Seo
Nelson aprendeu a gostar da música desde criança,
assim como a maioria das pessoas. Em 1969, o destino incumbiu-se
de colocá-lo no Departamento de Música da Unicamp.
Mas não era simplesmente uma história de prazer.
Segundo Silvia Helena Ceccato funcionária do Instituto
de Artes e companheira de trabalho de Nelson Maleski durante
12 anos ele tinha verdadeira veneração
pela música erudita. Mais do que apreciador, Nelson era
uma biblioteca ambulante na opinião dos amigos
e, ao ser consultado sobre uma peça musical, esbanjava
conhecimento e revelava até detalhes do momento em que
o autor compôs sua peça.
O
bom relacionamento com as pessoas com as quais convivia já
fazia de seo Nelson um doador em potencial. Nenhum
professor ou funcionário escapava de seus votos de feliz
aniversário. E, para os alunos, ele montou, por iniciativa
própria, uma fonoteca com peças de seu acervo
particular, por meio da qual permitia a audição
e a locação de fitas e discos de obras citadas
e estudadas durante as aulas. A fonoteca de seo
Nelson era composta de radiogravadores que solicitou à
chefia do Departamento de Música. A amiga Silvia conta
que grande parte das fitas dispostas na fonoteca de Nelson Maleski
era de gravações de discos realizadas em sua casa.
Quando o aluno precisava ouvir uma peça que estivesse
estudando, ele emprestava disco do acervo particular,
reforça Silvia.
Este
espírito doador motivou a família Maleski a atender
a um desejo do patriarca, após sua morte em 1997. Um
acervo de 3.736 LPs e mais um número considerável
de livros, entre eles biografias, dicionários de música,
fascículos, catálogos de partituras foram doados
a alunos e usuários da biblioteca do Instituto de Artes.
O material doado contribuiu para a abertura da fonoteca do IA,
hoje com rico acervo.
Como
o ex-funcionário Nelson Maleski, outras pessoas da sociedade
preocuparam-se com a valorização do aprendizado
da música. Entre elas, o físico Rogério
Cerqueira Leite, que doou, em 1997, 3.857 LPs, dois amplificadores,
dois toca-discos, dois pares de caixas acústicas, além
da estante na qual estava disposto seu acervo.
Essas doações, entre outras realizadas por usuários,
professores e alunos, permitiram que a fonoteca fosse aberta
aos usuários em 2000 com um acervo de 10 mil LPs e 187
CDs, segundo a bibliotecária Marli Medeiros. Para ela,
a criação da fonoteca deve-se à dedicação
do professor Alexandre Pascoal Neto que, apesar de estar aposentado,
voluntariou-se na ampliação do espaço e
do número de equipamentos para atender uma demanda maior
de usuários. Dele foram as primeiras doações
de um deck toca-fitas Gradiente e 27 CDs do repertório
clássico.
Invejável a qualquer sebo de produtos culturais, sem
menosprezar as relíquias disponíveis neste tipo
de estabelecimento, o acervo da fonoteca compreende desde a
Idade Média até obras do século 20. Segundo
a diretora do Instituto de Artes, Helena Jank, o acervo contém
tudo o que há de melhor em música clássica
e erudita. Uma rara coleção de canto gregoriano
e peças de compositores barrocos como Monteverdi e Peri
um compositor do início do período barroco
canções de trovadores da Idade Média
e todas as óperas de Wagner, além de obras compostas
no século 20 doadas pelo físico Rogério
Cerqueira Leite, terão muita importância na vida
acadêmica dos alunos como também em pesquisas realizadas
por estudiosos. São obras dificilmente encontráveis
em outros acervos. E essas doações passam a representar
um IA que antes tinha uma discoteca modesta e passou a ter uma
das mais raras, se comparada com outras até mesmo fora
do Brasil, diz Helena.
Por
se tratar de um material raro, a biblioteca não faz locação
desse tipo de material, nem mesmo de fitas de videocassete.
Por meio de um banco de dados informatizado, o usuário
pode fazer a consulta e solicitar o material para audição
ao funcionário responsável pelo acervo. A audição
é feita no interior da fonoteca, a qual dispõe
de toca-discos e CD players, além de um teclado com fone
de ouvido. Aos poucos, o material em vinil mais procurado pelos
alunos está sendo gravado em CD pela aluna Simone da
Silva Faria, do 3º ano do curso de música. Estudante
de música desde os 8 anos, a fonoteca é de extrema
importância na vida do aluno de música, pois facilita
a compreensão de dados que são passados nas aulas.
Por meio de uma bolsa-trabalho SAE, Simone é um dos estudantes
que se empenham na construção da fonoteca. O
aluno precisa conhecer a obra mais de perto, reforça.
O
importante na história da fonoteca, na opinião
de Helena Jank, é observar como faz diferença
este tipo de gesto. Para ela, faz lembrar a história
de um amigo que, ao deparar com o acervo pobre de uma biblioteca,
decidiu que doaria pelo menos um livro por ano. Hoje,
é uma maravilhosa biblioteca feita com doações.
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