Quanto maior a experiência profissional acumulada ao longo dos anos, maior a confiança de que se é capaz de produzir resultados positivos em seu ambiente de trabalho e equacionar melhor os conflitos ocupacionais. Neste sentido, a psicóloga Arlete Portella Fontes defende, em sua dissertação de mestrado “O enfrentamento do estresse no trabalho na idade adulta”, um olhar mais atencioso e a necessidade de valorização, pelas organizações, dos profissionais mais maduros e com maior tempo de experiência. Ela explica que atualmente é comum observar a supervalorização do jovem trabalhador em detrimento dos mais antigos. “Defendo que as organizações devem mesclar seus quadros. De um lado estão os jovens atuando com ousadia em seus ideais, oferecendo agilidade e familiaridade com as novas tecnologias e, por outro, os mais velhos com a especialização cognitiva e emocional. A primeira obtida em função da experiência adquirida nos processos de trabalho e, a outra, por conta da priorização dos vínculos emocionais, evitando emoções negativas e valorizando as positivas”, esclarece a psicóloga.
Maturidade
traz melhor
enfrentamento do estresse
no trabalho
Em sua opinião, os trabalhadores mais experientes conseguem enfrentar melhor o estresse ocupacional quando apoiados em suas crenças de eficácia, ou seja, acreditando em sua competência para lidar com os estressores e em sua capacidade de atuar como agente em seu trabalho. A experiência faz com que priorizem o que fazer, o planejamento e a execução, sempre avaliando as ações e revendo os resultados, o que significa maior cuidado com as ações empreendidas. Desta forma, a pesquisa apresentada no Programa de Gerontologia da Faculdade de Educação quis, justamente, mostrar o universo que norteia as relações de trabalho, ao reunir dezenas de dados sobre 71 líderes de serviços em empresas do setor elétrico.
Além de pesquisar quais os motivos típicos de estresse desse ambiente de trabalho, Arlete também procurou estabelecer quais relações poderiam ser feitas entre a idade, o cargo, a experiência no cargo e seu enfrentamento. “O envelhecimento e o desgaste provocado pelo trabalho demandam a compreensão dessas relações entre idade, experiência e como é enfrentado o estresse ocupacional por trabalhadores que estão envelhecendo em seu ambiente de trabalho”, comenta.
O público alvo do estudo trabalha em ambiente altamente estressante. São indivíduos que lideram equipes de manutenção das redes elétricas de alta tensão, algumas vezes trabalhando com as redes energizadas. Estão sujeitos a quedas e riscos elétricos, sem contar a sobrecarga de trabalho para reparação das redes, principalmente por desligamentos ocorridos em temporais. “Nessas ocasiões, o cliente torna-se exigente e muitas vezes ocorre sobrecarga de trabalho para o rápido restabelecimento da energia, especialmente para hospitais, indústrias, escolas. Enfim, trata-se de uma profissão com riscos iminentes”, explica.
A população estudada é composta por engenheiros e técnicos de distribuição, que estão envelhecendo no trabalho, somando 67% com idade superior a 40 anos e mais de cinco anos de experiência. Apenas 30% dos líderes de equipe são jovens com menos de dois anos no trabalho, fato que mostra o investimento da organização na renovação de seus quadros. A pesquisa identificou nível alto de estresse percebido pela maioria dos trabalhadores. Na escala de 1 a 10, o nível indicado foi de 7. Os principais estressores encontrados foram os referentes a organização, próprios das tarefas e relativo à gestão de pessoas.
Crenças – Segundo Arlete Fontes, se a experiência torna o profissional mais capaz de equacionar conflitos, a crença em sua capacidade de vencer os desafios do cotidiano pode vir a ser mais importante do que a própria estratégia utilizada para o enfrentamento. Para a psicóloga, que atua há mais de 20 anos na área de psicologia do trabalho, a crença é essencial para garantir o enfrentamento do estresse. “O senso de que se é capaz estaria apoiado em recursos próprios como o conhecimento, habilidade e esforço”, argumenta. Por isso, ela defende a adoção de habilidades pró-ativas para estimular a qualidade de vida nas empresas. “A atuação deve ser prévia e contínua, através do desenvolvimento das crenças pessoais para manter níveis de competência, aliadas às habilidades que favoreçam o envelhecimento competente no trabalho. Neste aspecto, as organizações têm papel fundamental no tocante a valorizar estratégias que garantam efetivamente a qualidade de vida de seus trabalhadores”, argumenta.