Estamos diante do maior desafio desta geração de profissionais da saúde, a pandemia por Covid-19. Tudo indica que somente estaremos livres da Covid-19 quando a quase totalidade da população adquirir a capacidade de produzir anticorpos contra o vírus, seja pela infecção ou então pela vacina. Enquanto isso não ocorrer, resta-nos tomar todas as precauções possíveis. Um ponto que emerge é que o isolamento social protege as pessoas e o sistema de saúde, espaçando a ocorrência de casos e evitando o caos que ocorre em alguns países da Europa.
Para tentar ilustrar este desafio, a província de Hubei, onde tudo começou, teve cerca de 68 mil casos confirmados e, possivelmente, dois milhões de pessoas (dado superestimado) tiveram infecção assintomática ou com sintomas leves. Porém, a população de Hubei é de 58,5 milhões de habitantes, ou seja, mais de 56 milhões continuam vulneráveis à infecção por Covid-19.
As temperaturas de verão e outono no Brasil possivelmente oferecem alguma proteção. Será que este fator poderia contribuir para evitar a ocorrência do pico de doentes da Itália? Não me parece absurdo admitir um “sim” para esta resposta.
Em dois meses iniciaremos o inverno. Assim, será que temperaturas mais baixas favoreceriam a transmissão? Se a resposta for sim, será que esta variação climática prolongaria o tempo de duração da pandemia no Brasil? Também não me parece absurdo admitir um “sim” para esta resposta.
É uma sensação estranha; não sei se na guerra é assim. Conhecemos pouco de nosso inimigo; não sabemos o quanto as armas disponíveis são eficazes; na verdade, não temos armas eficazes; estamos sendo atingidos pelo inimigo.
Ganharemos esta luta como a humanidade ganhou todas as lutas contra pandemias ou epidemias que antecederam.
O custo será alto pelas vidas perdidas, pelo impacto negativo na economia, entre inúmeros outros fatos. As grandes potências estão superpreparadas para se defender de um ataque nuclear, mas estão muito vulneráveis a um ataque viral. Nos Estados Unidos o total de mortes atribuídas à Covid-19 já é muitas vezes maior do que o total de 2.977 vítimas do ataque às torres gêmeas.
No Brasil, neste ambiente de disputa política entre governantes, felizmente emerge um universo de profissionais de saúde altamente comprometido, que coloca a própria vida em risco, que sofre discriminação, que assume uma sobrecarga de trabalho para cumprir com seu juramento.
Na Unicamp, desde o início deste ano há profissionais e dirigentes que vêm discutindo e planejando ações para quando a epidemia chegar. A este time foi se agregando profissionais, de tal forma que temos um exército para atuar.
É fantástica a nossa capacidade de mobilização.
O contraditório é que, para nós e para o mundo, este é um momento único, uma experiência única para algumas gerações, pois há um ganho imenso de conhecimento e competências em curtíssimo espaço. É um momento de grande solidariedade, fantástico! Nós podemos ou precisamos nos isolar para atenuar os efeitos da pandemia, mas o mundo precisará se unir, globalizar para melhor enfrentar futuros ataques virais. As diferenças econômicas e sociais nos fragilizam enquanto combatentes com prejuízos para os mais pobres e para os mais ricos.