Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 23 de março de 2015 a 29 de março de 2015 – ANO 2015 – Nº 620Telescópio
Amazônia absorve menos
carbono da atmosfera
Parte do excesso de carbono presente na atmosfera, responsável pelo aquecimento global, é absorvido pelas florestas tropicais, como a amazônica, mas esse efeito está perdendo força, diz artigo publicado na revista Nature. “Existe uma tendência de longo prazo de decréscimo na acumulação de carbono” na Amazônia, escrevem os autores, ligados a instituições de diversos países, incluindo o Brasil.
“As taxas líquidas de aumento da biomassa sobre o solo caíram em um terço durante a última década, na comparação com os anos 1990”, diz o artigo, atribuindo o fenômeno a um aumento na mortalidade da biomassa, o que reduz o tempo que o carbono permanece “aprisionado” em plantas e animais e, portanto, fora da atmosfera.
Perigo na
Antártida
O Glaciar Totten, na Antártida Oriental, está em risco, diz artigo publicado no periódico Nature Geoscience. “Identificamos entradas para a cavidade da cobertura de gelo a profundidades abaixo de 400 a 500 metros, que poderiam permitir intrusões de água quente”, escrevem os autores, baseados nos EUA, França, Austrália e Reino Unido. Essas intrusões causam erosão no gelo. Um colapso desse glaciar poderia causar uma elevação de 3,5 metros no nível dos oceanos.
Transparência
estimula cooperação
Quando a reputação dos integrantes de uma rede é apresentada de modo “transparente” – isto é, está visível para todos os demais membros, e não apenas para seus contatos mais próximos – o nível de cooperação dentro da rede como um todo dobra, diz estudo publicado no periódico PNAS.
Os autores, das universidades de Cambridge, Oxford e Turim, criaram uma rede social experimental cujos membros tomaram parte numa série de rodadas do Dilema do Prisioneiro, um jogo onde cada participante deve decidir “cooperar” ou “desertar”, obtendo diferentes recompensas ou punições dependendo não só da própria decisão, mas também da que for tomada pelo parceiro.
Numa situação de ampla transparência – onde o histórico de “cooperação” e “deserção” de cada jogador era conhecido, bem como sua rede de conexões próximas – houve não só um grande aumento na taxa de cooperação da rede como um todo, como os “cooperadores” mais assíduos criaram comunidades próprias, isolando os “desertores” contumazes e obtendo recompensas maiores.
Mais um corpo com
anéis no Sistema Solar
Além de Saturno, que tem os anéis mais vistosos, sabe-se de outros três planetas do Sistema Solar que também são cercados por discos de detritos: Júpiter, Netuno e Urano. Em 2014, a revista Nature publicou a descoberta de anéis em torno de um centauro – uma classe de pequenos astros que reúnem características de asteroide e cometa – chamado 10199 Chariklo.
Agora, pesquisadores dos Estados Unidos e da África do Sul encontraram sinais de anéis em torno de outro centauro, 2060 Quíron. O artigo, publicado no periódico Icarus, se baseia em observações feitas em 2011.
Descoberto em 1977, Quíron foi o primeiro dos centauros a ser identificado – seu nome deriva do mais famoso centauro da mitologia grega. Hoje, estima-se que existam mais de 44 mil desses corpos, concentrados para além da órbita de Júpiter. Quando descoberto, Quíron parecia estar emitindo jatos de material para o espaço. São esses jatos que, de acordo com as novas observações, podem passar a ser interpretados como anéis.
Homem das Neves
ou urso comum?
No ano passado, pesquisadores da Universidade de Oxford e de outras instituições europeias publicaram, no periódico Proceedings of the Royal Society B, uma análise de DNA de 30 amostras de pelos cuja origem era atribuída a animais míticos, como o Abominável Homem das Neves, ou Yeti, do Himalaia, e o Pé Grande, ou Sasquatch, da América do Norte. As amostras foram obtidas em museus e coleções particulares.
A análise revelou que a maioria das amostras pertencia, na verdade, a animais conhecidos, como cães, lobos, cavalos, guaxinins e ursos. Apenas duas delas, originárias do Himalaia, pareciam indicar um animal desconhecido, provavelmente uma espécie ainda não classificada de urso.
Agora, no entanto, uma avaliação crítica desse resultado, publicada no periódico online ZooKeys, ataca a hipótese de que as amostras apontariam para a existência de uma espécie desconhecida, afirmando que o DNA poderia muito bem pertencer a um urso comum, o urso pardo (Ursus arctos). “Concluímos que não há razão para acreditar que as duas amostras tenham vindo de algo diferente de ursos pardos”, escrevem os autores.
Estrela
fugitiva
Uma estrela que está voando para fora da Via-Láctea, a uma velocidade de 1.200 quilômetros por segundo – alta o suficiente para escapar da gravidade da galáxia – recebeu seu impulso da explosão termonuclear de outro astro, diz artigo publicado no início do mês na revista Science.
O astro em fuga, chamado US 708, é a estrela livre mais veloz da galáxia, e uma análise de sua trajetória e comportamento – ela gira rapidamente em torno do próprio eixo – sugere que, originalmente, era integrante de um sistema binário, até que sua companheira sofreu uma explosão termonuclear, arremessando US 708 no voo que deve levá-la para fora da Via-Láctea.
Tecnologia aeroespacial
na diálise
Pesquisadores britânicos usaram um software da indústria aeroespacial para modelar um novo tipo de fístula arteriovenosa – uma ligação cirúrgica entre veia e artéria feita em pacientes de hemodiálise.
“Nosso objetivo é usar ferramentas de simulação por computador para criar configurações de fístulas arteriovenosas sob medida, específicas para cada paciente, que não sofram bloqueios e não falhem”, disse, em nota, um dos autores do trabalho, Peter Vincent, do Departamento de Aeronáutica do Imperial College London.
O modelo, que ainda precisa passar por testes clínicos, foi criado com o uso de técnicas de análise de fluxo de fluidos desenvolvidas originalmente para aplicações aeroespaciais. O trabalho, que envolveu uma equipe interdisciplinar de médicos e engenheiros, está publicado no periódico Physics of Fluids, do Instituto de Física dos EUA.
Lembrança apaga
memórias irrelevantes
Quando nos esforçamos para lembrar um evento, o cérebro apaga memórias semelhantes, mas irrelevantes, que poderiam nos distrair, diz artigo publicado no periódico Nature Neuroscience.
Os autores do trabalho, ligados a instituições do Reino Unido, testaram esse fenômeno apresentando a voluntários pares variados de imagens e palavras, onde uma mesma palavra poderia aparecer associada a diferentes imagens em diferentes momentos – por exemplo, a palavra “areia” poderia vir acompanhada, primeiro, pela foto de uma atriz e, depois, pela imagem de um chapéu.
Quando precisavam responder qual a primeira imagem a aparecer junto da palavra, os voluntários tinham maior chance de esquecer a segunda. Usando ressonância magnética funcional, os autores viram que a ativação de uma memória levava à atenuação dos sinais cerebrais que correspondiam às memórias “concorrentes”. “Nossas descobertas demonstram um mecanismo de supressão de padrões corticais, por meio do qual a rememoração molda quais aspectos do nosso passado permanecem acessíveis”, diz o artigo.
Riso traz
intimidade
O riso aumenta a chance de uma pessoa fazer revelações de natureza íntima numa conversa, diz estudo publicado no periódico Human Nature, com o título “Laughter’s Influence on the Intimacy of Self-Disclosure” (“A Influência do Riso na Intimidade da Auto-Revelação”), de autoria de pesquisadores do University College London e da Universidade de Oxford. O trabalho investigou a hipótese de que “o ato de rir influencia temporariamente a disposição do ridente em revelar informações pessoais”.
Para tanto, voluntários foram expostos a diferentes clipes de vídeo, alguns mais e outros menos cômicos. “Os resultados mostram que a revelação de intimidades foi significativamente mais elevada após o riso do que na condição de controle”, diz o artigo. Os autores destacam que isso sugere que o efeito se deve, em parte, ao riso em si, e não depende apenas da possível percepção do interlocutor como uma pessoa engraçada e simpática.
Outro dado levantado pelo estudo foi o de que, embora os interlocutores tenham percebido que ouviam revelações íntimas após o riso, os voluntários não pareceram notar que, depois de rir, estavam se abrindo mais. “Sugerimos que o riso aumenta a disposição das pessoas em revelar-se, mas que elas podem não se dar conta disso”, escrevem os autores.
A origem
de Trieste
Imagens produzidas por equipamentos de radar montados em aviões, somadas a escavações arqueológicas, revelaram a presença de um antigo acampamento militar romano, flanqueado por dois fortes, que pode marcar a origem do que hoje é a cidade de Trieste, no norte da Itália. O acampamento e as fortificações datam de cerca de 178 aC.
De acordo com os autores da descoberta, que descrevem seu achado no periódico PNAS, as fortificações estão entre as mais antigas do tipo romano já encontradas, e por enquanto são as únicas descobertas em solo italiano. “Sua origem está muito provavelmente ligada ao primeiro ano da segunda guerra de Roma contra os ístrios em 178 aC (...) O principal acampamento militar identificado, San Rocco, é o melhor candidato para o local da primeira Trieste”.