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Adolescentes não adoecem?
Estudo derruba teorias ao mostrar por que 20% dos
jovens Campinas têm diagnóstico de doença crônica

Quem deve atender os adolescentes? Quantos pais já fizeram essa pergunta no momento em que o filho, ao atingir 14 anos de idade, precisou passar por atendimento médico? De acordo com a pediatra Marici Braz, o impasse está também na cabeça dos médicos, pois o pediatra especializa-se em atender crianças, e o clínico nem sempre está preparado para lidar com o paciente que acaba de sair da infância. Esta lacuna faz, segundo Marici, com que o adolescente seja “terra de ninguém” e pode estar ligada ao mito de que adolescente não fica doente. Mas em sua dissertação de mestrado, com dados obtidos do inquérito populacional realizado em 2008 e 2009 (ISACamp 2008/2009), ela observou que 20% dos adolescentes de Campinas têm diagnóstico de doença crônica (asma, doença cardíaca hipertensão, diabetes, etc). Outro fator preocupante é que 60% dos entrevistados referem ter algum problema de saúde como dor de cabeça, dor nas costas, insônia, nervosismo, entre outros. “É consenso falar que eles não ficam doentes, mas os números estão registrados, e é preciso tomar iniciativas em relação a isso”, enfatiza Marici.

Os adolescentes acima de 15 anos apresentaram maior prevalência de doenças crônicas, segundo a pediatra. Asma foi a doença mais citada pelos adolescentes (8%), seguida das doenças do coração, manifestadas por 2% dos entrevistados, hipertensão, 1%, e diabetes, menos de 1%. Porém, ao declarar os problemas de saúde, 10% referem-se a problemas emocionais e 6%, a insônia, 42% dizem ter alergia, e 25%, dor de cabeça.

As adolescentes grávidas apresentaram maior razão de prevalência de doença crônica quando comparadas a adolescentes não-grávidas, o que não significa que as doenças sejam ligadas à gravidez. Marici informa que em pesquisas realizadas em outros países, verificou-se que as adolescentes com doenças crônicas têm mais parceiros sexuais e tomam menos anticoncepcionais. Diante dessas informações, esta pode ser também uma hipótese para a maior prevalência. “Deve-se tomar cuidado para não inverter a causa”, diz Marici.
A ocorrência de doenças crônicas também é expressiva entre adolescentes trabalhadores, também inseridos no grupo acima de 15 anos. Ela explica que a mesma evidência ocorre entre os adultos, pois quanto mais velho, mais sujeito a desenvolver doenças crônicas. “Talvez porque estejam se aproximando mais da idade adulta”, explica Marici. A maior prevalência também aparece entre adolescentes com quadro de obesidade.

Em relação aos problemas de saúde, foi encontrada maior prevalência em adolescentes do sexo feminino, o que ocorre também entre os adultos. Esse dado pode estar ligado a um fator cultural, já discutido amplamente, que diz respeito ao fato de a mulher procurar mais atenção médica. “Homem é mais reservado, se queixa menos”, acrescenta. Além disso, a mulher busca mais informações sobre cuidados com a saúde.

De acordo com Marici, enquanto pesquisas com adultos mostram que a prevalência de doenças está ligada à escolaridade e à situação socioeconômica, entre os jovens não foi encontrada nenhuma evidência nesse sentido.

Os dados levantados devem mudar a ideia de que o adolescente não fica doente e contribuir para que os serviços de saúde sejam organizados para um melhor acolhimento dos jovens. De cinco anos para cá, segundo a pediatra, as coisas estão melhorando. Ela informa que em Campinas é realizado um curso de capacitação de médicos pediatras, enfermeiros, psicólogos da rede básica de saúde para estimular o atendimento dos adolescentes com outro enfoque, abordando a questão da puberdade e da sexualidade. “O que preconizamos no atendimento do adolescente é fazer algo ampliado, como uma avaliação biopsicossocial do adolescente”, afirma Marici.

De acordo com ela, as queixas podem ser somente psicossomáticas, mas não é por isto que não são importantes. Segundo a pediatra, a avaliação do contexto familiar e socioeconômico em que vivem os adolescentes, as situações de ansiedade pelas quais estão passando devem ser valorizadas, assim como a questão do corpo e a busca da autonomia.

A pesquisa pode mudar o olhar dos pais, da sociedade e da medicina em relação à saúde dos adolescentes. Para Marici, os dados são importantes também para repensar a formação dos médicos. Dentro da pediatria, o futuro médico deve ser estimulado a olhar para o adolescente de forma diferenciada. Para ela, se o clínico tiver este olhar, enxergará o adolescente não como adulto, mas com características próprias de sua faixa etária. Porém, a Sociedade Brasileira de Pediatria define que o pediatra seria o melhor profissional para acompanhar o jovem até os 20 anos de idade. Hoje, já existe uma discussão para que o atendimento se estenda até os 24 anos, segundo Marici.

A pediatra lembra que o novo modelo de vida, com acesso à informática, espaço cibernético, também é um aspecto novo para o qual os médicos devem se confrontar neste momento. Alguns sintomas podem estar relacionados com o tempo que o adolescente permanece diante do computador. Mas esse tema ficará para o doutorado, em que ela avaliará a qualidade de vida e os hábitos saudáveis dos adolescentes, passando por alimentação, atividade física, uso de cigarro e álcool, acesso dos adolescentes ao serviço de saúde, entre outros.

Médica do departamento de Pediatria da FCM, Marici afirma que os adolescentes somente procuram atendimento em situação de doença aguda. “Neste momento em que eles chegam com queixa aguda, procuramos acolhê-los e aproveitar a oportunidade de propor um seguimento com agendamento de retorno”. Esse é o momento de fazer avaliação geral do paciente.

A pediatra lembra que na adolescência o próprio paciente deve expor os sintomas e conversar diretamente com o médico, pois quando é criança quem observa os sintomas são os pais. Para que eles falem o que estão sentindo é preciso que o médico o acolha e ele sinta confiança e estabeleça uma boa relação médico-paciente. O inquérito foi realizado com mil adolescentes. “Esperamos, de fato, contribuir para mudar essa visão de que todo adolescente é saudável”, conclui Marici.

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■ Publicação

Dissertação: “Doenças crônicas e problemas da saúde em adolescentes do município de Campinas”
Autora: Marici Braz
Orientação: Antonio de Azevedo Barros Filho
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

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