Já é possível a um aluno de eletricidade e eletrônica, por exemplo, realizar em casa, via Internet, experimentos que o professor usualmente proporia apenas no laboratório da universidade. A ferramenta tem como base um editor similar a um editor de desenhos, que permite ao professor elaborar e disponibilizar experimentos remotos através da rede, e sem que para isso necessite do apoio de equipe especializada em desenvolvimento de hardware e software. O sistema é constituído por blocos eletrônicos, cujos componentes básicos são chaves, potenciômetros, capacitores e transistores. Esses componentes podem ser acionados isoladamente ou trocados entre si, conforme as necessidades do experimento, o que confere ao conjunto uma flexibilidade muito grande.
A ferramenta é fruto da pesquisa de doutorado de Marco Túlio Chella, orientada pelo professor Elnatan Chagas Ferreira e apresentada ao Departamento de Eletrônica e Microeletrônica, na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. Chella explica que um professor não precisa acionar uma chave remotamente, mas simplesmente conectá-la no circuito junto com os demais blocos eletrônicos que irão compor o circuito experimental. Em seguida, ele vai programar o comportamento dos blocos eletrônicos através do editor de experimentos e publicar o experimento para que o aluno possa acessá-lo remotamente.
A inovação está exatamente aí: o conjunto traz pronta uma arquitetura básica para uso do professor, que vai se valer apenas dos conhecimentos de sua área, sem que precise se preocupar com detalhes técnicos e operacionais como arquitetura do hardware, programação da rede e interface gráfica. “A literatura menciona laboratórios de acesso remoto em que um grupo de especialistas em hardware e programas de rede, juntamente com o professor interessado, elabora o experimento. É um trabalho de equipe e qualquer alteração exige que o experimento seja reprogramado, criando-se novos componentes de atuação. Este novo editor pode ser utilizado sem a participação desses técnicos especializados e abre possibilidade para reproduzir variados experimentos”, esclarece Marco Túlio Chella.
O pesquisador iniciou esse tipo de trabalho no mestrado, preocupado em desenvolver ferramentas que utilizem novas tecnologias para apoio ao processo de ensino-aprendizagem. Ele lembra que seu orientador na tese de doutorado identificou-se com a idéia, por causa das demandas nas disciplinas de eletrônica. “Em certas ocasiões, o professor Chagas Ferreira sentia necessidade de disponibilizar o laboratório por mais tempo aos alunos, o que nem sempre é possível por questões estruturais. Discutimos a possibilidade de oferecer aos estudantes os experimentos de forma remota, via Internet, e começamos a elaborar esta ferramenta”, recorda.
Segundo Marco Chella, o sistema foi idealizado para o controle de dispositivos e coleta de dados com base em laboratórios de eletrônica, mas ele pode ser aplicado em diversas áreas que utilizem os mesmos procedimentos. “A ferramenta poderá ser bastante útil nas pesquisas em que a cooperação entre grupos de pesquisadores é cada vez mais pronunciada. Outra aplicação importante seria para o compartilhamento dos recursos de um equipamento caro mas de uso pouco intenso, entre grupos de pesquisa de instituições diferentes”, observa. Com base nos testes pilotos, o pesquisador afirma que o sistema é funcional e viável. Para Chella, os laboratórios remotos constituem uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia das instituições.