Edição nº 631

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 03 de agosto de 2015 a 09 de agosto de 2015 – ANO 2015 – Nº 631

Sistema híbrido pode ser alternativa contra câncer

Método desenvolvido por pesquisadores do IB e do IQ tem baixa toxicidade

O professor do IB Wagner José Fávaro, integrante do grupo que desenvolveu a tecnologia: “Podemos obter uma nova abordagem”Buscando garantir a baixa toxicidade e uma melhora na qualidade de vida de pacientes com câncer de próstata, pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) e do Instituto de Química (IQ) da Unicamp desenvolveram um sistema híbrido à base de hidrogel para tratamento da doença. O processo agrega hidrogéis de polímeros biocompatíveis e nanopartículas mesoporas de sílicas incorporadas com fármacos – liberados de forma controlada – para tratamento tumoral. A própria nanoestrutura já exerce efeitos no tumor, mas é potencializada pela utilização dos medicamentos.

“Quem dita o efeito antitumoral é a nanoestrutura, que interage com proteínas que estão no sangue e no abdômen, local escolhido para a aplicação. Essas proteínas chegam até a célula tumoral e isso, somado ao efeito do fármaco, faz com que obtenhamos um efeito muito significativo”, explica Wagner José Fávaro, professor do IB e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia. Em sua avaliação, o processo representa uma grande evolução como método de drug delivery para o sistema biológico.

A tecnologia, que está disponível para licenciamento, tem como principal diferencial tanto o efeito antitumoral como a baixa toxicidade, atenuando os efeitos colaterais.

O processo obteve resultados satisfatórios em testes in vivo, em ratos de laboratórios. Durante um mês, os animais receberam sistematicamente injeções que continham o sistema híbrido à base de hidrogel e apresentaram uma diminuição no tamanho dos tumores e também baixa toxicidade, principalmente no coração. “Não chegamos à cura do câncer, mas o tamanho dos tumores nestes animais foi reduzido, em todos os estágios. Em estágio inicial, conseguimos que o tumor fosse quase eliminado. Se este tratamento for prolongado ou associado a outros tipos de fármacos, podemos obter uma nova abordagem”, aponta Fávaro.

QUALIDADE DE VIDA

Uma das preocupações dos professores e pesquisadores envolvidos nos estudos foi a de garantir a qualidade de vida durante o processo de tratamento do câncer. “Curar o câncer é um grande desafio, mas é importantíssimo que a gente consiga melhorar ou prolongar o processo e garantir que esse paciente tenha qualidade de vida, fato que está diretamente associado à toxicidade dos fármacos”, explica Fávaro.

Segundo o professor, o tratamento é inovador por utilizar a nanotecnologia aliada aos fármacos no combate ao câncer de próstata. “Em oncologia, a nanotecnologia ainda é pouco aplicada e tem utilização muito recente. Em nenhum trabalho vimos a utilização da sílica em gel associada ao fármaco no tratamento do câncer de próstata. Em todos os tumores, há muito poucos trabalhos que utilizam essa versão da sílica em forma de gel, associada aos fármacos. Por isso, esse hidrogel criado por nós é único”, afirma. 

PARCERIA

A parceria entre os dois Institutos da Unicamp para o desenvolvimento da tecnologia teve início após a realização de pesquisas sobre o comportamento de tumores por pesquisadores do IB. Na ocasião, eles analisavam, com base no mapeamento molecular, qual o melhor momento para se dar início ao tratamento com fármacos, buscando uma maior eficiência. Após esses estudos, o Instituto procurou o Laboratório de Química Biológica, do IQ, que é coordenado pelo professor Nelson Eduardo Duran Caballero, também responsável pela patente.

“Pensamos no câncer de próstata e criamos um modelo deste câncer, na qual se induziu o desenvolvimento da doença. Depois, começamos a fazer alguns estudos sobre a adequação dos materiais que eles tinham, em nanotecnologia, dentro dos tumores e demos início a vários projetos, associando a nanotecnologia aos fármacos já existentes, buscando melhorá-los”, comenta Fávaro, que revela que os estudos estão evoluindo de modo a contemplar outros tipos de cânceres, como o da bexiga, por exemplo. “Precisamos ampliar os estudos e também analisar os resultados a longo prazo”, conclui.

Interessados no licenciamento da tecnologia devem entrar em contato com o Setor de Parcerias da Agência de Inovação Inova Unicamp, pelo endereço parcerias@inova.unicamp.br ou pelos telefones (19) 3521-2552 ou 3521-2607.