O dentista e a medicina legal
RAQUEL DO CARMO SANTOS
É comprovado que o dente constitui um dos elementos mais viáveis para identificação pós-morte de perfil genético de pessoas cujo corpo está em estado avançado de decomposição, dilacerado ou carbonizado. Por isso, o odontologista Leonardo Soriano de Mello Santos defende em sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) a importância de um profissional da área na equipe de medicina legal. “As avaliações utilizando o dente ainda são pouco difundidas no Brasil, em especial porque o dentista está presente em menos da metade das equipes de medicina legal nas capitais. No entanto, trata-se do profissional mais indicado para realizar o processo neste método de identificação”, destaca Santos.
Segundo o cirurgião-dentista, nenhum outro tecido humano é preservado nas mesmas condições em que são encontrados os dentes em acidentes ou no pós-morte. Em eventos extremos, por exemplo, os dentes constituem a única opção viável para a identificação humana. A pesquisa envolveu a análise de dentes de 18 pacientes que cederam também amostras de sangue para que fossem avaliados os dois métodos e estabelecer qual o mais adequado do ponto de vista de eficiência. Foi a primeira pesquisa realizada tendo como parâmetro amostras de pacientes vivos, o que permitiu aferir a eficácia dos resultados.
A pesquisa, orientada pelo professor Eduardo Daruge Junior, ainda descreve o processo pelo qual é possível utilizar o dente como amostra de identificação humana pós-morte. Além disso, serve de referência para outros trabalhos ou para quem tem interesse em seguir na área de Odontologia Legal. Santos argumenta, entretanto, que na existência de outro tipo de material, como sangue, saliva, tecido muscular ou cartilagem, o ideal é que se realize o processo com estas amostras.
O especialista explica que a obtenção do perfil genético a partir do dente é um método extremamente complexo e demorado, sendo adequado em casos extremos. Quando o objeto de análise são as amostras de sangue, o processo é relativamente simples, podendo estar concluído no prazo médio de dois dias. Já no caso do dente, as etapas são mais demoradas e levam em torno de quatro a cinco dias de análises. O estudo foi desenvolvido em dois anos e contou com o apoio da Capes. Para os experimentos, Santos utilizou o laboratório de DNA Forense da Polícia Civil de Vitória, no Espírito Santo.