Um apelo do pai
convenceu Ilton Sebastião Reis a abrir mão de uma das oportunidades
mais esperadas por centenas de jovens brasileiros: integrar a equipe profissional
de grandes clubes de futebol. A paixão pelo futebol agora é experimentada
apenas como espectador, pois, ao tentar realizar seu sonho, uma voz falou mais
alto: Filho, você nunca precisou sair de casa, por que sairia agora?.
As palavras do senhor Francisco José Reis foram definitivas e fizeram Ilton,
aos 18 anos, reavaliar a proposta feita pelo Fluminense, do Rio de Janeiro, em
1953. As malas foram desfeitas imediatamente, principalmente porque a remuneração
recebida por atletas das décadas de 1950 e 1960 não superava os
salários de grandes empresas. Quem
vê hoje o senhor Ilton a transitar pela Unicamp ou receber e despachar documentos
em uma pequena sala na Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH) nem imagina
o passado que se esconde em seu cordial e assíduo bom-dia ou boa-tarde.
E muito menos por que mantém-se elegante aos 66 anos. E por falar nele,
poucos o conhecem por este nome. Ilton Sebastião é Vavá
desde os tempos em que protegia a rede dos bombardeios de seus adversários
em campos de futebol de Campinas e região. Para não haver escolhidos
nem excluídos, o goleiro Vavá defendeu os dois mais famosos times
do futebol campineiro como atleta amador: Ponte Preta e Guarani.
Vavá
iniciou a carreira de jogador em 1951, aos 16 anos. Em 1952, foi campeão
juvenil pelo Esporte Clube Mojiana, em Campinas. Antes disso, o futebol era praticado
apenas nas calçadas da esquina da Avenida Andrade Neves com a Rua Barreto
Leme, onde morou até 1948. Como na época era permitido trabalhar
e jogar futebol ao mesmo tempo e a sobrevivência não era garantida
em partidas de futebol, Vavá aceitou jogar na condição de
amador como não-amador, com o Guarani Futebol Clube e a Associação
Atlética Ponte Preta após deixar o Mojiana. Nunca parei de
trabalhar para jogar futebol. O salário que os times ofereciam era menor
que o da empresa, lembra. Na Macaca, o ex-atleta jogou com craques
como Bruninho, Carlito, Carlinhos, Pitico, Noca, Nininho, entre outros.
Orgulhoso
de seu passado, tanto quanto de seu presente (garante), o ex-jogador lembra com
saudade o último título, que garantiu a promoção da
equipe Saltense para a segunda divisão do Campeonato paulista, em 1958.
Na época, jogávamos contra Ituano, Bragantino, Paulista de
Jundiaí, São Bento de Sorocaba, orgulha-se. Antes de contribuir
para a ascensão do time de Salto, onde permaneceu de 1958 a 1962, o campeão
jogou como não-amador algumas partidas no Velo Rioclerense, Rio Branco
de Americana.
Um
grande amor, com o qual vive até hoje, afastou Vavá dos campeonatos.
Em 1962, após casar-se com Tereza Vital Reis, passou a disputar amistosos
pelo Gazeta em Campinas e pelo Sereno Esporte Clube. No Sereno, clube desconhecido
pelos amantes de futebol das gerações mais jovens, atuou ao lado
de Vanderlei (Ponte Preta), Caravetti, Ladeira, Nicanor, e outros.
O
trabalho de chefe de transporte e expedição na Bendix do Brasil
tomou o espaço reservado ao futebol. Para quem esperava aposentar-se dos
campos, Ilton Sebastião Reis aposentou-se da Bendix do Brasil em 1981,
mas trabalhou até 1984. Em 1988, foi contratado como aposentado pela Unicamp,
onde até hoje trabalha como auxiliar administrativo. Os encontros entre
ex-jogadores são realizados ainda hoje, com partidas de futebol e regados
a cerveja. Vavá não demonstra qualquer sinal de arrependimento
por ter ouvido o pai e ter optado por ficar com a família. Se eu
ganhasse o que eles ganham hoje.... Como bom goleiro, o aposentado abraçou
a vida com a mesma felicidade e dedicação que teria nos estádios
de futebol. A
paixão pela vida se retrata num casamento de 39 anos, do qual nenhum dos
filhos manifestou o interesse por futebol. Meu formou-se em educação
física e mantém uma academia com a esposa em Mogi-Mirim, mas seu
forte é natação, diz, sem lamento.
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