Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 07 de setembro de 2015 a 13 de setembro de 2015 – ANO 2015 – Nº 636Telescópio
Há 3 trilhões de
árvores no mundo
O primeiro censo global de florestas indica que existem 3 trilhões de árvores no mundo, cerca de 400 árvores para cada ser humano vivo, de acordo com artigo publicado na revista Nature. Desse total, 1,4 trilhão encontram-se em zonas tropicais e subtropicais, 740 bilhões na zona boreal e 610 bilhões em áreas temperadas. A estimativa anterior era de 400 bilhões de árvores no mundo, mas foi posta em xeque quando se estimou que, apenas na Amazônia, havia 390 bilhões delas.
O número pode parecer grande, mas os autores do levantamento, baseado em uma série de mais de 400 mil medições de densidades de florestas, estimam que mais de 15 milhões de árvores são cortadas a cada ano, e que a população total de árvores do planeta caiu em 46% desde o início da civilização. O artigo na Nature é assinado por uma grande equipe internacional de cientistas, incluindo americanos, finlandeses, chilenos, britânicos, russos, chineses e brasileiros.
À prova
de TNT
Artigo publicado na revista Science identifica uma mutação da planta Arabidopsis thaliana, um modelo comum em estudos genéticos em botânica, que permite que o vegetal decomponha o 2,4,6-trinitrotolueno, o explosivo TNT. O TNT é um “contaminante ambiental altamente tóxico e persistente”, escrevem os autores, da Universidade de York, no Reino Unido. O trabalho aponta que uma enzina específica da planta faz com que o TNT absorvido do solo se torne tóxico para a Arabidopsis. Variedades mutantes, deficientes nessa enzima, têm maior tolerância ao contaminante.
Ciência
no Irã
A edição mais recente da Science traz uma seção especial sobre o estado da ciência no Irã, país que sofre, há décadas, com sanções econômicas e isolamento internacional. Com a perspectiva de redução desse isolamento, a partir no novo acordo nuclear com os Estados Unidos, o mundo em breve poderá tomar contato com essa “ciência feita no escuro”, como define nota da revista.
A seção especial trata das estratégias usadas pelos pesquisadores iranianos para seguir trabalhando nos anos de ostracismo; conta a história do Observatório Nacional Iraniano, projeto de um grande telescópio, iniciado nos anos 80, inviabilizado por guerras e dificuldades econômicas, mas que deve finalmente ser construído ainda nesta década; e fala da crise ambiental causada pelo ressecamento do Lago Urmia, salgado, cujo desaparecimento vem expondo ao ar sais que, levados pelo vento, acabam tendo efeito tóxico sobre plantações e seres humanos.
Técnica para lidar
com lixo espacial
Pesquisadores da Universidade de La Rioja, na Espanha, apresentam, no periódico Advances in Space Research, um cálculo para otimizar o descarte, ao final da vida útil, dos satélites de órbitas altamente elípticas, ou HEO, como são chamadas na sigla em inglês. Esses satélites se destacam por ter trajetórias onde a razão entre a maior e menor distância atingida em relação à Terra pode chegar a dez vezes, e por terem órbitas bem inclinadas em relação ao equador.
O movimento desses satélites é fortemente influenciado pela gravidade da Lua e do Sol e, à medida que vão saindo do controle dos operadores na Terra, tornam-se um perigo para os satélites que usam as vias de “tráfego intenso” da órbita terrestre baixa (LEO) e órbita geoestacionária (GEO). Também há o aumento do risco de uma reentrada descontrolada na atmosfera.
Uma forma de descartar satélites em HEO antes que causem danos é reservando parte do combustível para arremessar o satélite em direção à Terra de modo controlado, ao final de sua vida útil. Essa reserva, no entanto, acaba consumindo recursos que poderiam ser usados para prolongar a missão do satélite. Os pesquisadores espanhóis apresentam, em seu artigo, cálculos que permitem minimizar a reserva necessária. O trabalho aproveita os efeitos gravitacionais a que o satélite em HEO é submetido, somando-os à energia do propelente.
Os resultados serão testados na eliminação do observatório espacial Integral, da Agência Espacial Europeia (ESA), com reentrada prevista para 2029.
Aumento de CO2 afeta
bactérias do oceano
As cianobactérias marítimas, que fertilizam os oceanos da Terra ao fixar o nitrogênio atmosférico numa forma que outros organismos marinhos são capazes de utilizar, sofrem mudanças irreversíveis quando forçadas a se adaptar a um ambiente com alta concentração de dióxido de carbono, diz artigo publicado no periódico Nature Communications.
O trabalho, de autoria de pesquisadores vinculados a instituições dos Estados Unidos, acompanhou o crescimento de 850 gerações da cianobactéria Trichodesmium, sob as concentrações de CO2 previstas para o fim deste século. Os pesquisadores detectaram uma elevação quase imediata da taxa de crescimento dos organismos e de fixação de nitrogênio. Além disso, o tempo necessário para a fixação atingir seu nível máximo, após o início da incidência de luz solar, dobrou, chegando a até nove horas. Essas modificações persistiram mesmo depois de a cultura ser transferida para um ambiente com níveis atuais de CO2.
Sistema imunológico
no espaço
Astronautas enviados à Estação Espacial Internacional (ISS) sofrem alterações em seu sistema imunológico que persistem durante toda a duração da permanência no ambiente de microgravidade, informa artigo publicado no periódico npj Microgravity, do grupo Nature.
Os autores, dos Estados Unidos, analisaram amostras de sangue de 23 astronautas, coletadas antes, durante e depois de missões espaciais de seis meses de duração. As amostras coletadas durante as missões foram extraídas pelos próprios astronautas, pouco antes do retorno de um ônibus espacial ou uma cápsula Soyuz à Terra, e analisadas até 48 horas depois.
As principais alterações detectadas tratam da redução de atividade das células-T. Os autores dizem que não está claro se a mudança é causada pela microgravidade ou por outras condições vinculadas à vida na ISS, como o confinamento e o estresse constante.
Perigo para
os pássaros
O lixo plástico que chega aos oceanos pode representar ameaça para as aves marinhas, diz artigo publicado no periódico PNAS, de autoria de pesquisadores da Austrália e do Reino Unido. “A poluição por plásticos dos oceanos é uma preocupação global”, diz o artigo, “com concentrações chegando a 580 mil fragmentos por quilômetro quadrado, e a produção crescendo exponencialmente”.
Os autores fizeram uma análise de risco utilizando estimativas da distribuição espacial do lixo e as áreas habitadas por 186 diferentes espécies de aves marinhas, para modelar a exposição dos animais aos dejetos. “Embora a evidência de impactos da poluição plástica no nível de populações ainda esteja emergindo, nossos resultados sugerem que essa ameaça é ampla, universal e aumenta rapidamente”, afirmam.
Nível
do mar
O nível dos oceanos subiu uma média de 8 centímetros desde 1992, com a elevação chegando a 23 centímetros em alguns locais, de acordo com uma compilação de dados de satélite divulgada pela Nasa no fim de agosto.
“Dado o que sabemos sobre como o oceano se expande à medida que aquece, e como as capas de gelo e geleiras estão lançando água nos mares, é quase certo que estamos destinados a ver um aumento do nível do mar de pelo menos um metro”, disse, em nota, o líder da Equipe de Mudança do Nível do Mar da Nasa, Steve Nerem, da Universidade do Colorado. “Mas não sabemos se isso acontecerá em cem anos, ou mais”.
Animal
sem órgãos
O Trichoplax adhaerens, animal em forma de disco com cerca de um milímetro de diâmetro, totalmente desprovido de órgãos internos ou mesmo neurônios, digere seu alimento fora do corpo, diz artigo publicado no periódico PLoS ONE. Os autores, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos EUA, observaram que o Trichoplax, mesmo sem um sistema nervoso – o corpo do animal contém apenas seis diferentes tipos de célula –, é capaz de coordenar a atividade de suas células para consumir alimento.
“Quando o Trichoplax desliza sobre uma área de algas, seus cílios param de bater e ele para de se mover. Um subconjunto de um dos tipos celulares (...) secreta grânulos cujo conteúdo dissolve rapidamente as algas”, diz o artigo. “Essa secreção é dirigida com precisão, já que apenas células próximas das algas liberam os grânulos”. Os autores constatam que “o controle global do deslizamento é coordenado com o controle local preciso da secreção (...) sugerindo a presença de mecanismos de comunicação e integração celular”.
Revelado fundador
do ‘PubPeer’
O fundador do site PubPeer (https://pubpeer.com/), que permite que pesquisadores façam críticas, públicas e anônimas, ao trabalho publicado dos colegas finalmente revelou sua identidade, depois de anos de segredo: é Brandon Stell, neurocientista americano, atualmente pesquisador da Universidade de Paris Descartes.
Fundado há três anos, o PubPeer já enfrentou polêmicas, chegando a ser processado por um investigador que disse ter perdido uma oportunidade de trabalho por conta das críticas a um artigo seu publicadas no site. De acordo com nota divulgada no serviço Science Insider, da revista Science, críticas originadas no PubPeer já levaram a “numerosas correções e retratações”. Há, atualmente, mais de 35 mil comentários no site.
Ao revelar sua identidade, Stell também anunciou a criação de uma fundação sem fins lucrativos para manter o website e, também, para reunir fundos para eventuais despesas jurídicas que venham a ser necessárias para proteger o anonimato dos comentaristas.