Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 18 de maio de 2015 a 24 de maio de 2015 – ANO 2015 – Nº 625Telescópio
Redução científica
da pobreza
Como medir a eficácia de uma ação de redução da pobreza? A revista Science traz artigo que descreve o resultado de um experimento de intervenção em algumas das comunidades mais miseráveis do mundo, modelado nos estudos sobre saúde, em que grupos “de intervenção” são comparados a grupos “de controle”, e os resultados recebem análise estatística. No caso, algumas das famílias mais pobres de seis países – Etiópia, Gana, Honduras, Índia, Paquistão e Peru – foram incluídas num programa chamado “Graduation” (“Formatura”), criado por uma ONG de Bangladesh. O programa durou dois anos, com mais um ano extra em que as famílias foram acompanhadas, após o fim do apoio externo, para testar a sustentabilidade e durabilidade dos benefícios.
No “Graduation”, cada família recebe a doação de um ativo para geração de renda – um pequeno rebanho, por exemplo, ou estoque suficiente para abrir uma pequena loja – assim como apoio financeiro (para que não se sinta tentada a vender o ativo), treinamento para usar o ativo, acompanhamento sanitário e ajuda para abrir uma conta bancária.
Mesmo um ano após o fim do apoio externo, escrevem os autores, as famílias incluídas no “Graduation” “tinham significativamente mais bens e dinheiro, passavam mais tempo trabalhando, passavam menos dias com fome, sentiam menos estresse e tinham melhor saúde” que os controles. O programa também revelou um ótimo custo-benefício: na Índia, por exemplo, cada dólar investido reverteu-se em US$ 4,33 em benefícios de longo prazo.
“Os resultados da implementação de um mesmo programa básico, adaptado a uma variedade de contextos geográficos e institucionais, e com múltiplos parceiros, mostra impactos de custo-benefício estatisticamente significativos no consumo (alimentado principalmente pelo aumento na renda do trabalho próprio) e no status psicossocial das famílias”, escrevem os autores. “É possível fazer melhorias sustentáveis no status econômico dos pobres com uma intervenção de relativo curto prazo”.
O cofre
antimagnético
Pesquisadores ligados à Universidade Técnica de Munique (TUM) anunciam, no periódico Journal of Applied Physics, a criação do menor campo magnético do Sistema Solar – um espaço de pouco mais de 4 metros cúbicos onde a intensidade dos campos magnéticos é de um milionésimo da encontrada no ambiente externo.
Como sabe qualquer criança que já tenha feito a “mágica” de guiar uma moeda sobre uma mesa passando um ímã por baixo do tampo, campos magnéticos penetram matéria sólida com facilidade. A criação de um ambiente isolado de influências magnéticas é um processo complexo, mas necessário para a realização de experimentos que possam ser comprometidos por “ruído” magnético, ou que dependam de uma medição extremamente precisa de campos magnéticos.
Experimentos assim são importantes na busca da chamada física “além do Modelo Padrão” – isto é, que possa expandir e corrigir a compreensão atual que os cientistas têm das forças e partículas fundamentais do Universo.
Água fria,
coração quente
Diferentemente de mamíferos e pássaros, que têm sistemas dedicados a manter a temperatura do corpo estável, peixes em geral são considerados animais de sangue frio, com corpos que acompanham a temperatura do ambiente onde se encontram.
Cientistas já sabiam que algumas espécies, como o atum, são capazes de aquecer momentaneamente seus músculos, mas uma edição recente da revista Science descreve um peixe de águas profundas, o Lampris guttatus, que é capaz de transferir o calor gerado pela batida das nadadeiras peitorais para o coração e o cérebro, mantendo esses órgãos aquecidos.
“Diferentemente de outros peixes [o Lampris] distribui sangue quente por todo o corpo, incluindo o coração, aumentando a performance fisiológica e protegendo os órgãos internos, enquanto busca comida nas águas geladas e ricas em nutrientes”, diz o artigo. O peixe consegue isso graças a uma “retia mirabilia”, ou “rede maravilhosa” de vasos sanguíneos que usa o sangue venoso, aquecido pelo esforço muscular, para aquecer o sangue arterial, frio, que é oxigenado nas guelras.
Elevação do nível
do mar acelera
A taxa de elevação do nível do mar na verdade aumentou ao longo da última década, diz artigo publicado no periódico Nature Climate Change. Essa descoberta contradiz resultados anteriores, baseados em observações de satélite, que sugeriam uma elevação mais lenta dos oceanos. O novo trabalho leva em conta medições de GPS e dados de uma rede de monitores da elevação das marés. De acordo com os autores, as correções se mostram compatíveis com a contribuição para o nível dos mares trazida pelo derretimento das massas de gelo da Groenlândia e de parte da Antártida.
Carbono na atmosfera
bate recorde
Em março, pela primeira vez na história, a concentração média de dióxido de carbono na atmosfera terrestre se manteve acima das 400 partes por milhão (ppm) durante todo um mês, informou, no início de maio, a Administração Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos. A marca de 400 ppm já havia sido rompida antes, mas em menor escala – na primavera de 2012, no Ártico, e em 2013, ao longo de um dia, no Havaí. Mas esta é a primeira vez que a taxa se mantém tão elevada em todo o mundo e por tanto tempo, desde que os registros tiveram início. O impacto da nova marca é mais simbólico que prático, dizem cientistas, frente à mudança climática já em curso.
A fórmula da
‘junk food’
A proporção entre gordura e carboidrato pode explicar por que as batatinhas chips são tão viciantes, diz estudo publicado no periódico de livre acesso Scientific Reports, do grupo Nature. Os autores alimentaram ratos com diferentes complexos, misturando à ração normal materiais com níveis variados de gordura e carboidrato. A versão mais consumida – e em excesso, para além da saciedade – não foi a mais gorda ou a mais calórica, mas a que manteve uma razão gordura/carboidrato muito próxima à das batatinhas chips, onde o conteúdo de caloria de cada fonte era aproximadamente o mesmo. Essa mistura afetou ainda a atividade de regiões do cérebro ligadas à recompensa e ao vício. “Como nas batatinhas chips, uma mistura isocalórica de gordura/carboidrato influenciou todo o padrão de atividade cerebral dos ratos”, escrevem os autores.
Impressão digital
no microbioma
Toda pessoa convive com um microbioma, o conjunto de micro-organismos que coloniza o corpo humano que sobrevive, por exemplo, na pele, na boca e no aparelho digestivo. Há tempos que cientistas especulam que esse microbioma pode ser altamente personalizado e estável, com variações genéticas entre os micróbios vinculadas a indivíduos específicos. Essa ideia abre caminho para o uso da caracterização do microbioma como ferramenta de identificação, ao lado da impressão digital e do DNA humano.
No periódico PNAS, pesquisadores nos Estados Unidos descrevem um teste dessa hipótese, usando algoritmos para criar códigos de identificação a partir de dados do genoma coletivo da microbiota de indivíduos. Esses códigos foram capazes de distinguir entre centenas de pessoas imediatamente após a coleta das amostras. Amostras coletadas de 30 a 300 dias após a retirada inicial mostraram-se estáveis e capazes de reproduzir os códigos de identidade iniciais em 30% dos casos, com poucos falsos positivos. Os autores destacam que o microbioma digestivo foi o mais estável de todos, reproduzindo o código original em 80% dos casos, mesmo um ano após a coleta inicial.
Matemática
das formigas
Quando partem em busca de alimento, formigas escolhem rotas que se encaixam em distribuições estatísticas de probabilidade, diz artigo publicado no periódico Mathematical Biosciences, de autoria de pesquisadores espanhóis e americanos que trabalharam com formigas-argentinas (Linepithema humile).
“Elas seguem uma mistura das distribuições gaussiana e de Pareto, duas funções probabilísticas comumente usadas em estatística e que, neste caso, determinam quanto a formiga gira a cada passo, e a direção em que se moverá”, disse uma das autoras do trabalho, María Vela Pérez, citada em nota distribuída pela Fundação Espanhola de Ciência e Tecnologia (FECYT).
A pesquisadora, ligada à Universidade Europeia de Madri, acredita que a descoberta possa vir a ser usada na criação de “enxames” de pequenos robôs para tarefas como limpeza de áreas contaminadas.
Ratos
salva-vidas
Ratos agem para salvar outros ratos que correm risco de morrer afogados, mostra uma série de experimentos descrita no periódico Animal Cognition. Pesquisadores da Universidade Kwansei Gakuin, do Japão, colocaram pares de ratos em situações onde um deles precisava nadar para escapar de uma piscina, enquanto o outro poderia, ao abrir a porta de uma gaiola, permitir que o rato em apuros chegasse a uma superfície seca.
Os cientistas descobriram que os ratos em posição de socorrer um colega descobriam rapidamente como abrir a gaiola, e corriam para fazê-lo. Além disso, determinou-se que os animais que tinham escapado da água, numa rodada anterior do experimento, eram ainda mais velozes em agir para salvar o animal em perigo. Num terceiro teste, o rato “salva-vidas” tinha a opção de abrir uma porta para salvar o colega ou abrir outra e comer um chocolate. Na maioria das vezes, a opção prioritária foi pelo resgate do outro animal.