Edição nº 650

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 21 de março de 2016 a 03 de abril de 2016 – ANO 2016 – Nº 650

O supletivo que nasceu na Unicamp


Estudo de mestrado apresentado à Faculdade de Educação (FE) sobre a educação supletiva em Campinas mostrou que o Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos “Paulo Décourt” (CEEJA), cujo embrião foi a Unicamp, chegou à estadualização graças a uma grande demanda de alunos desde o princípio e que essa demanda ainda prossegue.

Segundo a autora, a historiadora Viviane Brizante Mei, em 1987, havia 1.194 interessados nas 300 vagas do curso de primeiro grau, oferecidas em 1988. O projeto foi uma reivindicação dos funcionários para ampliarem sua formação. “O tempo passou e a escola atende agora 1.043 alunos do ensino médio e 393 alunos dos anos finais do ensino fundamental. Mas muitos outros frequentaram a instituição e cursaram o ensino superior.”

A pesquisadora contou que inicialmente o CEEJA teve o nome de Núcleo Avançado de Centro Estadual de Educação Supletiva (Naces)/Unicamp. A escola começou no barracão do Instituto de Física (IFGW) e depois foi transferida para o Ciclo Básico. Era tocada com o apoio da professora Eliane Aparecida Torres, funcionária da rede estadual paulista de ensino e funcionária da Unicamp. 

Além de o projeto ser uma reivindicação dos funcionários, expôs a mestranda, também partiu de alunos, muitos dos quais participavam de aulas com professores e estudantes da Unicamp. Foi assim que surgiu o movimento para que o projeto fosse lançado, o que veio a acontecer em 1988 mediante cooperação da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e da Secretaria de Estado da Educação.

Para chegar à estadualização, o caminho foi mais longo e com intensa divulgação em periódicos das empresas parceiras e da Universidade, em veículos como o boletim Unicamp Notícias, da sua Assessoria de Imprensa.

Com a Secretaria de Estado da Educação envolvida nesse projeto, foram criados ofícios e decretos regulamentando sua criação, seu quadro de professores, normas de funcionamento e currículo. “Chamei esses documentos de políticas de estadualização”, informou a pesquisadora.

Nomeclatura

O nome Naces permaneceu até 1989 e mudou para CEES (Centro Estadual de Educação Supletiva). Em 2009, foi criado um decreto baseado na LDB (Lei das Diretrizes e Bases) que alterou a denominação de Educação Supletiva para Educação de Jovens e Adultos (EJA), passando a CEEJA “Paulo Décourt”, em homenagem ao botânico, ex-professor do Colégio Culto à Ciência. O CEEJA ficou na Unicamp até 2010, no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara), no bairro Botafogo, até obter sede própria no Jardim Santana.

“A escolha do nome Paulo Décourt gerou discussão com a equipe gestora. Os professores discordavam porque na verdade a escola tinha surgido na Unicamp. Mas a essa altura, a instituição já pertencia à Secretaria do Estado da Educação, e a denominação foi ratificada por decreto”, esclareceu Viviane.

Para conhecer a história do CEEJA, a pesquisadora analisou documentos da Preac, Secretaria de Estado da Educação e informativos de época. Depois analisou políticas de criação e organização institucional da educação supletiva na Unicamp. Por último, discutiu as mudanças externas e práticas internas da escola a partir dos registros de atas. A dissertação foi orientada pelo professor André Luiz Paulilo.

Funcionamento

O curso supletivo na Unicamp era gratuito e por demanda. Quando regulamentado, a presença mínima era de uma vez por mês. Os alunos iam à escola, recebiam o material didático, iam para casa, estudavam sozinhos, retornavam à escola, tiravam dúvidas com os professores (funcionários com formação acadêmica) e passavam por avaliações. “A seleção dos alunos era feita por meio de alfabetização em língua portuguesa e matemática. Só após essa alfabetização, os postulantes ingressavam no curso supletivo”, comentou Viviane.

Quando o supletivo ficava no Ciclo Básico, os alunos dividiam-se por salas de atendimento de acordo com a disciplina que estavam cursando naquele módulo, para eliminação de matérias. O atendimento normalmente ocorria no contraturno do trabalho, conforme disponibilidade dos funcionários.

Frequentavam o curso supletivo maiores de 16 anos, que operava por meio de parceria com empresas como o parque industrial de Jaguariúna. Ao ampliar sua oferta, ele também passou a atender a comunidade externa. Atualmente, há somente duas escolas de CEEJAS em Campinas: a Paulo Décourt e a Jeanette Andrade G. Aguila Martins, na Vila Costa e Silva.

A educação supletiva tem papel fundamental na formação de pessoas que não puderam fazer o curso regular, opina Viviane. Elas voltam à escola mais tarde com outras perspectivas e experiências. “Este é o primeiro passo. Depois alçam voos em cursos técnicos ou na universidade”, comemorou ela, hoje incorporada ao corpo docente do CEEJA.

“Este estudo possui um componente social e registra uma parte da memória da escola supletiva em Campinas. É curioso que ela iniciou num campus universitário e pela vontade dos funcionários. Mas já existia antes mesmo de ser oficializada. É portanto um projeto muito especial da Unicamp”, concluiu ela.

Publicação 

Dissertação: “Universidade e educação supletiva em Campinas”
Autora: Viviane Brizante Mei
Orientador: André Luiz Paulilo
Unidade: Faculdade de Educação (FE)

Comentários

Comentário: 

Conclui o Ensino Médio no CEEJA “Paulo Décourt” em 2002, quando funcionava no Ciclo Básico. O interessante é que estudava de acordo com o meu tempo livre. As vezes estudava no CEEJA cinco vezes na semana. O mais interessante é que todas as disciplinas tinham seu laboratório. Enfatizo ser esta uma grande oportunidade para quem quer terminar os estudos, pois os horários são flexíveis. Agradeço pela oportunidade.

luisfeitoza@yahoo.com.br