Devido ao crescimento de movimentos de negação da ciência, principalmente durante a pandemia de Covid-19, e a busca por informações científicas relevantes, aumentou a necessidade de compreensão dos mecanismos da ciência. Neste contexto, acaba de ser lançada uma ferramenta gratuita que acompanha o debate e informações sobre ciência no Twitter, rede social chave para influenciadores e tomadores de decisão. Batizada de Science Pulse, a plataforma busca aproximar jornalistas e cientistas para acelerar a divulgação de informações de qualidade.
A ferramenta utiliza uma prática chamada de Social Listening, seu algoritmo acompanha tweets, retweets, comentários, palavras-chave e tendências para encontrar o debate na comunidade científica, de modo que o profissional de comunicação não precisa seguir milhares de perfis para acompanhar o que é dito nas redes sociais pelos pesquisadores. “O Science Pulse junta tudo isso de uma forma bastante fácil de visualizar e tem ferramentas que faz uma pré-análise dessa discussão toda”, comenta Ana Paula Morales, fundadora e coordenadora da Agência Bori, colaboradora da iniciativa.
O Twitter foi escolhido como rede social inicial pois, apesar de não representar a população como um todo, é a rede social onde ocorre o debate entre influenciadores e tomadores de decisão, sejam eles jornalistas, cientistas ou políticos, especialmente no atual momento de pandemia em que as informações fluem de forma imediata. ”Muito das coisas que acontecem no Twitter repercutem na vida real, na política, em políticas públicas”, comenta Sérgio Spagnuolo, fundador e editor da Volt Data Lab, agência independente de jornalismo de dados que idealizou e desenvolveu a plataforma.
A função que torna o Twitter tão atrativo é sua instantaneidade. Para os jornalistas significa a possibilidade de divulgar notícias para um grande número de pessoas, a possibilidade de interagir com diversos interlocutores em tempo real e medir o impacto de notícias. Enquanto o uso de hashtags como #minhacienciaemumtweet e os Moments (um aglomerado de tweets sobre o mesmo assunto) permitem que cientistas e divulgadores compartilhem suas pesquisas, expliquem conceitos científicos e promovam debates na rede.
O Science Pulse conta com um banco de dados composto por mais de mil cientistas das áreas de exatas, biológicas e economia e por organizações de pesquisas que usam o perfil do Twitter principalmente para divulgação científica. A ferramenta monitora, analisa e agrupa as últimas discussões e assuntos levantados em contas da rede social e as torna disponível para busca de fontes e criação de pautas. Além de ser útil para os jornalistas, a ferramenta pode ser explorada por qualquer pessoa, já que o projeto filtra as últimas discussões com bases científicas.
No contexto da atual pandemia, a frequência de pesquisas e notícias aumentou, assim como a comunicação da ciência tanto por jornalistas quanto por cientistas. “Essa ferramenta [Science Pulse] é importante nesse aspecto, para ver o que está sendo discutido por fontes qualificadas, pesquisadores cujas discussões inclusive em redes sociais são baseadas em evidências científicas e quais são as discussões que ainda não chegaram inclusive nos papers científicos”, afirma Ana Paula.
No começo do ano, trabalhos parecidos foram criados com o mesmo fim: dar mais visibilidade à produção científica nacional na mídia. A Agência Bori é um exemplo. A plataforma libera acesso antecipado (mas com política de embargos) aos artigos para jornalistas e sugere possíveis fontes especializadas para as matérias. Tudo isso para levar o conhecimento para fora da academia. Da mesma forma, o projeto Open Box da Ciência tem o objetivo de aumentar a seleção de mulheres cientistas como fontes para jornalistas.
Diante da grande demanda por entrevistas com especialistas, informações de qualidade e combate à desinformação sobre a Covid-19, iniciativas como essas aproximam ciência, mídia e sociedade trazendo benefícios que devem durar muito além da pandemia.