Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 03 de outubro de 2016 a 16 de outubro de 2016 – ANO 2016 – Nº 671Telescópio
Cabeças
Coroadas
As espécies de dinossauros terópodes – grupo que inclui o tiranossauro rex, e que deu origem às aves modernas – dotadas de ornamentação óssea no crânio, como cristas ou outras protuberâncias, evoluíram para formas de grande massa corporal mais rapidamente que as demais, diz trabalho publicado no periódico Nature Communications.
Os animais dotados de ornamentos no crânio evoluíram rumo ao gigantismo dez vezes mais depressa que as espécies sem enfeites, escrevem os autores, baseados nos Estados Unidos. “Descobrimos ainda um limite inferior de massa corporal, abaixo do qual não aparecem ornamentos cranianos”, diz o artigo.
“Nosso estudo oferece um novo apoio quantitativo para uma mudança nas pressões seletivas sobre mecanismos de exibição sócio-sexual nos terópodes, coincidente com a evolução das penas”.
Natureza
da violência
O nível de violência intraespecífica letal – quando um animal é morto por outro da mesma espécie – varia bastante entre os mamíferos: ela é praticamente inexistente entre morcegos ou baleias, por exemplo, mas é comum entre os primatas, grupos que inclui os chimpanzés e os seres humanos.
Em artigo publicado na revista Nature, uma equipe de pesquisadores espanhóis aponta que espécies geneticamente mais próximas tendem a ter níveis de violência intraespecífica semelhante.
Trabalhando com dados de mais de 4 milhões de mortes e quantificando a taxa de mortes violentas em mais de mil espécies de mamíferos, além de 600 populações humanas, ao longo de 50 mil anos, os autores estimam que a taxa “prevista” de mortes violentas entre Homo sapiens – por todos os meios e motivos, como crime, infanticídio, canibalismo, guerra e execuções – seria de 2%.
Esse número, diz o artigo, “é similar à porcentagem encontrada em bandos e tribos pré-históricos, indicando que éramos tão violentamente letais quanto a história evolutiva comum dos mamíferos prediria. No entanto”, prossegue o texto, “o nível de violência letal mudou ao longo da história humana, e pode ser associado à organização sócio-política das populações”.
Dois milhões de
anos de temperatura
Artigo publicado na edição mais recente da Nature oferece uma reconstituição da temperatura média da superfície terrestre ao longo dos últimos 2 milhões de anos, e sugere que os níveis atuais de CO2 na atmosfera implicarão um aquecimento futuro de até 7º C. A autora do trabalho, Carolyn Snyder, da Universidade Stanford, usou informações extraídas de núcleos de sedimentos retirados do leito oceânico.
Os resultados indicam, ainda, que a sensibilidade do sistema global aos gases do efeito estufa é de uma elevação de 9º C da temperatura de superfície para cada elevação de 100% na concentração de CO2 na atmosfera, numa escala de milhares de anos.
A autora escreve que isso “sugere que a estabilização nos níveis atuais de gases do efeito estufa pode já ter comprometido a Terra a um aquecimento inevitável de 5º C (de 3º C a 7º C, intervalo de confiança de 95%) ao longo dos próximos milhares de anos”.
O maior
Radiotelescópio
A China inaugurou oficialmente, em 25 de setembro, o maior radiotelescópio do mundo: sua antena tem um diâmetro de 500 metros, o que lhe dá uma área coletora de ondas de rádio mais de duas vezes superior à do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, agora o segundo maior.
O equipamento chinês, chamado FAST – sigla em inglês para Radiotelescópio Esférico de Quinhentos Metros de Abertura – vai vasculhar o espaço em busca de eventos astrofísicos, como pulsares e grandes explosões de rádio, e também de sinais de inteligência extraterrestre.
Além do tamanho recorde, FAST incorpora uma inovação inédita em seu design: seções de seu disco coletor podem ser deformadas, alterando a posição do foco do telescópio. Isso permite manter o foco apontado para uma mesma fonte por longos períodos de tempo, enquanto a Terra gira.
Vasos
Artificiais
Vasos sanguíneos artificiais de proteína, construídos por meios biotecnológicos, mostraram-se capazes de crescer e mudar de forma, acompanhando o desenvolvimento do corpo em que foram implantados – no caso dos testes iniciais, descritos no periódico Nature Communications, de ovelhas.
Os criadores da técnica, da Universidade de Minnesota, cultivaram células dos animais ao redor de um tubo especial, alimentando-as enquanto depositavam proteínas sobre essa matriz. Depois, as células foram eliminadas, deixando apenas a armação proteica, que então foi implantada nos animais, ainda filhotes, substituindo parte da artéria pulmonar. As células dos receptores então colonizaram a armação, fazendo-a crescer e mudar de forma, acompanhando o desenvolvimento das ovelhas.
Vulcão de
água em Europa
A Nasa anunciou, na última semana, que imagens feitas pelo Telescópio Espacial Hubble sugerem que Europa, lua do planeta Júpiter que mantém um gigantesco oceano aprisionado sob sua superfície congelada, dispara jatos de água no espaço. Indícios dessas plumas de água já haviam sido detectados em 2013, mas ainda faltava uma verificação por observações posteriores.
A confirmação, anunciada na última semana, faz de Europa, que já era considerada um alvo prioritário para a busca de vida extraterrestre, um destino ainda mais promissor: uma sonda poderia ser enviada para recolher amostras dos jatos no espaço, e analisá-las em busca de sinais de vida no oceano da lua.
Em pelo menos três oportunidades, o Hubble avistou o que pareciam ser jatos de água elevando-se até 200 km acima do hemisfério sul de Europa. As observações, feitas enquanto Europa passava diante de Júpiter, para aproveitar o contraste da luz solar refletida pelo planeta gigante, serão descritas em artigo aceito para publicação no Astrophysical Journal. Vulcões de água já haviam sido observados anteriormente em Encélado, uma das luas de Saturno. A Nasa tem uma missão a Europa prevista para ser lançada em 2022.
Humanos
nas Américas
Pesquisadores argentinos apresentam, no periódico de livre acesso PLoS ONE, achados que sugerem a presença de seres humanos, ou de ancestrais homininos, nos pampas da Argentina há mais de 14 mil anos.
A descoberta, no sítio arqueológico de Arroyo Seco 2, próximo ao extremo leste do território argentino, consiste de uma série de ferramentas de pedra e ossos quebrados de animais do pleistoceno (período encerrado há cerca de 11 mil anos). Esses ossos trazem sinais de que teriam sido partidos e raspados por ferramentas.
Datação de carbono 14 sugere que o achado tem de 13 mil a 14 mil anos. Os ossos de algumas espécies concentravam-se em áreas específicas do sítio, o que pode indicar que a atividade de cortar a carne dos animais caçados, e separá-la dos ossos, era realizada nesses pontos.
Os autores reconhecem que parte das descobertas poderia ser reinterpretada e explicada sem a necessidade de se invocar intervenção humana, mas insistem que o conjunto é altamente sugestivo da presença de seres humanos nos pampas antes da dispersão da chamada cultura Clovis da América Norte, de cerca de 12 mil anos atrás.
Durante muito tempo, Clovis foi considerada a mais antiga população humana das Américas. Mas outros sítios arqueológicos sul-americanos, como o de Monte Verde, no Chile, e Lapa Vermelha, no Brasil, já indicavam uma ocupação do continente anterior ao período de Clovis. O artigo original pode ser lido em https://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0162870 .
Flores
Artificiais
Pesquisadores baseados nos Estados Unidos apresentam, no periódico Nature Communications, um novo material capaz de mudar de forma em momentos pré-programados: em vez de depender de estímulos externos, como temperatura ou acidez, para alterar seu formato, esse material se vale de ligações químicas permanentes – que acumulam energia elástica e acabarão definindo a forma final do objeto – e temporárias, que se desfazem segundo um cronograma pré-programado.
Essa “rede dupla de ligações permite codificar tanto o ritmo quanto o caminho das transformações de forma, em escalas de segundos a horas”, escrevem os autores. Um dos exemplos apresentados no material publicado é uma flor artificial, que desabrocha na velocidade programada por seus criadores.
Felicidade
nas abelhas
Experimento descrito na revista Science sugere que insetos – no caso específico, abelhas – podem exibir comportamentos indicativos de estados emocionais, como felicidade e otimismo. O trabalho foi conduzido por pesquisadores baseados no Reino Unido.
Para realizar o estudo, abelhas foram apresentadas a dois cilindros diferentes, um contendo águe pura e outro, uma mistura de água e açúcar, e aprenderam a voar mais rapidamente para o cilindro da solução doce. Numa segunda etapa, foram apresentadas a um só cilindro, que poderia conter água ou solução.
De acordo com nota divulgada pela Science, abelhas que haviam recebido uma recompensa de água com açúcar voaram mais rapidamente para o cilindro único, o que, segundo os autores, pode ser interpretado como um sinal de otimismo, estimulado pela recompensa, diante da ambiguidade.