Tem
de ter adrenalina. Nos passeios ciclísticos na companhia dos pais,
Kauan Stolfi Gabriel, aluno do pré-primário da Emei Unicamp, precisa
de muita proteção, não só dos pais, mas de equipamentos
especiais também. Capacete, queixeira, luvas, calças com protetor
são os companheiros oficiais do anjo da guarda do pequeno campeão
de bicicross. Durante o passeio ele começa a ensaiar algumas manobras
mais radicais, então o levamos para a pista, em Paulínia,
revela seu pai, Edvaldo de Moura Gabriel. Em dois anos de treino, Kauan conquistou
nove troféus na categoria 5/6 anos em provas de bicicross. Líder
do campeonato regional em sua categoria em 2001, Kauan já começa
a intensificar os exercícios com o treinador Ricardo Alves para participar
da Etapa Brasileira do Campeonato Mundial de Bicicross 2002, na categoria 7/8
anos, que será realizada em Paulínia, cidade onde está localizada
a Escolinha de bicicross. Mal
tirou as rodinhas de apoio de sua primeira bicicleta, aos 4 anos, Kauan Stolfi
Gabriel reivindicou aos pais o direito de montar uma bicicleta especial para participar
de treinos com pilotos de bicicross. O responsável por apresentar uma prova
de bicicross ao garoto foi seu pai, o técnico em eletrônica Edvaldo
de Moura Gabriel. Eu o levei para assistir a uma prova e ele saiu de lá
dizendo que gostaria de se dedicar ao esporte, afirma. Segundo Gabriel,
ele se destacou rapidamente nos treinos e em dois meses de escola Ricardo Alves
aconselhou o pai a investir no novo atleta. Resultado, em sua primeira prova,
com 4 anos de idade, o herdeiroda família Gabriel ocupava o
terceiro degrau de um pódio, entre seis pilotos concorrentes. Na sua pequenez,
como revela a foto da prova, mal conseguia erguer o troféu. No ano
seguinte, já pôde participar com a camisa da equipe, patrocinada
pela Petrobras, relembra, orgulhosa, Miriam. Desgaste?
Nenhum, o dedicado esportista garante que o fato de gostar do que faz não
permite que ele se canse. Eu não me canso porque gosto dos treinos,
reforça. Filho de Miriam Cristina Stolfi Gabriel, técnica de enfermagem
no Ambulatório de Hemodiálise do Hospital de Clínicas da
Unicamp, Kauan tem apenas 6 anos de idade e já tem uma responsabilidade
além de se dedicar às atividades escolares no pré-primário
da Emei Unicamp: treinar para vencer. Eu treino para ganhar, se garante.
A ansiedade e a decepção na hora de uma inevitável queda
(em bicicross, a queda é desclassificatória) são amenizadas
pela mãe, que trabalha os impactos com o filho imediatamente. É
preciso bastante dedicação para se tornar um campeão. Os
treinamentos são intensificados nas semanas que antecedem as provas. Para
garantir uma boa classificação, Kauan chega a treinar duas horas
por dia, além das duas aulas com duração de três horas
que ocupam sua semana. As provas acontecem aos domingos e as inscrições
são abertas, desde que o atleta tenha os equipamentos necessários.
Cada corrida tem três baterias eliminatórias. Quem se destaca é
campeão da etapa. Perguntado sobre o que sente nos momentos em que é
dada a largada e que precisa saltar das rampas, o jovem campeão revela
um pouco de ansiedade. Eu fico assustado, confessa. O treinamento
é acompanhado de alongamentos e acompanhamento psicológico. O cardápio
é especial. Segundo a mãe, é o próprio Kauan quem
cuida de seu cardápio. Ao contrário do que deveria ser, os pais
são advertidos quanto tentam convencê-lo a comer apenas um
docinho. Eu digo que só um não fará mal, mas
ele adverte sobre os riscos de sair da dieta, se redime. A alimentação
de Kauan é rica em proteínas e sais minerais. A
adrenalina não faz parte só do sentimento do atleta durante as provas.
A gente vê o filho largando com oito pilotos, sempre tem tombos e
as rampas chegam a 2, 5 metros de altura. No final, é um desgaste psicológico
e físico. A adrenalina é muito grande, avalia Miriam. A vida
dos pais também muda um pouco em favor da participação do
filho nas provas. Diante do calendário do campeonato, Miriam e Gabriel
organizam suas agendas e alteram dias de folga. Kauan
sempre foi companheiro do pai, adepto de motocross, para assistir a campeonatos
de motovelocidade. O interesse de Kauan por bicicleta, antes de ser apresentado
ao esporte, sempre foi o de uma criança normal. Miriam confessa que no
começo achou que fosse empolgação e não esperava vê-lo
campeão. Entre as muitas coisas pelas quais se interessa, o garoto gosta
de desenhar, pintar, jogar videogames. Quanto a modalidades esportivas, ele ousa:
Gosto de kart, motocross, fórmula 1, radicaliza. O futebol
também é apreciado pelo campeão, mas seu negócio é
a bicicleta, convence. Para um pequeno atleta não importa o investimento,
que, segundo o pai, gira em torno de R$ 2 mil entre a bicicleta e o equipamento.
O prêmio em moeda dedicado aos ganhadores nesta categoria é simbólico.
Normalmente eles ganham camisetas, quadros pneus de empresas que patrocinaram
o circuito, diz Miriam. Nas finais, os pais recebem um valor simbólico
como incentivo. Sem
uniforme de piloto e sem os equipamentos, Kauan é uma criança frágil
brincando com os outros alunos da professora Kátia Regina Scamparin no
parque da Emei. As condições para garantir a manutenção
na equipe de bicicross são bom comportamento, bom rendimento na escola
para as categorias maiores e disciplina. Rivalidade existe, afirma
Gabriel, mas acontece de ter dois ou três pilotos da mesma equipe,
e antes da prova eles se cumprimentam, brincam, ameniza a mãe. Como
todo bom seguidor, Kauan tem um ídolo,o campeão paulista de bicicross
que é representante brasileiro em mundiais, Davlim Balthazar Júnior,
mais conhecido como Darvlin Turbo Balthazar. Já tirei foto com ele,
alegra-se o pequeno atleta. Kauan ainda não tem planos para o futuro, por
enquanto, seus sonhos flutuam sobre duas rodas que só param de girar quando
interrompidas por um freio dianteiro, responsável por altas e radicais
manobras e um uníssono: É campeão.
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