| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 385 - 18 a 24 de fevereiro de 2008
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Evento reúne ex-pacientes e equipes transplantadoras
de cinco especialidades do Hospital das Clínicas

Unicamp ultrapassa
a marca de 4 mil transplantes

ISABEL GARDENAL

Mesa comemorativa: a média anual de transplantes no Hospital das Clínicas é de 260 (Fotos: Antônio Scarpinetti)Wilians Correia, 37 anos, voltou a viver com maior intensidade depois que fez um transplante de medula óssea na Unicamp. Passou pelo procedimento no dia 30 de agosto do ano passado e quarta-feira (13), em solenidade no Hospital de Clínicas (HC), recebeu homenagem por representar um marco nos transplantes da Universidade. Wilians é o paciente “4.000”, embora no momento a instituição já tenha ultrapassado em mais de 100 este número. Maria Inês Lima, transplante de fígado, o professor da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) Marco Aurélio Cremasco, transplante renal, e Wilson Pereira do Nascimento, transplante de córnea, foram outros homenageados. O evento reuniu todas as equipes transplantadoras de cinco especialidades do HC.

Primeiro procedimento foi feito em 1984

Engenheiro civil, Wilians precisou do transplante de medula ao descobrir por acaso uma leucemia mielóide aguda. O hemograma apontou células desconfiguradas e, imediatamente, passou a ser tratado em um hospital de Campinas. Foi transferido para a Unicamp a fim de fazer o teste de compatibilidade de medula. Dois irmãos eram compatíveis com ele e lhe trouxeram a esperança da cura. Entre a internação e o pós-operatório, a permanência do paciente no HC durou ao todo 35 dias.

Segundo o paciente, a perda de peso foi uma conseqüência: dos 82kg que pesava, caiu para 69. Wilians já consegue, porém, relativizar o problema e diz que tudo isso valeu. Hoje, completamente curado, sente-se de novo disposto. Casado há oito anos, voltou a sua rotina, que ganha como aditivo a força de vontade para vencer obstáculos difíceis. “A parte mais complicada foi ter que me submeter a três quimioterapias”, revelou. Por outro lado, relatou que a compatibilidade e a qualificação da equipe que o atendeu foram decisivos para ter êxito no procedimento. “Agradeço a oportunidade da vida, de poder continuar junto com a minha família e com os meus amigos para alcançar Wilians, Cremasco, Maria Inês e Wilson: transplantados no HC da Unicamp recebem homenagemmeus objetivos”, manifestou-se.

Dos sete tipos de órgãos e tecidos que podem ser transplantados, o HC da Unicamp não realiza apenas os de pulmão e ossos. É um dos hospitais que mais efetua esses procedimentos no país, situando-se entre os dez do Estado de São Paulo. Na Unicamp, a equipe da Urologia realizou o primeiro transplante renal, em 1984. O primeiro transplante de fígado foi realizado pela equipe do professor Luís Sérgio Leonardi em 1991. O transplante de medula óssea ocorreu em 1993 e o de coração em 1998.

Trajetória - O coordenador-geral da Universidade e hematologista, Fernando Ferreira Costa, pontuou que esse marco representa o trabalho empenhado como hospital universitário. A implantação deste procedimento, segundo ele, fornece à sociedade a oportunidade de tratamento igual ao de outros destacados países. “Oferecemos um dos melhores atendimentos e contribuímos para a formação de RH. Muitas investigações, com geração de conhecimento, resultaram deste atendimento. Sem a dedicação de todos, o sentido institucional não seria aqui comemorado”, frisou.

O superintendente do HC, Luiz Carlos Zeferino, forneceu alguns dados que revelam a importância dos transplantes para um hospital terciário. Disse que hoje a média de transplantes do hospital é de 260 por ano e que 2002 e 2003 foram numericamente os anos mais expressivos dos transplantes – 300, representando 1 transplante por dia.

O superintendente comentou que quando se fala em transplante lembra-se logo da troca de órgãos, mas ele acredita ser mais conveniente realçar todo processo. “Neste final de semana tivemos dois transplantes e um, de rim, não foi compatível. O órgão teve então que ser encaminhado para outra cidade”, contou para exemplificar a logística que envolve para que ocorra o procedimento. “Transplante de órgãos não é item de prateleira. É preciso ter doador e não depende de hospital. Também a disponibilidade de buscar, informar e integrar é algo meticuloso. É uma ação coletiva. Parabéns a todas as equipes”, afirmou Zeferino.

O diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), José Antonio Rocha Gontijo, destacou o papel dos transplantes como mecanismo de estímulo acadêmico. Também incentivou o aparecimento de novas equipes, qualificadas e que dêem maiores chances aos pacientes.

Luís Augusto Pereira, representando a Secretaria Estadual de Saúde, recordou as fortes resistências contra os transplantes nos primeiros anos e a polêmica, até hoje, dos critérios de distribuição. Reforçou em grande medida a falta de formação em recursos humanos nas escolas de Medicina e de Enfermagem, acrescentando que, na Espanha, o tema é uma especialidade e que este deve ser o caminho para o Brasil.

O pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva, relembrou o início dos transplantes no hospital, quando era superintendente do HC. “Fazíamos poucos. Mesmo assim, notamos que era necessária uma estrutura permanente. O hospital não recebia pelo procedimento e ficamos um bom tempo sem credenciamento. Foram 24 anos de dificuldade. Para chegar a este ponto, é preciso mesmo comemorar”, comentou.

Medula - De acordo com o hematologista Cármino Antonio de Souza, em 1994 o Hemocentro começou a fazer transplantes com células-tronco periféricas. O primeiro estudo randomizado do país pareando transplante de medula óssea e com células-tronco foi da Unicamp. “A nossa Unidade de Transplante de Medula Óssea é muito produtiva, com um mediano de 60 transplantes por ano, pagos pelo SUS”, informou.

O transplante é, segundo Cármino, uma ação multidisciplinar e não existe hegemonia profissional neste caso. “Parte de nossos transplantes são feitos no Hemocentro e no HC. Mas ainda temos uma demanda reprimida pela falta de leitos e estrutura para transplantes”. Para o gastrocirurgião Luís Sérgio Leonardi, um dos homenageados por liderar a primeira equipe de transplantes de fígado, existe uma estrutura hospitalar anacrônica que deve, a seu ver, ser corrigida para evitar a divisão de transplantes.

Cármino lamentou que apenas 35% dos candidatos a transplante de medula óssea consigam chegar ao procedimento e que 70% sejam realizados somente no Estado de São Paulo, sendo que o Nordeste não dispõe de uma unidade sequer. “O número de transplantes não poderia ser melhor. Deveria”, esclareceu. Uma curiosidade: cerca de 14 nomes indicados para o prêmio Nobel concedidos à saúde foram para a área de transplante, tal a sua relevância social.

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