A programação
cultural do Restaurante Universitário abriu espaço para a revelação
de dois novos e jovens talentos da universidade dia 20 de junho. João Paulo
Amaral e Eduardo Visconti compõem o duo Cordas Vivas, que reúne
guitarra acústica e violão em seus arranjos. O trabalho do Cordas
Vivas propõe uma leitura moderna e sensível de vários ritmos
da música brasileira mais genuína, revelando, segundo os componentes,
suas belezas muitas vezes esquecidas. Trilhos Urbanos é tocada
em ritmo de baião, assim como as células rítmicas do baião
são repassadas para as cordas dos instrumentos dominados por João
Paulo e Eduardo. Nós aproveitamos elementos de música regional
brasileira e tentamos readaptá-los para os nossos instrumentos. É
como se fosse o som do surdo traduzido pelas cordas de um violão.
A
essência do trabalho dos instrumentistas é a música brasileira
em toda sua originalidade. Células rítmicas do cateretê, do
clássico de Villa Lobos, do maracatu, do samba, do baião, do frevo,
do choro são absorvidas para fazer parte dos sofisticados arranjos do duo.
Com exceção do Trenzinho do caipira, de Villa Lobos, os arranjos
são produzidos a partir de canções. É como ouvir Tristeza
do Jeca e pensá-la especialmente tocada ao som das cordas e, mais especial
ainda, com células do cateretê. Segundo a dupla, os arranjos exploram
as mais variadas cores e sons de seus instrumentos, buscando recursos de percussão,
improvisação, afinação diferenciada e o sotaque de
outros instrumentos tipicamente brasileiros, como a viola caipira, o cavaquinho
e o violão de sete cordas. Não chega a ser um jazz brasileiro,
diz Visconti. Mas o trabalho da dupla é um jeito novo e sofisticado de
representar a genuidade da música brasileira. A diferença
é que a música é tratada como peça, é lapidada,
esclarece o músico. O
repertório reúne músicas conhecidas e inéditas
compostas por João Paulo. Entre os compositores reverenciados por eles
estão Tom Jobim, Villa Lobos, Angelino Oliveira, Milton Nascimento, Edu
Lobo e Caetano Veloso. As 14 músicas que são executadas em seus
shows receberam arranjo de João Paulo. Os arranjos permitem improvisações,
para que cada um possa demonstrar suas habilidades, diz Amaral. Há
um mês, eles gravaram, por força própria, quatro faixas em
CD para divulgação do trabalho. O projeto é de reunir
sete faixas no trabalho final, reforça Visconti. As peças
que compõem o portfólio são Trenzinho do caipira, Villa Lobos;
Tristeza do Jeca, Angelino Oliveira; Samba do avião, Tom Jobim; e Gingado
dobrado, Edu Lobo. O
interesse dos componentes do Cordas Vivas pela música começou na
adolescência e, se dependesse da primeira experiência em uma cadeira
da universidade, talvez não tivessem a mesma disponibilidade para se dedicar
às partituras. Aos 12 anos, o garoto de Mogi das Cruzes João Paulo
do Amaral já iniciava os estudos de violão e guitarra. Filho e irmão
de cantores, aos 18, contrariando a tradição da família,
ingressou no curso de Engenharia Elétrica da Unicamp, mas abandonou a então
futura carreira ao perceber que gosta mesmo é de fazer música,
de preferência, brasileira. Hoje, aos 23 anos, além de ser companheiro
de Eduardo Visconti no trabalho e no 4º ano do curso de música popular
da Unicamp, acompanha a irmã cantora Ana Luiza na gravação
de um CD de samba, ao lado de grandes músicos brasileiros como Robertinho
Silva, ex-baterista de Milton Nascimento; Natan Marques, ex-guitarrista de Elis
Regina; e Sylvinho Mazzucca, contrabaixista. Eduardo Visconti, 23 anos, também
abandonou um curso de administração de empresas para dedicar-se
à música, profissão que já o teria inspirado aos 15
anos. Aos 18, o paulistano Visconti tornou-se professor de violão. Mas
o que o levou ao domínio das cordas foi um sentimento muito pessoal, apesar
de ter um tio que atua como maestro de banda sinfônica. Foi mais uma
coisa de gostar de música, revela. O
Cordas Vivas nasceu há dois anos, durante o curso de música, com
o compromisso de passar um trabalho de identidade brasileira. Nós
sentimos falta de valorização da música instrumental e da
música instrumental brasileira na mídia. Não é
sempre que o público tem a oportunidade de ouvir o que as cordas de um
violão e de uma guitarra podem fazer com o sotaque da cuíca e do
tamborim. Mas o Cordas vivas tem a fórmula, diferente e própria
que está sendo apresentada em vários shows. O próximo show
do duo será em julho, na Festa do Morango, em Monte Alegre. Segundo Amaral,
o evento se repetirá em vários dias. O e-mail para contatar os músicos
é jp.amaral@ig.com.br. |