A patente de número 500 refere-se a um produto com alto benefício social. Os pesquisadores Mário Saad e Maria Helena Melo Lima, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), desenvolveram uma pomada cicatrizante para diabéticos. O novo medicamento foi criado a partir da insulina, o que barateou seu custo. O produto mostrou-se eficaz na aceleração do processo de cicatrização de ferimentos de portadores da doença (leia texto na página 3).
Além do depósito 500, a Unicamp também concretiza, pela primeira vez, o licenciamento de uma patente associada a uma marca registrada a empresa Contech Brasil vai fabricar e comercializar os produtos Fentox e Fentox TPH, reagentes químicos desenvolvidos pelo pesquisador Wilson Jardim, do Instituto de Química (IQ). Os produtos são destinados à remediação de áreas contaminadas por derivados de petróleo (veja na página 3).
Para o professor Roberto Lotufo, diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, além do depósito da patente 500 e do primeiro licenciamento de marca, a Universidade tem mais a comemorar. “O processo de proteção das criações foi muito aperfeiçoado em 2007. A taxa de licenciamentos, que havia caído em 2006, muito provavelmente devido à mudança de sistemática definida pela Lei de Inovação, retornou aos patamares de 10 licenciamentos anuais, o que é uma taxa comparável às das melhores universidades do mundo, fazendo jus à nova classificação da Unicamp dentro das 200 melhores instituições de ensino superior de acordo com o ranking do Higher Education Supplement, do The Times”.
Além do balanço do ano, Lotufo aponta os principais desafios para 2008. Em sua opinião, uma das prioridades é a criação de estratégias que aumentem a capacidade da Inova na busca de projetos de pesquisa colaborativa de grande envergadura. Está também em seus planos o estímulo à criação de empresas spin-off de tecnologias Unicamp.
Cultura de PI Mesmo alcançando a marca das 500 patentes depositadas no INPI, avalia Lotufo, a difusão da cultura de proteção do conhecimento científico ainda é insipiente tanto na Universidade como na indústria. Neste sentido, o trabalho da Agência de Inovação ganha relevância por pontuar a importância da propriedade intelectual (PI) não somente por seu viés comercial, no aspecto da invenção para atrair empresas interessadas em tecnologias para torná-las disponíveis à sociedade, mas também como uma eficaz ferramenta de pesquisa científica na Universidade.
“Temos sugerido aos orientadores que recomendem a seus alunos incluir uma busca na base de patentes para complementar a pesquisa bibliográfica do estado da arte nas teses e dissertações”, observa Roberto Lotufo. O diretor da Inova acredita que a difusão da PI na Unicamp contribui para que o tema seja mais bem-estudado, compreendido e praticado nas empresas, que segundo ele, à semelhança de outros países, é o local de seu uso principal.
Para o professor e pesquisador Marcelo Menossi, do Instituto de Biologia (IB), é fundamental que os alunos saiam da Universidade com subsídios suficientes para a difusão da cultura nas empresas. “A indústria precisa de pessoas que saibam inovar e fazer boa ciência e que, sobretudo, entendam as questões envolvidas com a propriedade intelectual”, aponta.
O docente defende a incorporação de uma disciplina na grade curricular para melhor capacitação dos alunos da Unicamp. Desta forma, a Universidade seria um dos veículos de difusão da cultura nas empresas. “Uma vez envolvido com o assunto, o estudante teria um diferencial”. Segundo Menossi, a quantidade de patentes depositada pela indústria brasileira ainda é muito pequena devido, justamente, à falta de mentalidade da proteção de propriedade intelectual, pouco mencionada no meio empresarial brasileiro.
Menossi cita como exemplo uma disciplina sobre biotecnologia molecular ministrada por ele no Instituto de Biologia. De forma genérica, o professor Marcelo Menossi aborda o assunto à exaustão. “Ofereço palestra da Inova, falo sobre banco de patentes e várias outras questões sobre PI. Não é só isso, mas procuro dar uma base aos estudantes e nos relatos, percebo que este é o caminho”, defende Menossi.
Não opinião do docente, o meio acadêmico já constatou que o tema é estratégico. “Estamos passando por transformações muito rápidas e a Unicamp está formando outros centros de inovação. Temos o know-how e em pouco tempo teremos um impacto positivo na indústria com os profissionais que estão saindo da Universidade", acredita.
Convênio com o INPI ajuda a difundir conceito
PATRÍCIA MARIUZZO
Especial para o JU
O presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Jorge Ávila, virá a Campinas no dia 17 de dezembro para a cerimônia de comemoração do depósito da patente 500 da Unicamp. O evento, que será realizado na Sala do Conselho Universitário (Consu), às 16h, marca o resultado de uma parceria de longa data que tem como intuito a difusão da cultura de propriedade intelectual dentro e fora do meio acadêmico.
Seguindo esta linha de atuação, desde 2004, o INPI mantém um convênio com a Unicamp, por meio do qual são oferecidos cursos na área de propriedade intelectual. No mesmo ano, o INPI também iniciou um programa de capacitação de gestores de tecnologia. “Queremos mudar o quadro de baixo uso das ferramentas de PI no país e capacitar as pessoas a usar o sistema”, explica Rita Pinheiro Machado, coordenadora da Academia de Propriedade Intelectual e Desenvolvimento. Segundo ela, dez mil pessoas já foram treinadas em todo Brasil, a maioria em cursos oferecidos nas universidades. “A partir do ano que vem queremos focar também no público da indústria”, disse Rita.
Desde 2007, a oferta destes cursos na Unicamp é organizada pelo Projeto InovaNIT, da Agência de Inovação Inova Unicamp. Na semana passada, entre os dias 10 e 14, ocorreu o Curso Básico de Propriedade Intelectual para Gestores de Tecnologia do INPI, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Foram oferecidas 100 vagas, prioritariamente para alunos de graduação e pós-graduação, docentes e funcionários da Unicamp. Entretanto, cerca de 200 pessoas se inscreveram. “Isso demonstra o crescente interesse da comunidade acadêmica em entender o que são patentes, marcas, como se dá a gestão e comercialização de tecnologias, conceitos chave no processo de inovação tecnológica”, acredita Patricia Magalhães, coordenadora do InovaNIT.
Segundo Patricia, novos cursos estão sendo planejados para 2008. A programação incluirá o ciclo completo de cursos de propriedade intelectual do INPI: básico, intermediário e avançado. “É a primeira vez na história do convênio do INPI com a Unicamp que ofertaremos o ciclo completo dos cursos em um único ano”, afirmou Patricia.
A coordenadora reforça que os cursos do INPI organizados em 2008 terão por finalidade atender prioritariamente, além da comunidade da Unicamp, demais Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) da região. “Nesse curso de 2007 disponibilizamos 23 vagas para colaboradores de outras ICT. Em 2008 disponibilizaremos ainda mais vagas nos cursos do INPI”, diz Patricia.