| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 388 - 10 a 23 de março de 2008
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Estudo da FOP avalia fatores que causam a perda
de dentes em adultos e idosos do Estado de SP


Tese examina causas
da perda da dentição

LUIZ SUGIMOTO

Débora Dias, autora do estudo: "Pessoas com menos anos de estudo têm chances quase quatro vezes maior de ter menos dentes" (Foto: Divulgação)A dentição normal compõe-se de 32 dentes, mas ela é considerada ainda funcional quando preservados pelo menos 20 dentes naturais, com uma oclusão que permita a mastigação e a fala adequadas. O levantamento denominado Condições de Saúde Bucal no Estado de São Paulo, realizado em 2002, apontou que 10,8% dos adultos examinados eram edêntulos (sem nenhum dente), percentual que alcançou 59,9% nos idosos.

Levantamento fundamentou
pesquisa de doutorado

Este levantamento embasou a tese de doutorado de Débora Dias da Silva, apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, sob orientação da professora Maria da Luz Rosário de Sousa. A autora, porém, focou apenas os adultos e idosos que possuíam dentes naturais, no propósito de associar a maior ou menor presença de dentes a variáveis sócio-demográficas, econômicas, de acesso a serviços odontológicos e de autopercepção da saúde bucal.

“Por ter sido uma pesquisa domiciliar realizada em 35 municípios, com critérios metodológicos, ela é representativa do Estado. Coordenada pelo Ministério da Saúde e pela Faculdade de Saúde Pública da USP, dela participaram pesquisadores da FOP e de mais seis faculdades de odontologia. Foram avaliados 1.612 adultos – entre 35 e 44 anos, – e 781 idosos – entre 65 e 74 anos”, faixas etárias preconizadas pela Organização Mundial da Saúde, explica Débora Dias.

Excluindo da sua amostra os edêntulos (174 adultos e 468 idosos), a autora dividiu os indivíduos entre aqueles com 1 a 19 dentes e os que preservavam de 20 a 32 dentes. Dos 1.428 adultos com dentes naturais, 402 (27,9%) apresentavam de 1 a 19 dentes e 1.036 (72,1%) de 20 a 32 dentes. Nos 313 idosos, os percentuais se inverteram, ficando 235 (75,1%) no primeiro grupo e 78 (24,9%) no segundo.

Entre os adultos com até 19 dentes, a média de dentes presentes foi de 11,9 e, no grupo com 20 dentes ou mais, esta média foi de 26,4. Nos idosos, no primeiro grupo a média de dentes presentes foi de 9,5 e, no segundo grupo, de 25.

“Embora esteja bem próximo, o percentual de adultos com dentição funcional (72,1%) não atingiu a meta de 75% da OMS para 2000, sendo que o levantamento foi feito em 2002. Para os idosos, a meta era de que 50% preservassem 20 ou mais dentes naturais, mas apenas 24,9% gozavam desta condição”, observa a pesquisadora.

O levantamento em São Paulo incluiu um questionário abordando aspectos como escolaridade e renda familiar, periodicidade das idas ao dentista, motivo da consulta, necessidade atual de tratamento e opinião do indivíduo sobre sua saúde bucal – mastigação, dicção, aparência de dentes e gengivas, e se tais problemas afetavam seu relacionamento social.

“A presença de mais dentes na boca em adultos está fortemente associada a maior escolaridade, melhor renda familiar, residência na área urbana e, por conta dessas vantagens, a maior conscientização sobre problemas bucais e assiduidade nas visitas ao dentista. As variáveis mostram que pessoas com menos anos de estudos têm chance quase quatro vezes maior de ter menos dentes”, comenta Débora Dias.

Por outro lado, a autora também associou a presença de menos dentes ao fato de ser da na área rural, residir com cinco pessoas ou mais, e a maiores períodos sem ir ao dentista. Neste grupo de adultos, aqueles com menos dentes presentes mostraram-se insatisfeitos com a fala, um problema que também é altamente perceptível para os idosos com grande perda dentária.

Atendimento odontológico na FOP: para pesquisadora, políticas preventivas de saúde bucal poderiam atenuar o problema (Foto: Antoninho Perri)Cárie e edentulismo – O relatório do Ministério da Saúde sobre a pesquisa em nível nacional foi divulgado em 2003, um ano depois ao de São Paulo, estado que apresenta melhor quadro de saúde bucal. Isto é demonstrado por Débora Dias através do índice de cárie. “Dos 32 dentes, os adultos possuíam em média 19 que foram ou eram afetados pela cárie. Desses 19, nove já tinham sido extraídos, equivalendo a 47% de dentes perdidos”.

Já em termos de regiões, os percentuais de dentes extraídos por conta da cárie são de 74,3% no Norte, 71,9% no Nordeste, 61,2% no Centro-Oeste, 57,3% no Sudeste e 61,9% no Sul. “No caso dos idosos, não há diferenças no panorama nacional, registrando-se percentual de dentes perdidos acima de 90% em todo o país”.

Embora a condição socioeconômica influa decisivamente para este quadro, a pesquisadora atenta para a necessidade de políticas de conscientização da população sobre a importância de cuidar da saúde bucal. “Deste trabalho de conscientização não devem escapar os próprios profissionais, pois temos de atuar para o controle da doença, evitando extrações e priorizando o trabalho de manutenção dos dentes”.

Segundo a autora, outros trabalhos na literatura denunciam as extrações dentárias como prática odontológica hegemônica para aliviar a dor, principalmente em populações de baixo nível socioeconômico. Em 1986, estimava-se que 10% da população brasileira aos 34 anos de idade era edêntula (sem dentes), índice que subia a 30% aos 48 anos.

O edentulismo é prevalente em idosos de várias partes do mundo, com percentuais de 11% a 44%, que crescem quanto menor a condição socioeconômica. “A perda de dentes ainda é vista por muitos como uma conseqüência natural do envelhecimento. Mesmo em países industrializados onde houve declínio da perda dentária em adultos, a proporção de edêntulos com idade acima de 65 anos permanece alta”.

No Brasil, apurou-se no último levantamento nacional que 5,8% dos idosos nunca foram ao dentista; dentre os que foram, 65,7% não consultavam um profissional havia mais de três anos. Na Suécia, pesquisa com idosos em 2004 mostrou que 96% deles visitavam o dentista regularmente. Outro estudo de 2004, nos Estados Unidos, indicou que 71% dos idosos tinham ido ao dentista no último ano.

Na opinião de Débora Dias, o edentulismo deve ser encarado como reflexo da falta de políticas preventivas de saúde bucal destinadas à população adulta, visando à manutenção dos dentes até idades avançadas. “Espero que os adultos entrevistados nesta pesquisa, quando chegarem aos 65 anos de idade, estejam com a dentição preservada”.

Maioria desconhece serviço odontológico prestado no SUS

Muita gente das camadas sociais mais baixas desconhece que o SUS oferece serviços odontológicos na maioria dos municípios do Estado de São Paulo. Ou que o governo vem implantando centros de especialidades onde o cidadão recebe um atendimento não encontrado em unidades básicas, como tratamento de canal e próteses.

“Atualmente, vem sendo reestruturado o Programa Saúde da Família (PSF), com a contratação de mais dentistas. Cada dentista fica responsável por parcela da população de uma região, conhecendo melhor a realidade para poder mudá-la. É uma estratégia que tem se mostrado eficaz em várias cidades”, informa Débora Dias.

A pesquisadora reconhece o esforço do governo para melhorar as condições de saúde bucal no país, havendo um representante da área de odontologia no Ministério da Saúde. No entanto, ela sugere que se priorize a informação e a educação, demonstrando a importância de uma boa dentição para a qualidade de vida. “Há pessoas que não sabem o que é uma escova de dente e muitas outras que não têm como comprá-la”.

A autora da tese lembra que a falta de dentes não é apenas um problema funcional – que prejudica a fonação e a mastigação – mas também de implicações sociais e psicológicas, visto que envolve a estética. “Infelizmente, muitas pessoas ainda não conseguem dar o devido valor à saúde bucal, separando a boca do corpo, como se não fizesse parte da saúde geral”.

A propósito, Débora Dias também menciona aqueles que só procuram o dentista quando sentem dor. “Num serviço público, a demanda obviamente é grande e, mesmo sendo informada de que precisa de um tratamento de canal, a pessoa não vai enfrentar a lista de espera ou por ele. Vai preferir que o dentista extraia o dente”.

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