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ÁLVARO KASSAB
JOÃO MAURÍCIO DA ROSA

atrícia Peter Sousa, estudante gaúcha, carrega uma mala enorme na entrada do Ginásio de Esportes, totalmente lotado. A atmosfera não é de férias: as cantinas fervilham, as praças, ruas, alamedas e gramados estão tomados por sotaques de todas as partes do país. Barracas e ônibus com placas de distantes proliferam. O retrato é de um festival, mas Patrícia está arrastando a mala para ampliar sua bagagem profissional. Veio à Unicamp para saber mais sobre educação de deficientes, sua matéria favorita. Com ela, cerca de 10 mil pessoas desfilaram pela universidade durante o 13º Cole (Congresso de Leitura do Brasil), realizado entre 17 e 20 de julho último. Dois circos foram armados no estacionamento do Ginásio que abrigou estandes nos quais as principais editoras do mercado exibiram os últimos lançamentos, dezenas deles autografados pelos próprios autores.

Os temas abordados em quase uma centena de seminários, mesas-redondas e painéis, e o número recorde de trabalhos inscritos (930), mostraram porque o evento é considerado o mais importante do gênero no país. Mas, de todos os debates, aqueles relacionados ao papel da escola no atual cenário de globalização – e conseqüente exclusão –, foram objeto de maior interesse, conforme já antecipara Luiz Percival Leme Britto, presidente da Associação de Leitura do Brasil (ALB) e coordenador geral do encontro, na publicação que trazia a diversificada programação do Cole, ao destacar que o encontro “expressa uma concepção político-pedagógica em que fazer e pesquisar são ações complementares e que não devem estar dissociadas” e que “letramento só pode significar participação social se houver democracia social”. Opinião semelhante à emitida, na mesma publicação, por Valdir Heitor Barzotto, professor da Faculdade de Educação da USP e segundo secretário da ALB, para quem “todos os participantes do congresso têm algumas certezas sobre os males políticos que abalam o país e dificultam o acesso aos bens de cultura”.

Neste Caderno Temático, o Jornal da Unicamp ouve especialistas e representantes de povos historicamente excluídos. E apesar de todos os males que atingem o sistema educacional do país, o conjunto de entrevistados tem duas certezas. A exclusão está fazendo emergir uma nova escola e o corpo docente, embora ferido, não foge da luta, segundo a resposta dada no evento. E, por incrível que pareça, a globalização, que enfraquece o Estado, fortalece as entidades civis, cada vez mais organizadas e dispostas a trilhar por uma proposta de ensino que resulte em igualdade e felicidade, nesta ordem, pois uma não pode existir sem a outra.

CADERNO TEMÁTICO - PÁGINAS

 

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