Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 22 de junho de 2015 a 28 de junho de 2015 – ANO 2015 – Nº 629Arquiteta propõe revitalização de espaços públicos esquecidos
Uma casinha abandonada na Rua Ferreira Penteado, na região central de Campinas, pode se transformar em um jardim de esculturas, com restaurante e galeria de arte. A Estação Cultura, além de eventos culturais, abrigaria um grande parque esportivo. Terrenos baldios, praças, casas, pontes, qualquer lugar “esquecido” que estivesse localizado no Centro, Vila Industrial, Jardim Chapadão, Botafogo/Bonfim ou Cambuí, poderia fazer parte de uma rede que se conecta, se expande ou diminui, conforme as decisões e usos que a população ajudar a escolher. As ideias que vão ao encontro das propostas de revitalização do centro, fazem parte do trabalho final de graduação da aluna Tainá Ceccato, do curso de Arquitetura da Unicamp.
Tainá fez o trabalho com a orientação da docente Silvia Mikami, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Durante a realização do projeto, ela acompanhou o início da revitalização da Avenida Francisco Glicério, e ainda a votação de um projeto de lei do executivo para que o poder público do município possa encampar imóveis abandonados e propor novos usos. Por meio de contatos com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), a aluna tem apresentado as propostas à Prefeitura de Campinas. “A região central da cidade ainda é muito importante para os moradores, porém é um lugar de passagem, onde as pessoas não permanecem. A ideia da rede é mudar um pouco isso”.
A proposta da Rede de Espaços Esquecidos, como denominada por Tainá, é diferente de um corretor ou circuito cultural. “O corredor desenvolve uma única rua em detrimento da tridimensionalidade do espaço urbano. É uma única linha, uma reta ao longo da qual estão alguns equipamentos culturais. A rede pensa a cidade não como linhas – caso em que uma rua é priorizada sobre as demais – mas em planos que se sobrepõem e se conectam de diversas formas. Em relação ao circuito, a rede englobaria vários, estruturados sob temáticas parecidas, podendo ser artes visuais, dança, música, cinema, fotografia, esportes, mobilidade, gastronomia, convívio e literatura”. Na prática esses espaços receberiam intervenções e adaptações para que pudessem ser usados, desde bancos, locais para comprar comida e wi-fi público até equipamentos, alargamento de calçadas, arborização.
Como espaços esquecidos, o projeto considera, além dos imóveis abandonados, também aqueles que tiveram uma gestão inadequada ou falta de investimento – além dos que já desempenharam importantes papéis históricos. “São espaços de alguma forma negligenciados, corpos estranhos e imóveis na paisagem”, refere-se Tainá. A utilização dos espaços seria uma forma de “retomar o centro tradicional como ponto de confluência de cultura, de forma a otimizar a infraestrutura existente e recuperar a memória coletiva da cidade”.
O critério para a escolha de imóveis no projeto foi, segundo Tainá, a potencialidade arquitetônica e urbanística. Vários trechos da cidade a estudante percorreu a pé, com o objetivo de observar o potencial dos espaços de perto.
EM REDE
A proposta do projeto é que os espaços se conectem em um sistema único, descrito em um mapa. Dessa forma, diz Tainá, o morador da cidade que visita um ponto, a partir deste receberá informações para dar continuidade às atividades de seu interesse. “A rede seria divulgada em diversos níveis, em um site próprio, panfletos, totens etc”. De acordo com a aluna, a proposta aprofunda e une iniciativas isoladas já existentes como a utilização da Estação Cultura, por exemplo, a reabilitação de imóveis ou ativação de terrenos abandonados e a reforma da Avenida Francisco Glicério. “A união dessas iniciativas isoladas sob o conceito de rede é que permite o entendimento de locais públicos como um sistema único, de tal forma que os equipamentos culturais sejam capazes de intervir uns sobre os outros e, assim, fortaleçam suas potencialidades e a conectividade espacial e programática entre si”.
A ressalva feita pela autora do projeto é que tudo isso, entretanto, não funciona sem a educação. Tainá observa que a região central de Campinas está repleta de escolas tanto públicas como privadas. “Um forte incentivo ao uso dos espaços esquecidos deve ser oferecido aos alunos. O resultado desse processo refletirá sobre a própria Rede nos anos futuros, com usuários mais frequentes e uma sociedade mais engajada na manutenção destes e na criação de novos espaços”.