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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 18 de maio de 2015 a 24 de maio de 2015 – ANO 2015 – Nº 625Unicamp lança primeiro curso do Coursera no país
Plataforma de ensino on-line tem 12 milhões de usuários no mundoA Unicamp lançou no último dia 6 o primeiro curso brasileiro dos Massive Open Online Course (MOOCs) pelo Coursera, uma plataforma educacional aberta e gratuita. Trata-se do curso Processamento Digital de Sinais – Amostragem, sob a responsabilidade do professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), Renato da Rocha Lopes.
O curso, o primeiro do Brasil, integra uma parte da disciplina que Renato Lopes leciona tanto para alunos de graduação quanto de pós-graduação. Mas na versão on-line o curso é totalmente inédito. “Eu nunca tinha oferecido em plataforma on-line em português”, relata o responsável pelo curso. “Na minha aula, o aluno irá aprender exatamente a mesma coisa que ensino no campus. Ao final, ele será capaz de criar aplicativos que poderão converter músicas, imagens, vídeos, leituras de sensores e outros sinais em formato digital”, explica Renato Lopes.
O público-alvo do curso são alunos de graduação, sobretudo interessados em engenharia. De acordo com ele, o curso aborda principalmente amostragem, processo pelo qual são transformados sinais do mundo real – sinais de imagens, de música, de vídeo – em aplicações mais específicas, como sinais de sensores, de temperatura. Tudo isso é transferido para um computador, um smartphone. “Abordamos como se realiza a transformação do sinal analógico do nosso mundo para o digital do mundo do computador. O curso também deve mostrar quais são os cuidados que precisam ser tomados nessa área para eliminar distorções e como escolher os parâmetros para a amostragem”, diz.
No curso de Renato são 28 vídeos com duração de cerca de dez minutos e uma série de 40 exercícios. A avaliação é feita através das resoluções. “Temos exercícios apenas para treinamento e exercícios para avaliação. As questões envolvem múltipla escolha”, esclarece Renato Lopes.
Os cursos do Coursera são on demand: não têm data para começo, meio e fim. O material como um todo está disponível na plataforma. O aluno pode começar e terminar sua participação no seu ritmo.
IMPORTÂNCIA
O professor Alvaro Crósta, coordenador-geral da Universidade, assinala que o modelo de cursos MOOCs é relativamente novo no mundo e vem adquirindo uma importância e uma proporção progressivamente maior. “É um modelo bem-diferenciado em relação ao que as universidades mundiais faziam antes, porque a ideia é levar o conhecimento da universidade a uma parcela significativa da população. Daí o nome massivo”, destaca.
São cursos que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode fazer via Internet. Houve uma tendência de universidades de ponta entrarem nesse mundo novo dos MOOCs. No ano passado, a Unicamp tomou essa decisão.
O coordenador-geral entende que este formato de curso é um espaço que ainda não está ocupado, principalmente em termos de cursos em português. “Temos um enorme potencial, com nossos docentes, alunos de pós-graduação, pesquisadores, de oferecer cursos de excelência e, ao mesmo tempo, abrir essa chance para a nossa comunidade”, afirma ele, salientando que os participantes são pessoas que provavelmente não viriam até a Unicamp porque estão geograficamente distantes.
Ao mesmo tempo em que a Unicamp tomou essa decisão, foi contatada pelo Coursera, que é uma das várias plataformas dos cursos de MOOCs que existe no mundo e uma das maiores e mais relevantes. O Coursera procurou no Brasil universidades e as selecionou, entre elas a Unicamp, com base na qualidade das instituições e dos cursos, com a proposta de oferecer cursos em português.
Segundo Alvaro Crósta, além de levar o conhecimento a pessoas que não fariam o curso da Unicamp, outro objetivo seria tornar a Universidade de Campinas mais conhecida, pela qualidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão feita aqui por meio dos MOOCs. Ao criar esse novo curso, a Unicamp antecipa-se a outras universidades. “Isso é fruto de um trabalho de preparação, levado a cabo pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e pela Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp), que montaram essa proposta”, observa ele. “Com o sucesso dos MOOCs, vamos abrir caminho para outras atividades de educação a distância, que nas universidades públicas brasileiras têm uma atuação acanhada em relação às universidades privadas.”
O coordenador-geral comenta que o curso de Português para Estrangeiros vem num bom momento. Isso porque a Unicamp hoje envia muito mais alunos para o exterior do que recebe. Uma das barreiras para conquistar alunos de outros países é a língua. Por isso a instituição acaba atraindo mais alunos da América Latina (AL). Enquanto isso, os alunos do hemisfério norte ainda são em um número muito reduzido. A ideia dos MOOCs para Português para Estrangeiros é justamente que esse curso seja realizado antes de virem ao Brasil, sendo incentivados pela possibilidade de se comunicar em língua portuguesa e chegarem aqui já com uma base para acompanhar os cursos. Essa é uma tentativa de abrir um pouco mais as fronteiras para o processo de internacionalização, considera.
EXPECTATIVA
O professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, pró-reitor da Preac, ressalta que tem um motivo histórico para estar muito animado com mais esse espaço de pioneirismo da instituição. O primeiro curso a distância que a Unicamp ofertou foi em 1976. “O professor José Teixeira, que está deixando a diretoria da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), foi meu aluno nessa disciplina em que trabalhamos geometria analítica a distância, de maneira experimental. Isso continuou no semestre seguinte, dando origem a um dos livros ‘best seller’ em álgebra linear. A experiência não foi boa só para fora da Unicamp. A experiência foi boa para a Unicamp. Logo, temos muita esperança que o mesmo aconteça com esse primeiro curso.”
O pró-reitor recorda que o Coursera, ao escolher algumas universidades e a Fundação Paulo Lemann no Brasil, buscou-as por critério de qualidade e declarou formalmente que almejava universidades à altura da expectativa de uma comunidade mundial que pode escolher cursos de qualquer universidade. “Então eles gostariam, como plataforma, de trabalhar com quem é capaz de mostrar serviço”, ilustra.
João Frederico recorda que já trabalhou com ensino a distância, quando se utilizava a tecnologia top da época: xérox, correio e fita cassete. “Depois dessa especialização, muitos alunos vieram a fazer mestrado e doutorado. O projeto era da Capes, que também escolheu a Unicamp por critérios de excelência e de qualidade.”
Por outro lado, o pró-reitor vê nessa uma grande oportunidade de colocar não só o conteúdo daquilo que a Unicamp está desenvolvendo, mas o seu modo de trabalhar. “Vou dar um exemplo: o professor Renato Lopes não esperou que fosse organizada a equipe de filmagem. Ele mesmo comprou uma câmera e arrumou alguém para ajudá-lo. Agora fomos lançados num cenário internacional, e muito graças a essa característica do nosso corpo docente”, comemora.
Gláucia Lorenzetti, gerente de projetos dos MOOCs na Unicamp, pontua que mais de quatro mil pessoas manifestaram interesse em participar do primeiro curso da Unicamp. “Além desse, temos mais três cursos em planejamento – Português para Estrangeiros, Física Básica e Empreendedorismo -, que deverão ser ofertados no segundo semestre deste ano. Está havendo um investimento da Reitoria da Unicamp para a produção desses cursos. E a Coordenadoria Geral da Universidade [CGU] é a financiadora”, conta.
Os cursos estão sendo formalizados como cursos de extensão, mas serão oferecidos pela plataforma do Coursera. A partir da experiência piloto, os próximos cursos serão submetidos a uma instância de análise, que envolverá o Conselho de Extensão da Universidade, o Conex.
COURSERA
A plataforma de ensino on-line do Coursera conta com 12 milhões de usuários no mundo, sendo 500 mil no Brasil. Os interessados podem procurar on-line entre mais de 1.000 cursos oferecidos pelas melhores instituições de ensino do mundo, como Yale, Stanford, Princeton, Universidade de Genebra, Universidade Autônoma de Barcelona, Universidade de Londres, Universidade de Michigan, entre outras. Em setembro de 2014, foram anunciadas parcerias com a Unicamp, Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Lemann, as primeiras no Brasil. Os alunos podem assistir videoaulas, fazer testes interativos, avaliar o trabalho dos seus colegas e interagir com os demais alunos e professores.