As proteínas do colágeno bovino e suíno, a conhecida gelatina, possuem atividade anti-hipertensiva, ou seja, são boa fonte alimentar para quem tem pressão arterial alta. A hipótese é que os peptídeos, uma das menores moléculas da proteína, presentes no colágeno, podem ser inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), que tem papel fundamental na regulação da pressão arterial. A constatação foi feita pela nutricionista Mariza Faria em dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). O trabalho foi orientado pela professora Flávia Maria Netto.
A pesquisa constatou que o potencial é similar ao encontrado no soro de leite, conhecido por especialistas como uma das melhores fontes de peptídeos com atividade anti-hipertensiva. A pesquisa tem significativo valor científico, na medida em que os medicamentos tradicionalmente utilizados para combater a pressão arterial alta são formulados em laboratórios e geralmente possuem efeitos colaterais indesejáveis que contribuem para a não-adesão ao tratamento da hipertensão.
Os testes, no entanto, foram feitos em ratos e constituem apenas uma primeira etapa de avaliações. Para maior precisão dos resultados, Mariza indica que o ideal seria a realização de experimentos também em humanos. Neste caso, trata-se de um estudo complexo, pois do ponto de vista ético e científico seria difícil a realização deste tipo de pesquisa, uma vez que os voluntários teriam que submeter-se ao tratamento com colágeno, sem ingerir medicamento. Mesmo assim, a nutricionista afirma que os resultados apontam uma pista interessante a perseguir. “Poderia, por exemplo, ser avaliado como coadjuvante no tratamento ou nos casos de hipertensão leve”, propõe.
A pesquisa de mestrado foi realizada com oito tipos diferentes de hidrolisados comerciais de soja, caseína, colágeno e soro do leite, com o objetivo de avaliar o potencial de cada um na inibição da ECA em experimentos in vitro e in vivo. As fontes hidrolisadas representam a “quebra” dos alimentos em partes bem pequenas, o que sugere o efeito observado no organismo humano, depois de sua ingestão. Segundo Mariza, é preciso que o alimento esteja neste estado, em cadeias menores, para que ocorra a inibição.
O que na verdade a pesquisadora pretendia com o estudo sobre peptídeos e atividade anti-hipertensiva, era contribuir nas discussões sobre pesquisas in vitro, aquelas realizadas em laboratórios e in vivo, feitas utilizando ratos e camundongos. Na literatura, existe uma teoria de proceder primeiro os testes in vitro para depois corroborar com os testes in vivo. No caso estudado por Mariza, embora os testes em laboratórios não acusarem a atividade anti-hipertensiva, os experimentos com ratos demonstraram um tremendo potencial. “Isso contradiz a literatura”, argumenta. Ela explica que os resultados in vivo são fundamentais para confirmação dos resultados do ponto de vista científico.
Com cada tipo de hidrolisado, a nutricionista submeteu os ratos a testes, denominados por ela de agudos e crônicos. Nos agudos, os ratos ingeriram os hidrolisados em quatro diferentes horários 14, 15, 16 e 17 horas e, nos testes crônicos, Mariza fez com que os animais tomassem uma mesma dosagem todos os dias por período determinado. Nas ingestões agudas de hidrolisados, tanto do soro de leite quanto do colágeno, a pressão arterial baixou em até 25% e se manteve estável por cinco horas. No crônico, o resultado foi uma redução de 10%. O estudo contou com financiamento da Capes e de uma empresa do ramo alimentício.