Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 30 de novembro de 2015 a 13 de dezembro de 2015 – ANO 2015 – Nº 645Longe do mainstream
O conceito de ensaio no cinema vem sendo debatido mais intensamente no Brasil nos últimos cinco anos, mas ainda é quase total a ausência de bibliografia a respeito, limitando-se a textos esparsos. “O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea” (Hucitec Editora) é o primeiro livro que procura cobrir a multiplicidade de temas a ele relacionados, organizado pelo professor Francisco Elinaldo Teixeira, do Departamento de Cinema do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Trata-se de uma coletânea de textos de 14 autores locais e internacionais em torno da reflexão e da prática do filme-ensaio.
Eli Teixeira explica que o conceito de ensaio no cinema remonta ao período clássico, nos anos 1920, quando dos debates que estabeleceram três grandes domínios: a ficção, o documentário e o cinema experimental de vanguarda. “Esse quarto domínio – o ensaio na forma que sugerimos hoje – vai conquistar terreno no período moderno do cinema (pós-guerra), mas ainda na condição que chamo no livro de proto-ensaio: o conceito passa a ser proposto, no âmbito da teoria e da história do cinema, dentro do campo do documentário – e depois como parâmetro para a análise de filmes (filmes-ensaio).”
Segundo o organizador da coletânea, a discussão começou a ganhar corpo no Brasil no início dos anos 2000, com o advento da cultura digital. “Este livro entra na história e na teoria do cinema através de grandes temas da atualidade: a questão da performance, que vem das artes cênicas e que estamos nos esforçando em traduzir para o campo das artes visuais; do sound design (desenho sonoro), visto que hoje é praticamente impossível analisar um filme sem considerar a construção da imagem sonora; do live cinema (cinema ao vivo), em que o processo de criação e de edição se expõe ao vivo, com a presença junto ao público do realizador e de toda a parafernália técnica; e, por fim, do conceito de ensaio, tanto na teoria (cine-ensaio) quanto na prática fílmica (filme-ensaio).”
Eli Teixeira observa que o filme-ensaio não conta uma história, embora tome muito como referência a ficção, o documentário e o experimental, sobretudo esses dois últimos. “Ele discute e problematiza idéias, trata das circunstâncias e estados de espírito do processo de realização, incluindo sempre o realizador, seja em corpo, seja em voz – traz para primeiro plano o olhar subjetivo do ensaísta, criando um circuito entre o eu e o mundo, o público e o privado. Em termos de construção, sua consistência é heterodoxa, apropriando-se do material dos outros três domínios, mas sem a pretensão totalizante, é sempre uma espécie de work in progress (trabalho em progressão), uma obra aberta. É uma linha de fuga em relação à concepção tradicional de cinema: o pensamento é o foco. Por isso, o filme-ensaio possui um circuito bastante restrito e alternativo, sobretudo dos museus e galerias e de mostras que fogem do cinema mainstream.”
O professor da Unicamp organizou o livro em duas partes, a primeira intitulada “Lapidando um conceito: cartografias do ensaio no cinema”, reunindo sete textos mais teóricos. “Há uma série de convergências e divergências sobre como compor o conceito deste quarto domínio, que diz respeito à cultura pós-moderna. É um desafio que advém de um grande momento de inflexão dos parâmetros da imagem, primeiro com a emergência da imagem-vídeo e depois com a irrupção da imagem digital. Isso trouxe uma série de facilidades para o realizador, sobretudo a possibilidade de inclusão do seu entorno, da sua intimidade – o filme-ensaio vai trabalhar muito nessa fronteira entre o privado e o público.”
Os autores | |
Alfredo Suppia Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Multimeios e professor do Departamento de Cinema (Decine) da Unicamp Antonio Weinrichter López Escritor e programador cinematográfico, atual-mente professor associado da Universidade Carlos III de Madri (Espanha) Candida Maria Monteiro Doutora em design pela PUC-Rio, onde é pesquisadora e professora do Departamento de Comunicação. Carlos Ebert Diretor e fotógrafo de cinema, televisão e pu-blicidade, membro da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) Cecília Mello Professora de cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), doutora em cinema pela Universidade de Londres Francisco Elinaldo Teixeira Chefe do Departamento de Cinema, professor na graduação em Midialogia e na pós-graduação em Multimeios do IA/Unicamp, organizador do livro Gilberto Alexandre Sobrinho Professor de televisão, cinema e vídeo no IA/Unicamp; professor visitante na Universidade de San Francisco (EUA) | Henri Arraes Gervaiseau Cineasta e professor da ECA/USP e professor convidado pela Université Sorbonne Nouvelle Paris III Ismail Xavier Professor aposentado pela ECA/USP, membro do Conselho Consultivo da Cinemateca Brasileira Joel Pizzini Cineasta, pesquisador e professor da PUC/RJ e da Faculdade de Artes do Paraná, foi artista residente da Unicamp Marcius Freire Professor associado (livre-docente) do Departamento de Cinema e da Pós-Graduação em Multimeios da Unicamp Robert Stam Professor da Universidade de Nova York, lecionou na Tunísia, na França e no Brasil (USP, UFF, UFMG) Rodrigo Gontijo Artista multimídia, pesquisador e documentarista, doutorando e mestre em Multimeios pelo IA/UNICAMP Sarah Yakhni Cientista social, documentarista, cineasta premiada como diretora e roteirista, doutora em Multimeios pela Unicamp |