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A
nova trilha
Os re-educandos, detentos que trabalham no campus,
vencem resistência inicial e se inserem à paisagem
verde
Os
trabalhadores de uniformes verde-bandeira já fazem parte
do cenário do campus de Barão Geraldo. Em grupos,
às vezes acompanhados por um funcionário, cuidam
da manutenção dos gramados e serviços gerais,
garantindo a arrumação e limpeza que o espaço
universitário possui hoje. O projeto dos Re-Educandos
nasceu há quatro anos, tendo como perspectiva a inserção
social e a ocupação produtiva de presidiários
que cumprem pena em sua última fase de detenção.
Pedro
Luporini dos Santos, engenheiro do Escritório Técnico
de Construções (Estec) que acompanha o programa,
conta que inicialmente os re-educandos trabalhavam exclusivamente
em atividades braçais, como manutenção
do Parque Ecológico e outras áreas. A incorporação
desta mão-de-obra na estrutura de serviços do
campus enfrentou uma resistência muito grande no começo,
conta. Ele lembra que houve manifestações contrárias
de diversas ordens, de colegas de trabalho e da comunidade universitária
em geral, temerosos de eventuais riscos à segurança.
Apesar
de alguns problemas iniciais de adaptação à
nova situação, nenhuma ocorrência grave
foi registrada em todo o período que o programa está
em operação no campus. O engenheiro observa que,
por obedecer a normas de convivência extremamente rígidas
dentro do presídio, o re-educando geralmente tem um comportamento
exemplar e muito cordial.
O
perfil do re-educando incorporado ao trabalho do campus é
heterogêneo, mas bem definido a partir da unidade penitenciária
de origem, no caso o Presídio Ataliba Nogueira. Entre
os critérios exigidos se incluem uma avaliação
psicológica, bom comportamento e estar no final da pena.
Embora deslocados com mais freqüência para funções
braçais, muitos apresentavam qualificações
diversas, com experiência e formação escolar
diferenciada.
A
primeira turma a chegar na Unicamp era composta de 40 re-educandos.
Este número passou a ser bastante variável, chegando
hoje à média de 100. Não existe um
período de permanência no programa pré-fixado
para cada um deles, podendo variar de algumas semanas a até
mais de um ano, explica Santos. Uma menor ou maior temporada
vai depender do ajuste ao tipo de trabalho, do comportamento
e do final de sua pena. Quando é detectado qualquer problema,
o re-educando é imediatamente substituído, segundo
garante o engenheiro.
Todas as manhãs, às 7h30, dois ônibus fretados
chegam com os trabalhadores, que estão sempre acompanhados
de agentes penitenciários. Os horários são
rigorosos almoço às 10h45 e volta ao presídio
às 16h e neste período é feita a
chamada sistemática de comparecimento.
Desempenho
Esta rotina não impede que o trabalho de um re-educando
seja desempenhado no mesmo ritmo de outro funcionário
da Universidade do mesmo ramo de atividade. O engenheiro acrescenta
que, desde o início do programa, foram incorporadas outras
tarefas, além da manutenção: atendimento
ao público, catalogação e arquivo de algumas
bibliotecas do campus; serviços administrativos em unidades
que os requisitam; manutenção da telefonia ou
do setor hidráulico; prevenção contra incêndios,
apoiando o trabalho dos bombeiros; e em serviços gerais
de limpeza no restaurante universitário.
Dentro da
proposta de reavaliação do programa, um dos itens
é aperfeiçoar a qualificação desses
trabalhadores para que, ao final do estágio dentro do
campus, possam receber um certificado pelo bom serviço
prestado. Este documento servirá, na verdade, como
carta de referência para sua reintegração
social após o cumprimento da pena, espera Luporini.
Reintegração
O balanço desta experiência tem sido extremamente
positivo, seja para a Unicamp, que já discute o aprimoramento
do programa, seja para a sociedade, pois o índice de
reincidência é muito inferior entre os participantes
do programa em relação aos detentos que cumprem
pena em regime fechado. O debate na Universidade, hoje, se dá
em torno do tipo de trabalho que pode ser incorporado ao programa,
se este período deve incluir a tarefa de treinamento
e formação, qual o apoio social e psicológico
possível de oferecer e se a Unicamp deve ou não
ter maior participação em todo o processo de seleção
e permanência.
O bom desempenho
de muitos dos re-educandos vem proporcionando oportunidades
concretas de reintegração ao mercado. Um
deles, que a gente tem notícia, trabalhou no campus na
área de manutenção de máquinas do
Parque Ecológico e foi contratado por uma empresa que
faz esse tipo serviço, após o término de
sua pena. Luporini acrescenta que cada re-educando recebe
um pouco mais que o salário mínimo pelo serviço,
mas não integralmente: ele decide o que fazer com 75%
do pagamento (para a família, uma poupança ou
despesas pessoais); 25% são rateados entre outros detentos
que prestam serviços de apoio na unidade prisional.
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