Quando não tratado, o diabetes desregula o controle hormonal da reprodução masculina e afeta o sistema nervoso autônomo, podendo levar a uma disfunção sexual e, conseqüentemente, à infertilidade. Estas constatações foram feitas pelo biólogo Davi Abeid Pontes em sua dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Biologia (IB). A pesquisa, feita em ratos machos, descreve os mecanismos de ação que levam à associação da infertilidade com o quadro diabético. “Minha motivação para o estudo foi o alto índice de brasileiros com diabetes que não sabem que estão com a doença. Por isso, resolvi estudar as relações entre as patologias”, explica o biólogo, que foi orientado pela professora Wilma De Grava Kempinas.
Pontes destaca que os estudos sobre a relação entre o diabetes e a infertilidade não relacionavam os fatores hormonais, de ejaculação e problemas nos testículos e outros órgãos reprodutores, interligados entre si. Enquanto alguns estudos experimentais apontavam para um determinado fator, outros privilegiavam os distúrbios hormonais. Neste sentido, a pesquisa abre pistas para várias investigações futuras das ligações entre os mecanismos. Essas pistas poderiam gerar, inclusive, propostas de terapêuticas para infertilidade oriunda de doenças como o diabetes e também àquelas relacionadas a distúrbios metabólicos.
O principal achado da pesquisa financiada pela Fapesp será publicado em revista científica e refere-se ao sintoma da degeneração gradual do sistema nervoso autônomo que ocorre com a insuficiência da insulina. Segundo Davi Pontes, este processo estaria ligado diretamente ao controle da ejaculação. Os testes feitos em dois grupos de animais, um considerado como controle e outro, contaminado com a doença, demonstraram a dificuldade dos ratos doentes na ejaculação. “Quando cruzamos os machos e fêmeas, fizemos as contagens de espermatozóides. No grupo controle, o volume estava normal, enquanto que nas fêmeas que cruzaram com os ratos diabéticos não constatamos nenhum espermatozóide. Isto significa que os machos não conseguiram ejacular”, argumenta.
Pela pesquisa, realizada na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Botucatu, o biólogo observou ainda que a reposição de testosterona tratamento indicado em outros casos de infertilidade não modificou o quadro de desregulação do sistema hormonal que controla a reprodução. Como o diabetes promove a diminuição da produção de testosterona, a idéia era que, ao proceder a reposição, haveria uma recuperação deste quadro hormonal, o que não ocorreu. Pelo contrário, em alguns casos, até piorou a condição do animal. Por outro lado, Pontes observou que a reposição exógena de hormônio melhorou o peso da próstata e da vesícula seminal, órgãos do sistema genitor masculino também degenerados no desenvolvimento do diabetes.
As técnicas utilizadas para os testes foram contagens de espermatozóides, dosagens hormonais, análises histológicas, análise do comportamento sexual e ensaios in vitro para avaliar o quanto o ducto deferente órgão reprodutor masculino contrai no processo de ejaculação.