Edição nº 631

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 03 de agosto de 2015 a 09 de agosto de 2015 – ANO 2015 – Nº 631

Telescópio


Aurora 
gigante

Uma equipe internacional de pesquisadores descreve, na revista Nature, a detecção de sinais de uma aurora eletromagnética, como as auroras boreal e austral da Terra, em um corpo celeste localizado a 18 anos-luz, chamado LSR J1835, provavelmente uma anã marrom. Anãs marrons são uma classe de astros intermediária entre planetas gigantes gasosos, como Júpiter e Saturno, e estrelas propriamente ditas. 

Embora auroras sejam comuns em todos os astros dotados de campo magnético, as captadas na anã marrom são bem mais intensas do que as dos planetas do nosso Sistema Solar, liberando uma energia pelo menos 10 mil vezes maior que a das auroras de Júpiter. Os autores afirmam que as auroras da anã marrom injetam energia nas camadas inferiores de sua atmosfera, e que correntes criadas no campo magnético do astro podem ser importantes na produção de fenômenos meteorológicos.

Ilustração de aurora na atmosfera da anã marrom LSR J1835+3259

Origem
da vida

As hipóteses mais aceitas sobre a origem da vida na Terra pressupõem o surgimento de polímeros – moléculas formadas pelo encadeamento de unidades menores, os chamados monômeros – que desenvolveram a capacidade de fazer cópias de si mesmos, como o DNA e o RNA que existem nos seres vivos atuais. 

As condições sob as quais esse processo se deu ainda são desconhecidas, mas um modelo matemático, apresentado no periódico Journal of Chemical Physics, sugere um mecanismo para explicar o salto entre monômeros livres e polímeros replicantes. Os autores, ligados ao Laboratório Nacional de Brookhaven (EUA), propõem que moléculas longas podem ter servido como “gabaritos” químicos para facilitar a ligação entre moléculas menores, acelerando a formação de estruturas replicantes.

“A ligação assistida por gabarito (...) é um meio mais fiel de preservar a informação, já que as cadeias de polímero de uma geração são usadas para construir a seguinte”, diz nota divulgada pelo Instituto de Física dos Estados Unidos a respeito do estudo.

 

Sete vezes
cometa

A edição mais recente da revista Science traz um conjunto de sete artigos sobre o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, descrevendo descobertas feitas pela sonda Philae, o primeiro objeto artificial a pousar nesse tipo de corpo celeste. 

Ao descer no cometa, em novembro de 2014, Philae surpreendeu os cientistas ao quicar na superfície, lançando-se de volta ao espaço antes de pousar de vez em outro ponto do astro. Esse salto inesperado é tema de um dos artigos, que analisa os diferentes graus de rigidez dos dois pontos de descida. 

Outros trabalhos descrevem os resultados obtidos pela transmissão de ondas eletromagnéticas através do núcleo do cometa, a detecção de 16 tipos de moléculas orgânicas no astro, sendo quatro dos quais até então desconhecidos em cometas, a presença de polímeros criados por radiação na superfície do cometa; também analisam em detalhe as fotos feitas por sete câmeras e as leituras das variações de temperatura do astro. 

 

Kirigami
de grafeno

Pesquisadores da Universidade Cornell, dos Estados Unidos, adaptaram a arte japonesa do kirigami – que cria obras a partir da manipulação de folhas de papel por meio de dobraduras e recortes – para o grafeno, um material formado por camadas de carbono com apenas um átomo de espessura. Suas propriedades físicas, incluindo força, condutividade elétrica e térmica, fazem do grafeno um importante alvo de pesquisas. O prêmio Nobel de Física de 2010 foi concedido a autores de estudos sobre esse material.

A equipe de Cornell usou técnicas inspiradas em kirigami para cortar e dobrar folhas de grafeno, criando eletrodos, molas e dobradiças, e demonstrando que esses dispositivos podem operados remotamente, por meio de campos magnéticos. O trabalho é descrito na revista Nature.

 

Prevendo 
surtos de gripe

Um modelo de computador, alimentado com 16 anos de dados ambulatoriais e de laboratórios de exames clínicos, foi capaz de “pós-prever” os momentos de pico e a intensidade máxima de 44 epidemias de gripe que atingiram Hong Kong no período, obtendo uma taxa de sucesso de 93% a três semanas de antecedência de cada evento. O artigo que descreve o modelo e sua criação aparece no periódico PLOS Computational Biology, e é de autoria de pesquisadores da Universidade de Columbia e da Universidade de Hong Kong.

“Essas previsões fornecem informação que pode ser valiosa para o público e para as autoridades”, disse, por meio de nota, o principal investigador, Jeffrey Shaman, de Columbia. “Indivíduos podem optar por tomar a vacina contra a gripe, e as autoridades podem antecipar as necessidades de doses de vacina e outros recursos”.

 

Campo 
magnético no Sul

Um ritual de limpeza praticado por agricultores da África do Sul, entre 1000 e 400 anos atrás, está ajudando cientistas a entender as variações do campo magnético terrestre no hemisfério sul, aponta artigo publicado no periódico Nature Communications.  O rito, que consistia em queimar cabanas e armazéns de grãos, aquecia as rochas do piso, que então se alinhavam com o campo magnético dominante na época.

Os autores do estudo, baseados nos Estados Unidos e na África do Sul, afirmam que esse registro das rochas mostra uma mudança relativamente rápida na direção do campo por volta do ano 1300, e os autores acreditam que essa descoberta pode ter implicações para a compreensão de mudanças recentes registradas no campo magnético do planeta.

“O decaimento dramático da intensidade do campo geomagnético dipolo nos últimos 160 anos coincide com mudanças na morfologia do campo no hemisfério sul, e tem motivado especulações sobre uma reversão iminente”, escrevem os autores. “A compreensão dessas mudanças, no entanto, tem sido limitada pela falta de observações de longo prazo no hemisfério sul”, uma lacuna que o registro sul-africano pode ajudar a preencher.

 

Esforço coletivo 
em bioquímica

Muito da pesquisa básica em biomedicina é feita com o uso de “sondas” químicas, moléculas projetadas para interagir com proteínas específicas e, assim, permitir que os cientistas deduzam qual a função dessas proteínas no corpo humano, e se seria útil encontrar uma droga capaz de afetá-las. 

De acordo com um grupo internacional de pesquisadores, no entanto, a literatura da área vem sendo “contaminada” por inúmeras sondas defeituosas, que ou não são específicas o suficiente para os alvos em vista, ou que apresentam outras interações indesejáveis.

Para contornar isso, esses pesquisadores decidiram estabelecer um consórcio, financiado pelo Wellcome Trust, a fim de documentar e orientar o uso de sondas. A iniciativa, chamada  Chemical Probes Portal (https://www.chemicalprobes.org/),  consiste num website colaborativo onde cientistas podem publicar notas sobre o uso de sondas e seus efeitos, além de receber orientações sobre tipos de sonda, seus usos e os controles adequados.

 

Curso superior, 
aprendizado contínuo?

Ter cursado graduação numa universidade não estimula as pessoas a manter uma vida intelectual mais ativa do que a da população em geral, sugere pesquisa realizada pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos.

O levantamento, que apresentou a 170 mil americanos adultos a questão “Você aprendeu algo novo ou interessante hoje?” não encontrou diferença significativa entre as taxas de resposta positiva dadas por graduados do ensino superior e pessoas com menor nível educacional: foram 66% dos portadores de diploma de bacharelado que responderam “sim” à pergunta, ante 65% dos formados em cursos técnicos ou com curso superior incompleto e 63% dos formados apenas no ensino médio regular. 

O impacto da educação formal no nível de curiosidade e atividade intelectual, de acordo com o Gallup, só aparece a partir da pós-graduação. Foram 74% dos pós-graduados que disseram ter aprendido coisas novas e interessantes no dia em que responderam à pesquisa, dez pontos porcentuais acima da população em geral. 

Outra sondagem do Gallup mostrou que o consumo de bebidas alcoólicas entre os americanos adultos com nível universitário é maior (apenas 20% se declaram abstêmios) do que entre os adultos em geral (36%). Ambos os levantamentos foram divulgados no início da semana passada.

 

Aventura 
viking

Os vikings realizavam saques e ataques na costa britânica, durante a Idade Média, não apenas em busca de riqueza, mas também de aventura, exotismo e status social, argumenta o arqueólogo Steve Ashby, da Universidade de York, em artigo publicado no periódico Archaeological Dialogues. Para os vikings, “o ato de conquistar o tesouro era tão importante quanto o tesouro em si”, afirma.

“Nas hierarquias flexíveis da Era Viking, quem se aproveitava das oportunidades para ampliar seu capital social tinha ganhos significativos”, escreve o pesquisador. “O apelo dos saques era, portanto, maior que o butim; era conquistar e preservar poder, por meio do encanto da viagem, e da realização de feitos grandiosos”.