas da indústria às melhores práticas da academia”, disse Arruda. “Então, existe toda uma plataforma que é utilizada para se fazer a descoberta de novas drogas baseadas nas quinases. Isso envolve uma série de passos, entre identificar, isolar, testar, e uma das coisas mais importantes é treinar estudantes, pós-docs e outros, para aprender toda essa tecnologia”. O laboratório também deverá receber um grande número de pesquisadores visitantes e realizar colaborações interdisciplinares. “Toda a estrutura estará voltada para ajudar, colaborar e produzir resultados de melhor qualidade. Essa é a forma com que o SGC vai trabalhar aqui”, completou o pesquisador.
O coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Crósta, destacou o papel do novo laboratório na internacionalização da pesquisa brasileira: “O modelo vai permitir uma forte interação entre docentes, pesquisadores, e também estudantes, com seus pares das instituições parceiras fora do Brasil”, disse. “E em decorrência disso, certamente surgirão excelentes condições para uma ampla colaboração internacional, aumentando o impacto internacional de nossas atividades, o quer certamente terá reflexos muito bons para a Unicamp e para todo o sistema acadêmico brasileiro”. Crósta ainda lembrou que o modelo de inovação aberta do SGC está sendo trazido de forma pioneira ao Brasil pela universidade.