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É preciso arte para administrar
A DGA faz uso de recursos inesperados para mostrar
a face humana de um trabalho tido como burocrático

Se for preciso, cada um se fantasia de bicho, assiste a um monólogo da atriz Clarice Abujamra ou ainda se encanta com o navegador Amir Klink contando sobre a importância do trabalho em equipe para a sobrevivência. Vera Lúcia Randi Ferraz, coordenadora da Diretoria Geral de Administração (DGA) da Unicamp, lança mão dos recursos mais inesperados para estimular seus funcionários com seminários e workshops e deixar evidente que o trabalho administrativo tem sua face humana. Ela quer dizer adeus ao folclore dos carimbos, da burocracia que faz subir e descer cópias de documentos por falta de especificações.

“Queremos quebrar o estigma pejorativo de que, se é administração pública, é lenta e ineficiente”. Algumas á-reas da DGA já podem comemorar este feito. Segundo a coordenadora, a Unicamp foi o primeiro órgão público a divulgar suas licitações pela Internet e executa com pontualidade 100% dos seus pagamentos. Com a pontualidade nos pagamentos, viabilizada a partir de 1989 – quando as universidades públicas paulistas ganharam autonomia financeira do Estado –, houve um aumento no número de participantes em licitações e conseqüente rebaixamento dos preços. A eficácia nos procedimentos de importação, com a constante qualificação do pessoal, levou à redução sensível nos custos e tempo de aquisição e chegada do produto. No ano passado, a área de importação da DGA adquiriu aproximadamente US$ 6 milhões em bens destinados à pesquisa, posicionando-se como terceiro órgão em volume de importações amparadas pela lei 8010/90, em todo o país.
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Divisor de águas

Para melhor desempenhar o papel de articulador de ações, era fundamental na DGA desvincular o aspecto político do técnico. “A gestão de Hermano Tavares foi o divisor de águas, que consolidou esta posição”, diz Vera Randi, mantida na coordenação, assim como todo o seu quadro funcional, apesar de o reitor ter sido eleito como candidato da oposição.

Vera Randi atua na Universidade desde 1967, quando ingressou como funcionária de carreira na área administrativa. “Sou anterior à própria estrutura da DGA e trabalhei com todas as reitorias”. Por mais de duas décadas, esta foi uma área política, pois seu coordenador era totalmente ligado ao reitor, e sua atuação, centralizada. Este perfil, em que área política e administrativa se confundiam, e em que a DGA ainda não era um órgão essencialmente técnico, durou até 1986.
Segundo Vera, foi no mandato de Paulo Renato que se iniciou, de fato, uma descentralização dos serviços administrativos e uma gestão igualmente descentralizada de recursos. “A DGA começou, então, a cumprir o seu papel técnico, cuja finalidade é organizar, dirigir, executar e fazer executar o serviço administrativo da Universidade”. Para a diretora, o foco então se acertou e passou a ser voltado para as funções administrativas de conciliar as normas de todas as instâncias estaduais e federais, que regem a Universidade, com as decisões da Reitoria.

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Plano estratégico

Pela primeira vez a Universidade possui um Plano Estratégico Institucional (PEI), iniciado no final do ano 2000 e cuja execução depende da administração para garantir esse suporte. A implantação de cursos à noite, por exemplo, exigiu uma série de providências que foram tomadas muito antes desses cursos entrarem em funcionamento. Da mesma forma, a liberação de verbas para prédios novos significa um impacto em outra série de medidas para concretizar sua construção, todas tomadas na alçada dos órgãos administrativos.

“É a DGA que licita para contratar mão-de-obra e materiais e precisa estar preparada para atender a demanda. Depois da fase de construção, vem o mobiliário, o fluxo de caixa para as despesas e todas as responsabilidades para que possa funcionar, mas são tarefas invisíveis; elas só aparecem quando alguma coisa errada acontece”.

Vera Randi está convencida, após quase 35 anos trabalhando na administração da Unicamp, que a característica desta área é aparecer somente na hora da crítica. Mas, como atividade-meio, é assim mesmo que tem de ser: “Invisível na maior parte do tempo”.

O papel da DGA é o de dar suporte administrativo às áreas de contabilidade, materiais, transportes, marcenaria, gráfica, patrimônio e finanças em geral. Apesar de administração pública, comprovou que é possível ter eficiência e agilidade: “O objetivo é que esta área administrativa se transforme em referência, assim como a área científica e acadêmica da Unicamp já é”, conclui Vera.

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Pioneira na prevenção

Para que as ações administrativas fiquem cada vez mais eficientes, a Unicamp acaba de criar a primeira coordenação de auditoria interna, assumida pelo até então coordenador associado da DGA, Adauto Bezerra Delgado Filho. “Trata-se de uma atividade moderna em administração, com um forte caráter de prevenção e orientação, uma ponte com as diversas unidades da Unicamp”. O coordenador acrescenta que está havendo um concurso interno para formar a primeira equipe de auditores, entre funcionários das áreas administrativas de toda a Universidade.

A coordenadora da DGA contabiliza que, em 1989, eram 652 funcionários, sendo 205 remunerados por funções gerenciais com as devidas gratificações, mas que esta responsabilidade só existia no papel; hoje, após a modernização dos serviços, o quadro lotado na diretoria é de 273, com 31 cargos gerenciais “de fato”. Para Vera, os fatores que mais contribuíram para esta reversão foram a informatização, a descentralização e, de maneira decisiva, o esforço concentrado na formação técnica, no acompanhamento da saúde e no desenvolvimento pessoal e gerencial do quadro de profissionais da DGA.

“O pessoal técnico de administração precisa enxergar o reflexo do seu trabalho nos bons resultados finais da Universidade e conquistar a credibilidade dos acadêmicos ao facilitar a atividade-fim. Para provocar esta verdadeira revolução na burocracia, não é preciso dinheiro; as coisas acontecem quando há decisão política, muita vontade de trabalhar e nenhum medo de se expor ou até de errar em algumas iniciativas”.

 

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Selo de qualidade

Para Vera Randi, a organização e rigor no sistema de cadastro de fornecedores permitiram que hoje o Certificado de Registro Cadastral, emitido pela Área de Suprimentos da DGA, seja aceito no Brasil inteiro. “Ganhou credibilidade perante o conjunto de órgãos públicos, o que o torna aceito como documento sem restrições”. A coordenadora acrescenta que as taxas conseguidas para remunerar as aplicações financeiras da Universidade sempre estão na média superior do mercado, mesmo diante da posição de cliente compulsória de algumas instituições oficiais.

A política de boas negociações no mercado e eficiência nos serviços, segundo ela, se reflete ainda na área de produção própria da gráfica e da marcenaria. “Livros e móveis produzidos internamente apresentam qualidade compatível à do mercado, a custos entre 30% e 50% mais baixos”.
Com a centralização de toda execução financeira e contábil na DGA, os procedimentos dentro dos padrões são obedecidos, o que tem permitido a aprovação regular das contas da Universidade junto ao Tribunal de Contas.

 

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