A escola forma homens  infelizes e inseguros Escritor 
afirma que livro é usado como muleta pedagógica  e não 
como instrumento de vôo e percepção
   artolomeu 
Campos Queiroz tem muita afinidade com os educadores. Trabalhou com arte na educação, 
passou pelo Instituto Pedagógico Nacional de Paris, até decidir 
se dedicar apenas à literatura. E, na condição de escritor, 
sai de Belo Horizonte, sua cidade natal, para percorrer escolas por todo o Brasil. 
Não gosta do que tem visto, apesar de reconhecer que a peregrinação 
é fruto de uma nova abertura, necessária diante dos equívocos 
perpetrados por uma instituição que optou em ser fim e não 
um espaço intermediário, onde o aluno sai com um certificado, mas 
desconhece a perspectiva de ser ouvido. Essa determinação, 
para mim, é muito autoritária. Sempre trabalho com os professores 
 e isso tem me aproximado deles  essa necessidade afetiva de levar 
o aluno a dizer quem ele é e para onde ele quer ir, revela Queiroz, 
que falou no 13º Cole na conferência Literatura e Participação 
Social.
  
O escritor acredita que a escola está produzindo um homem mais infeliz, 
inseguro, medroso, menos sensível e cada vez mais ocupado unicamente com 
o financeiro. Nesse sentido, acredita, a literatura é um caminho que abre 
portas por ser um instrumento de reflexão, artigo raro num universo no 
qual predomina a quantidade em detrimento da qualidade. O governo está 
interessado em número de alunos matriculados. Se estivesse preocupado com 
a qualidade do aluno, pagaria salários dignos, construiria prédios 
e priorizaria a formação de estudantes conscientes, critica 
Queiroz, para quem a escola não é um investimento de futuro, sobretudo 
por se preocupar mais com os índices do governo do que com o desejo do 
aluno. Queiroz 
classifica a educação no país como servil, por 
ficar à mercê da ideologia dominante e por atender apenas ao mercado 
consumidor. Se você não estuda, não tem emprego. E eu 
não quero só isso. Quero um empregador que reconheça minha 
capacidade criativa, minha sensibilidade. Para o escritor, o jovem de hoje 
é preparado para um mercado de trabalho provisório e, com as exceções 
de sempre, está inapto a assumir tarefas que exijam criatividade e jogo 
de cintura. Esse quadro, em sua opinião, favorece a inserção 
da literatura. A globalização não dá lugar para 
as configurações emocionais do homem. Isso me amedronta um pouco, 
admite, fazendo ressalvas quanto ao papel destinado ao livro nas salas de aula. As 
críticas feitas pelo escritor são muitas, a começar da insistência 
dos professores em utilizar o livro como muleta pedagógica e não 
como instrumento de vôo e de percepção. Essa opção, 
segundo ele, enfraquece o texto literário e afugenta leitores potenciais 
 crianças e jovens. A escola está sempre perguntando 
o que o autor quis dizer, qual o pedacinho que o aluno mais gostou, qual o personagem 
principal. Isso reduz a literatura, avalia. Queiroz entende que o aluno 
não se expressa como leitor, tendo sua capacidade de discernimento desprezada. Essa 
metodologia, para o escritor, revela-se mais trágica por excluir das salas 
de aula as discussões sobre a nova ordem mundial. O homem passa a 
ser uma máquina produtora, isso me assusta. Então, quando tento 
trabalhar a literatura é porque acredito que ela devolve ao sujeito sua 
própria humanidade. E a obra de Queiroz busca predispor o leitor 
a conviver com a dúvida, com a alternância e com a complexidade, 
longe da certeza que, para o autor, conduz ao fanatismo cego. Tento preparar 
o leitor para essa reflexão. Uma 
reflexão, revela, ancorada na fantasia e puxada pela memória afetiva, 
tendo a realidade como ponto de partida para um tratamento deliberadamente ficcional. 
Essa opção faz com que sua obra seja consumida por leitores de todas 
as faixas etárias, apesar de parte da crítica insistir em indexá-la. 
Queiroz rejeita os rótulos por acreditar que, em literatura, não 
se coloca o destinatário. Não acredito nesse negócio 
de escrever para criança, isso tolhe sua liberdade de expressão. 
Prefiro que ela leia o texto, procure e cresça pela diferença, e 
não pela igualdade da minha obra. Um texto amplo e aberto, lido por 
crianças e pela terceira idade, e adotado em cursos de mestrado e doutorado. 
Um texto que, como gosta Queiroz, conduza ao novo.     | 
  As 
falas dos moradores de rua são muito ricas e poéticas. Existem algumas 
características que são dessas falas, entre elas a  construção 
de um mundo mítico original. ---------------------------------------------------- Os 
chamados loucos de rua são diferentes do desempregado, do bebum, do homem 
de rua. Eles não vão para a rua por  questões econômicas, 
mas sim porque o barulho da rua os alivia do barulho interno.  ---------------------------------------------------- Cheguei 
à conclusão, em dois anos de convivência com os moradores 
de rua, de que a miséria leva à loucura. ---------------------------------------------------- Acho 
que a loucura, infelizmente, vai petrificando e cristalizando os discursos, mesmo 
do mais letrado. Ele tem mais repertório, mais argumento, mais vivacidade, 
mas tem alguma coisa que vai petrificando sua fala. É muito triste. Por 
outro lado, registramos falas de um repertório muito rico. Filmamos uma 
pintora que mora na rua e dizia o seguinte: Esses girassóis são 
meus, numa referência aos girassóis de Van Gogh. E os quadros 
revelam que ela tem um referência, que foi educada. Ela, que diz ter sido 
da vanguarda, vende cada obra a R$ 20, R$ 30, quer dizer, poderia alugar um quartinho, 
mas prefere morar na rua. A pintora afirma: Quando alguém é 
roubado, a culpa é de quem tem, não de quem rouba.  E ela 
escolheu não ter. Mantém algo  preservado nisso.
 
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