Brasileiro
não tem acesso ao livro
O
brasileiro só não lê porque não tem acesso ao livro.
Isso acontece porque ganha mal e por desconhecimento da obra que está no
mercado. Somam-se a esses fatores a questão da falta de costume, de tempo
e de vontade do leitor se dirigir às estantes de uma biblioteca e apanhar
um livro.
A
conclusão é de Felipe Lindoso, diretor de Relações
Institucionais da Câmara Brasileira do Livro (CBL), que na quarta-feira
(dia 18) participou da mesa-redonda Leitura e consumo do livro no Brasil, dentro
das atividades do 13° Cole (Congresso de Leitura do Brasil), realizado na
Unicamp, que teve a participação de cerca de quatro mil pessoas
e 930 trabalhos de comunicações inscritos. E Lindoso vai mais longe:
Independente desses motivos, o que colabora para o agravamento da situação
é a inexistência de um eficaz sistema de bibliotecas públicas
que possibilite esse acesso ao leitor, que é um dever do Estado e da sociedade,
diz .
No
Brasil há uma população alfabetizada, com mais de 14 anos,
em torno de 86 milhões de pessoas. De acordo com pesquisa Retrato da Leitura
no Brasil, feita pela CBL em 40 cidades espalhadas por todas as regiões
do País, 62% desse contingente afirmam que gostam de ler, enquanto que
30% haviam lido um livro nos três últimos meses que antecederam a
pesquisa, e 20% tinham lido apenas uma obra no último ano. Felipe explica
que o índice de leitura do povo brasileiro, quem compra e quem lê
um livro, até que é bastante razoável. Ou seja, esse
público lê, em média, até seis livros por ano.
Mas faz uma ressalva: traduzindo para uma população alfabetizada,
isso dá l,2 livro ao ano, que significa um índice extremamente baixo
se comparado por exemplo com os nove livros por pessoa lidos nos Estados Unidos,
e os 18 pelo Japão e Alemanha. E não se pode dizer que o livro brasileiro
seja caro. Tem o mesmo valor que o livro português, do francês,
do italiano e do livro americano, se tivermos que fazer comparações
de preços. Uma obra que aqui custa R$ 15 reais, em Portugal tem o mesmo
valor. Acontece que lá o salário mínimo é nove vezes
maior que o nosso.
No
Brasil, de acordo com Lindoso com base na pesquisa, 11% das pessoas não
lêem por não terem dinheiro para comprar livros. Apenas 8% dos livros
lidos foram retirados em bibliotecas públicas, enquanto que aproximadamente
metade da população comprou os livros que leu. Por mais estranho
que possa parecer, no cômputo geral, 39% declararam não ter tempo
para a leitura, revela Lindoso.
No
Estado de São Paulo, onde os programas de leitura nas escolas são
mais antigos e mais eficientes do resto do país, o grau de queda no índice
de leitura na faixa entre os 14 e 19 anos é menor do que no resto do país
onde não existem programas semelhantes. Felipe Lindoso observa que a criança
com mais acesso ao livro na escola não o livro didático,
de referência mas obras literárias, como romance, contos,
poesia e novelas, desenvolve de modo satisfatório o hábito de leitura.
As escolas públicas do Estado de São Paulo, por outro lado, têm
um bem montado programa de utilização do livro não-didático
que é significativamente maior do que os outros Estados brasileiros. No
entanto, como é de se esperar, esse índice cai quando o indivíduo
atinge os vinte anos de idade. Acontece que em São Paulo essa queda é
bem menor do que em outras regiões do país, diz Lindoso.