Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 26 de outubro de 2015 a 08 de novembro de 2015 – ANO 2015 – Nº 642Cantando a vida há 30 anos
Canta, canta uma esperança
Canta, dando uma alegria
Canta mais!
Canta a canção do homem
Canta a canção da vida
Canta mais!
“A Fantasia”, de Chico Buarque, é uma peça marcante na trajetória do Coral Unicamp Zíper na Boca e, por seu simbolismo, reuniu atuais e ex-coralistas no encerramento do Concerto de 30 Anos do grupo, que brindou a cidade de Campinas com uma retrospectiva das suas montagens de maior sucesso – MPB, Beatles, Saltimbancos, Queen, Abba. Foi na noite de 17 de outubro, no Teatro Castro Mendes. “Não costumamos repetir o repertório, mas montamos esta peça a capela em diferentes períodos da história do coral, já que o texto tem muito a ver com a nossa realidade: fala de cantar o tempo todo, canta a esperança, canta a alegria, canta a canção da vida, canta mais...”, celebra a maestrina Vívian Nogueira, que responde pela direção artística e regência do coral desde a criação em 1985.
Vinculado ao Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic) da Unicamp, o Zíper na Boca tem sua trajetória de 30 anos valorizada por apresentações frequentes tanto nos campi como para o público externo, seja em eventos específicos da área de canto coral, seja em comunidades, escolas públicas ou hospitais. “Já estivemos em onze Estados brasileiros: em todos do Sul e Sudeste e também na Bahia, Sergipe, Goiás, Mato Grosso. Considero muito verdadeira – e sempre procurei colocar em prática – a afirmação de que ‘todo artista tem que ir onde o povo está’. O artista precisa conhecer e interagir com o público, interação que é refletida em seu trabalho”, ressalta a maestrina.
Vívian Nogueira conta que o Zíper na Boca possui no momento 58 integrantes, dentre alunos de graduação e pós-graduação, docentes e funcionários da Universidade, e também da comunidade externa. “A formação é bastante diversificada e abrange diferentes faixas etárias, com alunos de exatas, humanas, biológicas e servidores de distintos setores. Como regente, minha grande preocupação é com a formação musical dos integrantes. Um aspecto importante para eles é a vivência de cantar em diversos estilos: apesar do sucesso com a música popular, tanto brasileira como internacional, o repertório erudito nunca é deixado de lado.”
Da mesma forma, segundo a maestrina, o Zíper na Boca vem vencendo certo preconceito em relação ao coral, geralmente imaginado como um grupo de cantores estáticos, vestindo-se de forma antiquada e mal orientados musicalmente. “Desde 2010, pensamos sistematicamente em unir canto coral e artes cênicas, resultando na proposta de deixar a formação tradicional para se movimentar pelo palco. Isso requer uma maior dedicação do grupo, que realiza ensaios cênicos específicos, e maior independência musical, pois canta sem o regente à sua frente. Mas todos têm se empenhado para conseguir sempre o melhor resultado possível – e já houve oca- siões em que repetimos o espetáculo porque o público presente não cabia na sala.”
Um exemplo de casa cheia ocorreu na montagem da ópera barroca “Os Prazeres de Versalhes” (Les Plaisirs de Versailles), do francês Marc-Antoine Charpentier, no Castro Mendes, em parceria com a Orquestra Sinfônica da Unicamp. “Foi uma apresentação muito prazerosa para o grupo. Sentimos que em 30 anos de atividades já temos um público formado, graças a um trabalho sério envolvendo todos os coralistas nos projetos propostos. Esta receptividade se explica porque o público vê nosso trabalho como algo verdadeiro: o prazer dos coralistas em cantar transparece, criando uma grande empatia com a plateia. Afinal, são pessoas que têm suas atividades na Universidade e participam dos ensaios no horário de almoço, voluntariamente, simplesmente porque amam cantar.”
Vívian afirma que a rotatividade de integrantes é alta, por se tratar de um coro universitário, alcançando anualmente entre 50% a 60% do quadro. “O aluno de graduação fica em média quatros anos na Universidade, que por ser muito grande e setorizada, faz com que muitos interessados demorem a descobrir que existe um coral. Os estudantes ainda têm restrições, como a exigência de estágio em quase todos os cursos. Os três coralistas mais antigos, com mais de 15 anos no grupo, são funcionários, que têm mais condições de permanecer de um ano para outro.”
Apesar desta rotatividade, o Zíper na Boca foi premiado em três edições do Mapa Cultural Paulista (1996, 2011/12 e 2013/14), com direito a diversas apresentações pelo interior do Estado. “Outro saldo positivo do nosso trabalho é a interação social. O coro é formado por pessoas que têm sua própria vida acadêmica ou profissional e se reúnem pelo prazer de cantar, criando, a partir daí, laços de amizade profunda. Casais também se formam e já fui a diversas cerimônias de casamento. O Zíper tem também uma função social importante.”
Depoimentos |
Sou funcionário da Faculdade de Engenharia Mecânica. Estou na Unicamp há 40 anos e há 15 no coral. Já cantava antes em família, a Família Baltazar, que fez várias apresentações com a Sinfônica. Demorei a encontrar o Zíper, se estivesse no grupo desde o começo me sentiria ainda mais realizado. Muitas pessoas vão passando por aqui e fiz muitos amigos, mas vou dar um exemplo do motivo maior para eu permanecer no grupo: faz de conta que me deram três camisas para vestir nas pessoas certas, cada qual com uma inscrição: “perseverança”, “determinação”, “competência”; procurei pela Universidade toda, encontrei algumas pessoas, mas parei numa só: a nossa regente. As três camisas couberam nela e nem foi preciso ajustes. Viver perto de pessoas como ela é ser sempre um privilegiado. (Osvaldo Baltazar dos Santos) |
Faço economia, canto no coral desde 2013 e espero continuar por mais tempo. Meu pai é músico e canto desde os 8 anos, tenho um histórico de família. Antes de entrar na Unicamp já tinha vontade de fazer parte do Zíper, que conhecia de festivais. Aguardava ansiosamente o momento e minhas expectativas foram superadas vinte mil vezes. Encontrei um ambiente muito acolhedor, junto a pessoas com histórias de vida e faixas etárias diferentes, mas extremamente respeitosas umas com as outras. Não existe qualquer preconceito, aqui dentro cada um pode ser o que é – e todos por um ideal muito bonito, o de cantar em grupo. Vivemos num mundo tão sem humanidade, mas aqui ela sobra. Minha vida mudou para melhor. (Gabriela Rocha de Oliveira) |
Gosto de cantar desde criança e quando vi a proposta do Zíper de um coro cênico, cantando músicas atuais de forma despojada, disse “eu quero”. Foi no ano da montagem dos Beatles. É fantástico porque são pessoas das mais diversas áreas, que provavelmente nunca se conheceriam, juntas por um mesmo objetivo – e saio um pouco do grupo restrito do instituto [Instituto de Estudos da Linguagem]. Sinto que minha vida universitária está mais completa. A gente sai para se divertir, se apoia nos momentos difíceis: se estou muito cansada, estressada, alguém me abraça, faz uma massagem. Temos uma relação carinhosa entre nós. Estou ajudando a montar a exposição dos 30 Anos, coletando fotos de 1985 até os dias de hoje, e minha sensação é de que tem sido assim desde o começo: amigos cantando juntos. E tudo isso é reflexo da regente que temos. (Caroline Beatriz Mott Silva) |
Entrei no curso de fonoaudiologia porque gosto muito de trabalhar com a voz. Faço aulas de canto há dois anos e antes já cantava na igreja. Vi uma apresentação do Zíper na recepção aos calouros e me apaixonei, por tanta disciplina, por várias pessoas cantando como numa só voz. Fiz a audição esse ano e ganhei a chance de conhecer o coral por dentro: toda a dedicação da regente, dos coralistas, do preparador vocal, do diretor cênico. Em fonoaudiologia terei a disciplina de voz no terceiro ano, mas já conversei com minha orientadora sobre uma iniciação científica nessa área. Muitos coros não têm a preparação vocal que o Zíper tem; embora seja amador, a sua estrutura é de um coro profissional. (Diego Henrique Martinho) |
Sou funcionária da Rádio e TV Unicamp e também fui aluna, tenho 30 anos de estrada na Unicamp. Minha experiência com o coral começou em 2012 e digo, como funcionária, que o Zíper possui uma identidade difícil de encontrar no próprio grupo de trabalho. O grupo também tem uma atuação extensionista, representando culturalmente a Universidade lá fora. Levamos a bandeira da Unicamp aos festivais. O coral ainda resgata a nossa autoestima: quem nunca tinha pisado num palco, como eu, se sente importante e se encontra enquanto pessoa. Aos que não sabem, digo que assistir é bom, mas cantar é melhor ainda; cantar em grupo, fazendo bem a sua parte, para a somatória dar nessa coisa bonita. (Maria Cristina Ferraz de Toledo) |
Sou chilena e minha chegada ao Brasil se deu em 2 de agosto. Logo na primeira semana fui à Casa do Lago, onde o pessoal fazia um ensaio – perguntei o que era, fiz a audição e entrei no grupo. Todos me receberam com muito carinho e estou feliz por ter começado esta experiência. Vim como aluna especial e preparo com minha orientadora um projeto de mestrado, que espero iniciar no próximo ano. Sou atriz, fisioterapeuta e tenho experiência como cantora no Chile, tanto na escola como na universidade, sempre em corais. No Zíper já me depositaram a confiança de ser assistente de direção cênica, além de figurinos e maquiagem. (Valentina Sanchez Ibañez) |
Estou fazendo intercâmbio em antropologia e fico na Unicamp por mais um semestre. Considero o coral muito importante para mim. Na Alemanha tenho vários projetos de música diferentes, canto em bandas e escrevo música (pop soul). Fiquei muito feliz quando vi o coral em cena pela primeira vez, senti uma energia muito legal e quis fazer parte. Não posso viver sem a música. (Binta Hübemer) |